O melhor roqueiro que já conheci.
Eu tinha mais ou menos 8 anos e você devia ter seus quase 20; você andava todo de preto, calça preta, blusa regata preta, bota preta, cabelo ate os ombros. Eu te achava o máximo. Você curtia rock mais que tudo e era muito fechado.
Você não vinha muito na casa da sua tia, só quando era pressionado pelos pais e pelo seu irmão; ah, o Samuel. Ótima pessoa, brincalhona, conversador, mas se arrasta demais, fala de mais e na maioria das vezes fala o que não deveria.
Já você, sempre foi o quieto, mas sempre era dado como o louco da família. “aquele lá? Tá trancado no quarto escutando aquelas musica de louco.” E ainda assim, você era melhor que eles.O tempo foi passando e você foi aparecendo cada vez menos. Naquele tempo eu nem sabia o que era paixão ou amor, mas eu te achava lindo e falava que você seria meu namorado.
6 anos depois você apareceu, você veio na casa da sua tia e eu estava lá e quando te vi não te reconheci, mas quando você falou, eu tive certeza que te conhecia, pois o modo arrastado e sossegado de falar não havia mudado. Você estava mais forte, mais arrumado, o cabelo cortado e estava de roupa social. Eu nunca tinha te visto daquele jeito. Onde estava a camisa preta? E o cabelo comprido? As botas de cano longo tinham sido trocado por um sapato bico fino.
E eu senti saudades. Saudades das suas roupas e estilo despojado. Do cheiro de perfume barato misturado com cigarro e maconha.
E enquanto você falava da sua vida com a sua tia, eu tive um rápido flashback; eu na sala da casa da tia, pintando palitos com a sua cunhada, eu estava de frente para a janela e isso me dava visão de onde você estava, perto do portão, olhando para rua, fumando, você aparentava estar tranquilo, mas o modo como você olhava de um lado para o outro, significava que estava apreensivo. Eu me lembro dessa cena como se tivesse acontecido há poucos dias atrás.
Fiquei sabendo que você havia aberto um salão de cabelereiro e resolvi marcar um horário. Quinta-feira as 10:30 a.m .Fui sozinha e ao chegar lá, te vi varrendo o chão. Você estava com uma calça jeans de lavagem escura, blusa azul e um tênis esportivo. Começamos a conversar e como agora você é Testemunha de Jeová, pensei que só falaríamos das bênçãos de Deus; mas eu estava errada. Conversamos sobre tudo e quando você falou que ia por uma musica, achei que seria daquelas chatas e eu estava errada novamente. Você colocou um rock super pesado e ficamos ali curtindo. Enquanto você passava chapinha no meu cabelo, eu me lembrei do que minha tia havia dito você ia ficar noivo ainda naquela semana. Eu me admirei e ao chegar ao seu salão e ver fotos de você e de sua namorada, eu fiquei imaginando eu no lugar dela. Como seriamos felizes e se a sua mãe me aceitaria. Quando você foi arrumar meu cabelo, seus dedos tocaram a minha nuca e meu corpo reagiu, arrepiando-se instantaneamente. Não sei o porquê, mas eu senti.
E gostaria de sentir muito mais do que só a sua mão na minha nuca.
“O castanho dos seus olhos é mais profundo que o azul do mar.”
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Drunk
Короткий рассказQuase bêbada, quase amada, quase completa. Um relato sobre pessoas que passaram na minha vida e marcaram de alguma forma. Nada real, nada funcional, apenas desejos, paixões momentâneas; uma quase biografia, uma quase vida. Um poço de incertezas