Capítulo 2.2

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A louça do café da manhã ainda estava dentro da pia esperando para serem lavados quando cheguei do trabalho, mas, primeiro era necessário afundar meu corpo em uma banheira com água quente. Quando senti estar bem relaxada desci até a cozinha envolvida por um roupão e lavei a louça.

Meu celular tocou anunciando que estava recebendo uma ligação, pensei que talvez fosse do prefeito ou de Meirlyane. Procurei por ele mas, não o encontrava em lugar algum. Paralisei o corpo e fiquei quieta como estátua. O som vinha do banheiro. Claro, havia colocado músicas para ouvir enquanto tomava banho. Caminhei sem pressa e o peguei em mãos. Me olhei no espelho enquanto atendia o celular.

— Pronto.

— Oi, filha! Conseguiu falar com o prefeito? — a voz da minha mãe soou dócil. Naquele momento, o que eu menos queria era falar sobre esse monstro abominável então, soltei um suspiro pesado e destranquei a primeira gaveta do armarinho do banheiro.

— Não. Mas, ele não me escapa! — segurei o celular com o ombro enquanto colocava pasta de dentes na escova. — Aquele playboy riquinho não vai conseguir o que quer.

— Ai, ai, tenha paciência, querida! Por quê não tenta falar com esse homem primeiro? — acabei deixando a tampa da pasta cair no chão.

Argh! De jeito nenhum. Quero distância daquele troglodita, imbecil, grosseiro! — me abaixei irritada e peguei a tampa. Guardei a pasta em seu devido lugar e comecei a escovar os dentes. — Tinha que ver... Cheio de pose. Esnobe. Um mauricinho!

Fiz caretas enquanto falava. Cuspi a pasta na pia e enchi minha boca de água para enxaguar. Minha mãe havia decidido ficar muda ao telefone, não sabia dizer se isso era bom ou ruim.

— Nunca ouvi você falar desse jeito sobre alguém. Nem mesmo Jaqueline a tirou do sério como esse homem fez, você o conheceu?

— Que diferença isso faz? — rolei os olhos. Abaixei o shorts molinho que eu havia colocado após o banho e me sentei no vaso sanitário para fazer xixi.

— Não, nenhuma.

A forma como ela respondeu me fez crer que sim, tinha alguma coisa ali e eu não estava capturando a essência daquela pergunta. Ouvi ela soltar um suspiro e logo uma voz masculina apareceu mais ao fundo. Meu pai, claro!

— Não consegue falar com ele?

— Nem o ser mais passivo conseguiria conversar com ele, vai por mim. — dei a descarga enquanto usava um pedaço do papel higiênico. Subi o shorts e tirei o celular do ouvido para ver as horas. 19h07min. — O que o pai está fazendo?

— Tentando instalar a nova antena. — riu. Sua risada me fez sentir saudades da época que morávamos juntos. — Mas, você sabe o quanto esses aparelhos e seu pai se amam.

— Só não deixe ele subir no telhado, hein. — ri junto dela.

Deixei o banheiro indo até meu guarda roupas escolher o que usaria nesse jantar e não tinha a menor ideia, queria pedir ajuda à minha mãe só não sabia se isso deixaria dona Maria em êxtase ou a enfartaria.

— Não deixarei. Escondi as escadas.

— Mãe, se a senhora fosse a um jantar com seu amigo, que roupa usaria? — tentei jogar o verde para colher o maduro mas, o problema é que todas as mães conhecem muito bem os seus filhos.

— Você tem um encontro? — sua voz havia atingido um timbre agudo que eu achava não ser possível existir.

— É só um jantar de amigos. — sorri de canto.

O sonho da minha mãe era ser avó, acho que no fundo, esse é o sonho de todas as mães. Por isso, ela ficava frustrada em saber que eu me importava mais com os personagens de livros do que com namorados verídicos. Ela não entendia que o homem que eu procurava para mim, existia só em histórias inventadas.

— Amigos, né? — poderia jurar que ela estava com seus olhos semi cerrados, como se não acreditasse no que ouvia. — O jantar vai ser em um lugar formal?

— Restaurante Plaza! — respondi com pouco interesse. Ouvi ela soltar um leve grunhido do outro lado da ligação e em seguida desatou em falar.

— É aquele restaurante de gente rica, não acredito! É naquele condomínio fechado na saída da cidade, que chique! Tem certeza que são amigos? Esse não é lugar de levar amigo para jantar, filha.

— Qual o teu problema? — questionei um pouco perplexa. — Como sabe da localização desse restaurante, dona Maria?

— Olha, os pobres tem o direito de bancar o rico uma vez na vida. — riu. — Ainda tem aquele vestido vermelho que te dei?

— Muito chamativo. — retruquei.

— Imagina. Fica lindo em você, usa ele.

— Não, mãe. Ele tem um decote muito... Vulgar. — peguei o tal vestidos em mãos.

Ainda não o havia usado exatemnte por causa daquele decote, não tinha um lugar na cidade em que aquele vestido fosse ser bem recebido. Era depravado. Por outro lado, o único restaurante na cidade onde eu poderia usá-lo seria o Plaza porque ele era bem a cara dessas madames metidas que frequentam lugares de luxo. Talvez, minha mãe tivesse acertado na escolha.

— Aquela sua sandália nude ficaria ótima com ele. — ela opinou mais uma vez.

— Da Vizzano? — questionei aprovando a sugestão.

— Essa mesma, querida! Espero que tenha um bom encontro.

— Não é um...

Deixei o celular sobre a cama um pouco chocada por minha mãe ter desligado em minha cara e olhei mais uma vez para o vestido. Arqueei a sobrancelha tentando me decidir e acabei balançando os ombros dando-me por rendida.

Como eu havia previsto, o decote do vestido quase chegava ao umbigo. Usar sutiã nem pensar! Nessas horas eu agradeço ao bom Deus por ter me feito com seios pequenos e durinhos. Não vou negar, ele era perfeito. Grudou em cada curva do meu corpo como se houvesse sido feito especialmente para mim. Me olhei no espelho, as costas era totalmente coberta e isso me aliviou. Só o decote na frente faria uma freira desmaiar.

A campainha tocou. Ainda não era oito e meia, Felipe não chegaria meia hora antes e havíamos combinado de nos encontrar lá então, tive quase certeza de que era Pedro querendo saber se eu iria naquela maldita reunião. Peguei o celular e minhas sandálias em mãos e fui atender a porta. Acostumei em calçar meus pés somente na hora de sair, assim evitaria tanto tempo de desconforto.

— Ken...

— Dra! — completei a fala do síndico. Parecia um pouco embabascado com minha presença. — E meu rosto é mais em cima. — disse ao notar seus olhos em meus seios.

Eu disse que aquele vestido era vulgar e depravado. O decote deixava a curva dos meus seios à mostra e lógico que isso alimentaria pensamentos profanos nos homens.

— Isso tudo para uma reunião? Saiba que é proibido usar esses trajes...

— Ah, tá! — enruguei o cenho. — Sonhou se pensa que vai me proibir de usar as roupas que eu bem entender.  — o empurrei de leve para longe da porta e sai. — Não vou para essa reunião e não quero saber de mais nenhuma regra ou eu vou te denunciar para o concelho e eles irão eleger outra pessoa para ser síndico. Passar bem!

Após trancar a porta do meu apartamento fui em direção ao elevador, olhei para o visor do celular mais uma vez e balancei as sandálias. Pedro ficou parado em frente à minha porta com cara de poucos amigos mas, logo deu as costas e saiu todo irritado na direção oposta.

Entrei no elevador me equilibrando para tentar colocar a sandália e apertei o botão do térreo. As portas fecharam e por uma fração de segundos, me lembrei da conversa que havia tido com Ethan mais cedo.

Se a ideia de construir o cibercafé no lugar da biblioteca não havia sido dele, então de quem havia sido?

E porquê ele não poderia impedir ao invés de ajudar a demolir tudo?

Para mim essa história estava mau contada.

O Destino EscreveuOnde histórias criam vida. Descubra agora