A festa era no teatro do navio, estavam todos muito bem vestidos e foi nesse momento que eu agradeci mentalmente o Diego por ter me ajudado a escolher o meu vestido. Ao entrarmos, todos pareciam olhar para nós, dos pés a cabeça. Didi foi cumprimentando a todos que conhecia com a cabeça educadamente enquanto descíamos a escada. Quando finalmente chegamos ao centro, um homem que aparentava ter uns 40 anos, vestido elegantemnte com seu terno veio nos cumprimentar.
- Ora, ora! Quem está aqui... - disse entre o aperto de maõs - Diego, nunca pensei que viria a uma festa tão bem acompanhado! Qual o nome desta linda dama?
- Meu nome é Angelina, prazer - ele alcança a minha mão e a beija delicadamente.
- O prazer é todo meu! Sou Ricardo. É nova por aqui? - pergunta curioso.
- Sim, cheguei hoje.
- Oh, espero que esteja gostando do seu mais novo trabalho - diz gentilmente.
-Estou sim. Muito obrigada!
- Ah sim, não posso esquecer de lhe apresentar uma pessoa! Ele conhece o navio melhor do que eu! Vai adorar fazer um tour com você! Espero só um minutinho... - diz e então sai a procura de alguém.
-Quem é esse Didi? - pergunto assutada.
- Você, minha cara Angelina, acaba de conversar com o verdadeiro e único capitão dessa máquina - diz olhando ao redor.
Fico completamente boquiaberta.
- Como assim? Ele é o capitão?
- O próprio! - diz rindo da minha reação.
- Deus... Será que ele gostou de mim? Eu passei a impressão errada? - pergunto preocupada.
- Angel, calma! Você foi perfeita! Estou começando a achar que ele está apaixonado por você. Nunca tratou ninguém assim. Começou bem gata!
- Nossa - digo rindo - Obrigada!
- Aqui está ele... - capitão diz arrastando alguém pelo braço.
Quando me virei para ver quem era, meus olhos não acreditavam. Minhas pernas bambiaram e por um momento esqueci da existência de todos ao meu redor.
-Angel! Angel! - Didi me abanava com um paninho enquanto segurava um copo com água. Estava deitada em seu colo e havia um círculo de pessoas ao nosso redor.
- O que... O que aconteceu - lentamente retomo a consciência.
-Aí garota! Graças a Deus! Achei que tinha morrido! Quase me matou do coração! - diz aliviado - Você desmaiou e ficou pálida igual uma parede!
- Aí Deus... - digo envergonhada - Você me leva de volta para minha cabine, por favor?
- Claro, amora!
Peço desculpas a todos pelo transtorno e os tranquilizo dizendo que estou bem. Olhos assutados e outros compreensivos me seguiam pelo salão.
- Desculpa ter que te tirar da festa... - digo cabisbaixa.
-Não tem que me pedir desculpa por nada, meu bem! Eu estou aqui pra estas coisas! - diz sorrindo para mim - Mas agora, quer me dizer, pelo amor de Deus, o que aconteceu?
Olho para os meus pés envergonhada e depois viro-me novamente para Diego.
- Aquele homem que o capitão ia me apresentar... - digo com certa hesitação.
-Sei, o Gabriel. Mas o que que tem ele? - pergunta curioso.
- É, o Gabriel... Eu... Eu já o conhecia - digo tristemente.
-Já conhecia o Gabriel? Como? - perguntou sem entender - Espera, mas por que já conhecer ele foi o motivo do seu desmaio?
- Porque ele foi... Foi a primeira e a única pessoa por quem eu me apaixonei.
A boca de Didi se abre em um perfeito "o" e começa a andar de um lado para o outro da cabine.
-Meu Deus,Angel! Você só se apaixonou um vez? E foi por ele? - pergunta assustado - Como? Quando?
- Calma, uma pergunta de cada vez! - faço-o parar de falar - Sim, até hoje eu só me apaixonei uma vez. E sim, foi por ele, infelizmente. Bem, tudo isso aconteceu na primeira vez que eu vajei de navio. Nós curtimos o dia inteiro no navio, então descobrimos que teria um teatro a noite. Nos arrumamos e fomos antes do jantar. Lembro-me como se fosse hoje... Nos sentamos na primeira cadeira, bem de frente para o palco e quando começou, lá estava ele, muito bem vestido em um terno, se apresentando a todos como o mais novo mestre de cerimônias. Não sei dizer o que aconteceu, eu só... senti. O meu mundo parou e eu senti meu coração batendo mais forte e mais rápido. Não sei explicar, eu acho que foi amor a primeira vista,sabe? Eu tinha apenas 15 anos e naquele momento eu finalmente senti o que as pessoas falavam que era amor. Tudo o que eu havia lido nos livros de romance, nos filmes... Tudo passou a ter sentido.
Então, todas as noites eu chegava praticamente uma hora antes no teatro para poder pegar o lugar da frente. E então, um dia eu tomei coragem e fui pedir uma foto pra ele depois do show. Ele deixou e foi super gentil comigo. Tirou uma foto abraçado comigo.
Até hoje eu guardo essa foto comigo...
Mas voltando... Então, um dia antes de desembarcarmos eu fiz uma carta pra ele, disse o quanto admirava ele e o seu talento. Falei que eu também cantava e que tinha o sonho de cantar um dia com ele e que esperaria o quanto fosse necessário para que isso acontecesse. Não mencionei em nenhum momento que estava apaixonada, até porque nem eu entendia o que eu estava sentindo direito. Esperei o segundo teatro terminar e fui a procura dele depois do espetáculo para entregar. Quando eu finalmente encontrei ele, lembro-me de sentir um frio na barriga e uma sensação estranha dentro de mim. Entreguei a carta pra ele e ele lógico agradeceu, mas como eu estava morrendo de vergonha, disse a ele para que não lesse naquele momento, na minha frente. Ele concordou e se despediu de mim, colocando aquele pedaço de papel, tão importante pra mim, dentro do bolso.
Naquela mesma noite, eu me encontrei novamente com ele sem querer e me enchi de esperança de que ele já tivesse lido e falasse algo pra mim. Mas não aconteceu, ele simplesmente me comprimentou com a cabeça enquanto passava por mim. No outro dia, enquanto esperávamos a nossa chamada para o desembarque, eu tinha uma enorme esperança de que ele estivesse louco me procurando para poder falar comigo após ter lido a carta. Mas também não aconteceu, eu nem sequer vi ele no dia do desembarque. Aquilo me machucou de tal maneira que eu não conseguia explicar tamanha dor. Meu coração estava deslacerado. E depois, minha família não quis mais viajar de navio, então nunca tive a oportunidade de reencontrá-lo e nem de saber o que aconteceu....
- Oh amor, vem aqui! - diz com os olhos marejados me abraçando.
-Eu estou bem, não se preocupe - digo sorrindo tristemente - Essa história me abalou durante muito tempo, mas agora... Acho que já me acostumei com a dor.
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Sob o mar
RomansaDurante muitos anos, Angelina sonhava em trabalhar em um navio desde que viajou pela primeira vez com a sua família. O mar, as ondas, a calmaria... Tudo a encantava de tal forma que sentia como se sempre pertencesse aquele lugar. Quando finalmente c...