Capítulo 15

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"Uma guerra só está perdida quando termina. As batalhas são longas, a vontade de desistir pode ser enorme, mas esta é uma palavra que não se encaixa em meu vocabulário. Definitivamente, não!"

Os testes de elenco são os velhos conhecidos de atores que buscam um lugar a sol. Uma peça a ser montada, ou aquela vaga em uma companhia é motivo de aglomeração na porta do teatro. Este é um grande universo, onde poucas estrelas brilham. E esta foi a sua rotina por três meses. Ir a testes, receber elogio de diretores, mas sempre levar uma resposta negativa, até chegar uma ótima chance do seriado que seria lançado em uma emissora de grande audiência, a Rede Nacional. Bia estudou naqueles dias, leu textos em voz alta, interpretou comédia, drama para aquela que sempre foi sua cobaia e espectadora: Jéssica.

- Eu preciso saber se estou indo bem, até parece que você não gosta de me ver interpretando.

- Bia, eu aprecio a sua interpretação, por mim você ganharia o Oscar, mas se eu continuar neste ritmo, meus clientes é que não irão gostar. Preciso preparar esta defesa.

- Este teste é importante.

- A defesa do meu cliente também. Ele pode ir para a cadeia – disse com um sorrisinho no rosto, que irritou Beatriz.

- Sem graça. Vou para o meu quarto.

- Bia, volte aqui agora! Meu Deus, mal começou a atuar e já está com crise de estrelismo.

O teste foi realizado dois dias depois. Bia ficou encantada com a emissora e a estrutura dos estúdios, pois parecia estar em uma produção de Hollywood. Ela pegou um texto da própria série que seria produzida: o dia a dia de um conturbado hospital público, onde seriam mostradas todas as mazelas, as dificuldades dos médicos e o drama dos pacientes. Ela ficou assustada com a quantidade de candidatas que estavam ali presentes. Eram atrizes tarimbadas que já tinham feito vários trabalhos no teatro, mas nunca na televisão. Apesar de tudo, ainda estava confiante, embora achasse que fosse uma missão quase impossível. No final do dia, Bia reparou que estava entre as sete finalistas que voltariam no dia seguinte.

- Sandra Helena?

- Exatamente. E você que é? Ah, já sei a Juíza Beatriz Santiago. - disse com uma expressão de desdém.

- Pode me chamar de Bia. Eu também não sou mais juíza.

- Aquela que jogou tudo para o alto para virar atriz? Eu ouvi falar sobre este caso outro dia, mas você foi corajosa por desistir de uma carreira como a magistratura.

- Eu não nasci para o direito e não estava feliz – disse enquanto se lembrava das palavras do pai sobre a aptidão da filha para a advocacia.

- Hum, já quer começar trabalhando com TV?

O ar de indignação daquela mulher irritou Bia profundamente, mas de qualquer forma, ela estava certa, pois nunca tinha trabalhado em peça alguma. Começar logo com o papel de protagonista seria muita pretensão.

No dia seguinte, ao chegar ao estúdio, encontrou Sandra Helena decorando o texto e decidiu desviar dela para não encontrá-la. Durante o teste interpretou uma médica que perdia o paciente na sala de cirurgias por falta de recursos. Beatriz comoveu a todos os presentes, mostrou uma naturalidade e desenvoltura pouco comum para uma iniciante.

Bia saiu do estúdio com a impressão de que todos tinham adorado seu trabalho. Três dias depois, ao acordar quase caiu da cama com o telefonema: tinha sido escolhida para o papel.

- Jéssica acorda! Eu serei a médica dos Médicos por vocação.

- Você vai virar médica? Mudou de carreira de novo. Que indecisão, Beatriz! – perguntou a amiga totalmente embriagada de sono.

O preço da escolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora