Dividindo os Mesmos Gostos

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[Abril de 2010] O Leon lançou um vídeo no canal de games. Finalmente! Eu, claro, fui a primeira a assistir. Sentia a falta da voz dele. Não aparece a imagem do Leon. Apenas a voz.

Ele me falou que arranjou um jeito para gravar uma.. "gameplay", como é chamado. Ele teve que hackear o vídeo-game portátil que ele tem.

-- E teve que apagar os seus jogos? -- Perguntei, em meio a uma vídeo-conferência. -- Mas você não gosta deles?

-- Eu gosto, Nilce. -- Respondeu -- Porém eu não apaguei o que tem no PSP. Não daquele jeito que eu naquela vez que eu fui assistir aquele filme que você gosta, na última vez que viajei para o Brasil.

Eu me lembro disso. Ele veio de um modo tão fofo, dizendo que ele assiste as mesmas coisas que eu, que nem tive coragem de dizer que não gosto tanto daquele filme assim. O Leon sabe me agradar.

-- Nilce. -- Leon me chama, interrompendo os meus pensamentos. -- O que foi?

-- Nada. Só estou lembrando do dia que você me falou que fez isso. Achei tão romântico!

Leon sorri.

-- E foi. Esta era a intenção, meu bem. Queria que você soubesse que eu gosto das mesmas coisas que você.

-- Oh, meu bem... -- Definitivamente não poderei dizer nada... A não ser que... -- Será que eu posso fazer algo desse tipo con você? Eu poderia tentar jogar algum.. vídeo-game seu.

-- Ô Nilce... -- Não dá para descrever a reação dele. Só sei que ele deve ter adorado a minha ideia. -- Eu não sei se você vai gostar. Pelo o que te conheço - E já tive bastante tempo para isso - você não parece ser uma mulher que gosta de jogar.

-- Não duvide de mim, pessoa de pouca fé! -- Não acredito que falei isso. Bom, agora eu sei como ele se sente -- Pois saiba que eu joguei muito Atari quando criança!

-- Sério? -- Disse Leon, surpreso -- Então, eu adoraria te ensinar a jogar alguns jogos. Inclusive tem um que deve chegar a versão alfa aqui em breve, que você tem que construir uma casa e sobreviver naquele mundo, quebrando blocos, minerando, matando bichos... Eu acho que você iria gostar.

Ele parecia uma criança empolgada, enquanto falava. Eu espero que eu não me arrependa.

-- Que bom, meu amor! Você me ensina quando se mudar para cá. Até lá, o preço deverá ser mais acessível. Afinal, se o jogo é novo, deve custar caro.

-- Ok, meu bem.Vou segurar por um tempo. -- Disse, mantendo a empolgação. Ele realmente quer fazer isso? -- Eu ainda tenho que testá-lo. Talvez eu faça um vídeo no futuro, eu não sei. Mas tem outros jogos interessantes. Depois eu te mostro... E Nilce!

-- Fala, Leon. -- Respondi, enquanto o meu pensamento fluía sobre esta ideia.

-- Eu te amo. Muito.

Ah, isso foi inesperado.

-- Também te amo, Leon. Volte pra casa logo, tá?

-- Tá bom, Nilce. Eu também sinto a sua falta. E você poderia me visitar, as vezes.

-- Leon, você sabe que eu não saio muito de casa. Quanto mais viajar para a Alemanha.

-- Tudo bem, então. -- Ele parecia melancólico ao dizer isso. Se pudesse, o beijaria, mas ele não está aqui. -- Sinto a sua falta.

-- Eu também. -- Por que o tempo não passa logo?

-- Tchau, meu bem.

-- Tchau, meu amor.

Bom, agora eu tenho algo para pensar. Será que eu poderia gostar das coisas que ele gosta? Tudo bem que nós dividimos os mesmos gostos em filmes, series, e também dividimos as mesmas opiniões sobre os assuntos que eu ouço no meu trabalho. Mas será que isto poderia dar certo? Eu poderia jogar com ele? Afinal, mulheres adultas não jogam vídeo-game... Jogam?

Diário de Nilce Moretto - 2010Onde histórias criam vida. Descubra agora