Um Estranho Sentimento chamado Amor

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A espécie humana vem evoluindo desde o início de sua existência, não importando se esta se deu de um ser divino ou da simples evolução de uma ameba no fundo do oceano. Talvez, como instinto de sobrevivência - o que provavelmente mais nos aproxima dos animais -, mas foi este instinto que nos fez evoluir e chegarmos aonde hoje nos encontramos, com toda nossa complexidade.

É certo que, em mais de cento e cinquenta mil anos de existência, surgiram alguns momentos cruciais para nossa espécie. A descoberta do fogo, as primeiras pedras e pedaços de pau usados para se defender ou atacar, a utilização de cavernas como abrigo e proteção, a invenção da roda, a agricultura, as primeiras tribos, civilizações...

Conforme viemos evoluindo, mais complexos fomos nos tornando, mais problemas surgiam e mais soluções eram criadas, em um ciclo até hoje aparentemente interminável. Talvez, não fosse necessário eu ir tão longe para expor o que pretendo dizer, mas vamos chegar lá.

Nos últimos dois mil anos, surgiram centenas, milhares de religiões, cada qual com seu único ou suas dezenas de deuses. Impérios caíram e se levantaram pelo poder da espada e do fogo. Nasceram e morreram tiranos, heróis, libertadores, mártires, entre outros coadjuvantes desta Comédia (Divina?). Para alguns, houve um período em que vivemos nas trevas, na escuridão. Eu não tenho tanta certeza disso.

Com o século XV, vieram as grandes navegações e, com elas, a busca de um Mundo Novo (Admirável?). E não é que existia esse tal de Novo Mundo?! É, mas não contávamos que ele já tivesse seus próprios habitantes. Isso não foi legal. O que esses intrusos estão fazendo no nosso mundo novinho? Não me lembro de exatamente quem se autoproclamou dono de tudo para poder repartir entre os seus, mas foi feito.

Bem, ainda não chegamos lá, mas estamos perto. No século XVIII começaram as grandes transformações de verdade. Viva a Revolução Industrial! Viva a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade! Tornamo-nos seres "Iluminados". Bem, talvez ainda não todos nós, mas, eis que, depois disso, também nos revoltamos em vários lugares, e, em alguns, ou era Liberdade ou Morte. Assim foi feito e, também, não foi barato (em todos os sentidos). Então, descobrimos que quem apanha nunca esquece e que, quando não conseguimos enfrentar nossos agressores diretamente, escolhemos alguém para culpar pelo peso da cruz que carregamos, e, às vezes, quem está perto de nós é quem mais sofre. Assim, entramos em guerra, mundial, uma segunda vez.

Bom, na verdade, eu demorei um pouco mais para entender, e, então, um dia "I have a dream", e, mais uma vez, estávamos livres para consumir tudo que quiséssemos, ou melhor, pudéssemos pagar. Ah, é verdade. Há muito tempo, achei que eu deveria ter mais do que me fosse necessário, mas os alimentos e os metais, ou estragavam ou ocupavam muito espaço. Então, tive que ser prático e inventar algo simples com um valor imaginário, que não se encontrava na natureza, e dei-lhe o nome de "dinheiro".

Agora, eu queria mais, porém o quê, exatamente, ainda não sabia. Só sei que vi que poderia criar coisas para facilitar minha vida, como máquinas para fazer o meu trabalho, podendo, assim, eu me dedicar às coisas mais simples da vida. Talvez, quem sabe, balançarmos o esqueleto? "Do you wanna dance? " Quantas coisas maravilhosas surgiram! Eu já podia me movimentar mais rápido, falar com pessoas a quilômetros de distância, ouvir e ver histórias emocionantes. Mas eu queria mais, na verdade, eu sempre quis mais.

Com todas as minhas invenções, as coisas começaram a acontecer muito rápido, mais rápido do que imaginava. As cartas que escrevia demoravam para chegar. Então percebi que as máquinas que inventei poderiam ser utilizadas para tal e para mais um monte de coisas que mudariam minha vida para sempre. Não preciso dizer que, com tanto trabalho, acabei me afastando de meus amigos, parentes, vizinhos... Quem são estes seres que moram ao meu lado, em cima, em baixo, em todos os cantos? Preciso conhecer pessoas novas, ou melhor, as que penso conhecer. Quem sabe deixar que descubram um pouco de mim também. Não deve fazer mal saberem a que horas acordo, vou dormir, etc.

Mas há algo me incomodando. Não sei por quê, mas me sinto tão só em meio a esta multidão. Tenho tantos amigos. Tudo bem que alguns eu nunca vi pessoalmente, mas isso importa? Conheço-os tão bem, eu sou capaz até de me apaixonar por eles. Apaixonar... Não sei por que disse isso, algo tão fora de moda, tão antiquado. Não existe mais amor. As pessoas se conhecem, casam, alguns têm filhos, mais da metade se separa porque alguma coisa não deu certo, e vão seguindo a vida. A fila anda.

Penso que coisa chata deveriam ser os relacionamentos de antigamente. O que faziam tanto tempo juntos? Será que não enjoavam uns dos outros? Em uma breve pesquisa, descobri que as pessoas saíam para se divertir, ficavam à porta de casa conversando, interagiam umas com as outras fisicamente, se abraçavam, passavam momentos realmente juntas. Não existiam "fakes", identidades secretas, ou, se houvesse, não duravam muito. Tínhamos de ser verdadeiros, empre presentes, havia mais verdade, mais sentimento. Para que tanto sentimento? Expor-me para outra pessoa? Deixar com que conheça meus defeitos, minhas fraquezas, meus anseios, meus sonhos? Acho melhor não. Prefiro manter uma distância segura.

Disseram-me uma vez, que o Amor moveu o mundo, que tudo o que temos hoje, só o temos porque lá no começo, as coisas eram feitas por Amor, que, às vezes, levava ao ódio, mas sempre tendo o Amor como base. Quem seria o louco que trabalharia, lutaria, viveria ou até morreria por Amor? Por que uma pessoa cederia parte de seu tempo tão precioso para simplesmente estar com alguém? E quem se deixaria enganar por tal sentimento? Alguém seria capaz de, tendo uma fortuna, dá-la por inteiro movido por tal efemeridade? Não posso acreditar que teríamos tudo o que temos hoje se as pessoas de antigamente fossem movidas por sentimento tão paradoxal e contraditório, como é o Amor.

Em algum lugar, li que um homem, um tal de Camões, tentou explicar tal sentimento. Seria belo se não fosse apenas poesia. Talvez, aí sim, o Amor resida em sua essência, nas poesias, nas canções, artes cênicas e manifestações criadas por nossa espécie para ludibriar, entreter e por que não, desvirtuar nossa sociedade? Segue para que vejam que não estou mentindo:

"Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar- se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? "

Quem se importa com tal sentimento? Quem quer sentir isto? Posso imaginar como os casais enamorados recitavam poesias como esta, ou gravavam "fitas" com canções para dar de presente. Ficavam trocando bilhetes amorosos, cartas apaixonadas. Ainda bem que hoje é tudo tão artificial, tão prático. Sou capaz de iniciar e terminar um relacionamento on-line, sem nunca ter a necessidade de me encontrar com a outra pessoa.

Será que nossos ancestrais ficavam em volta da fogueira, cantando, dançando, bebendo, ou até mesmo apenas abraçados se aquecendo e olhando a lua, as estrelas? Talvez eu nunca vá entender o porquê de tudo isso, a necessidade de tal coisa, mas não me importo. Enfim, voltou aquela sensação estranha que estava sentindo. Deve ter sido a comida transgênica que pedi. Então vou terminando por aqui. Afinal, sei que vocês também não se importam com esse estranho sentimento chamado Amor.

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