Capítulo 5

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Mariana, quase que por milagre, acordou disposta no primeiro dia de aula. Em geral, arrastava-se da cama, zumbizava pela casa em busca de comida e depois ia dormindo no carro até a escola, onde o pai tinha de chacoalhá-la porta afora. Hoje, porém, quase nem dormiu de tanta ansiedade. Muitas novidades a esperavam no Colégio Santa Inês.

Para começo de conversa, assumiria definitivamente o Grêmio Estudantil. Muita responsabilidade, ela nem saberia por onde começar. Ainda bem que a sua chapa era de gente bacana que, com certeza, ia ajudar muito e fazer várias melhorias na escola.

Além disso, era o primeiro dia de aula de DarkSideGeek. Ela tinha esperança de reconhecê-lo facilmente pelos corredores. Imaginava um cara bonitinho, de óculos de aro grosso, mochila descolada com bottons de Star Wars. Mas, de fato, não sabia absolutamente nada a seu respeito. Poderia ser qualquer um. Em todo caso, achava que seria divertido procurar por ele.

E, para completar o dia, era também o retorno de André ao Colégio Santa Inês. Sempre ele. Agora, como professor de Sociologia. Somente Deus sabia como ela iria conseguir se concentrar no conteúdo tendo André como professor. Já era difícil se concentrar com ele na mesma escola, imagina na mesma sala? Ela sabia que ia se perder em pensamentos e sonhos nas primeiras palavras do rapaz e só acordar quando ele dispensasse a turma.

Isso, claro, ia acontecer justamente no ano do vestibular. Ela achava que já tinha problemas suficiente com o vestibular para ainda enfrentar mais esse. Não fazia ideia do que escolher. Pensou em Direito, Artes Cênicas, Letras, Arquitetura, Cinema, Economia e Ciências Sociais, mas ainda não se decidira. Enfim, cansada de pensar a respeito resolvera-se: ia acabar fazendo uni-duni-tê e vendo no quê que dava.

─ Mari! – Felipe correu para abraçá-la e para fazer estalar um beijo no rosto dela. – Que saudade de você, sua maluquete!

─ Também estava com saudades de você. – Retribuiu o abraço e o beijo. – Só não reclamo mais porque você é o cara mais ocupado que eu conheço. Foi só impressão minha, ou o senhor vai mesmo competir nos Jogos Pan-americanos deste ano?

─ Viu pela televisão, foi? – Felipe abriu o sorriso, ainda não estava acreditando que conseguira o tempo para a competição com tão poucos meses de treinamento.

─ Vi sim. Só faltei morrer de orgulho. Meu amiguinho do coração nadando pelo Brasil nos Jogos Pan-americanos, quem diria?

─ Se você ficou orgulhosa, imagine eu? – Milena veio por trás dos dois e abraçou o namorado. – Chorei de alegria vendo você no pódio, meu amor. – Felipe beijou Milena com paixão. E nesse meio tempo, o sinal da primeira aula tocou.

***

Ao entrar na sala, todas as cadeiras ainda estavam vazias, as pessoas se demoravam lá fora conversando sobre as férias, Mariana percebeu um embrulhinho diferente na carteira que costumava se sentar sempre.

Era uma caixinha de madeira cheia de chocolates finos no formato de coração, em cima da caixa havia um aviso "para a garotinha ruiva desta sala". Debaixo dela, um envelope. No canto do envelope, letras bem marcadas e a assinatura: DSG. Dentro do envelope, um poema:

"Nega-me o pão, o ar,

A luz, a primavera,

Mas nunca teu riso,

Porque então morreria."

Ele estivera ali. Mariana sorriu.

***

Depois da aula de Dona Geovana de Geografia, tinham um tempo livre. Dona Cecília não conseguira encontrar ainda um professor de Espanhol para o terceiro ano. Todos os anos, algo acontecia e era preciso trocar o professor dessa disciplina. Dessa vez, a professora, Dona Meire, passara para o doutorado em Barcelona, não podia simplesmente recusar. Infelizmente, o resultado saiu em cima da hora e ela teve de deixar a diretora do Colégio Santa Inês na mão.

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