ROXO

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Ele sentou-se exatamente a três pufes de distância, não era muito longe, podia ver seu rosto com total perfeição, e que perfeição. Não pude deixar de notar a capa do livro que lia. É meus queridos tenho um grave problema chamado OCA: Observador de Capas Alheias, não tenho supervisão para conseguir ler o título do livro, mas pela cor – preta – e os desenhos na capa – galáxias e estrelas- deduzi que se tratava de uma ficção científica. 

A janela de vidro transparente com uma pequena cortina azul marinho ao seu lado estava entre aberta, com isso seu comprido –mas nem tanto – cabelo ruivo esvoaçava de acordo com a brisa que por ela passava. Voltei a minha leitura, não podia deixar que um garoto bonito atrapalhasse minha tarde de viagens.

O livro era bastante interessante, era mais em si um roteiro de que um livro, já que o filme veio primeiro. Ele não era tão grosso, em uma hora o terminei. Ainda não estava com fome, antes de sair de casa havia tomado um café da manhã bem reforçado, só iria lanchar à tarde.

Dirijo-me até o balcão do terceiro andar, quando se tira um livro da estante, mesmo que você saiba onde pegou, ele deve ser devolvido ao balcão para que um funcionário coloque o livro no seu devido local.

O garoto ruivo ainda estava no livro de ficção científica, estava perto do fim, não pude deixar de olhá-lo mais de perto quando me dirigi até o balcão. Após devolver o livro vou até a sessão Terror, esse primeiro não me satisfez.

E voltamos à seleção do livro, passo meu dedo indicador lombada por lombada, lendo o título do livro, alguns título me chamam a atenção, então puxo para fora da estante, leio a sinopse e vejo se devo adicioná-lo ou não a minha lista de leituras.

Já estava à meia hora lendo títulos, estava na segunda estante da sessão de terror.

- A casa negra é um ótimo livro – ele puxa o livro da estante e coloca na minha mão – leia, você vai gostar.

Sua mão gelada do ar-condicionado tocou a minha ao me entregar o livro, ele não falou mais nada, seguiu em frente até o fim do corredor onde estava a sessão de drama, ele ainda estava com o livro preto na mão, mas pelo visto já havia terminado.

Seu toque era macio, sua voz era grave, seu hálito tinha aroma de menta, com certeza devia estar mascando algum chiclete, ele era praticamente da mesma altura que eu, apenas alguns centímetros de diferença. E era lindo, ahh com era lindo.

Já com o livro que ele me recomendou em mãos, vou até o pufe onde estava, coloco o livro sobre ele, e pego minha xicara e vou até a cafeteira pegar mais um pouco de café. O ar-condicionado está no mínimo, faz aproximadamente 16 graus, o café conforta do frio, que até então está aconchegante, mas se por acaso ficar insuportável, trouxe comigo meu casaco. Decido colocar um pouco de leite no café, ele fica um marrom claro, acho que coloquei leite demais.

O céu lá fora havia mudado, possivelmente um chuva irá cair, as nuvens estava acinzentadas, e cobriam todo céu até o horizonte. Vou caminhando em direção a meu assento. O vento estava mais forte, as cortinas azul-marinhas agitavam-se brutalmente, pareciam que queriam ser libertadas, como se as argolas que as prendia a haste de ferro fosse algemas, e elas aves tiradas do seu lar.

Quando passo pela fileira onde ele estava, vejo que ele ainda está lá, agachado, lendo a lombada de um livro da ultima fileira, perto do chão. A sessão de drama era particularmente pequena, afinal já bastam os dramas da vida real.

Chego a meu pufe roxo, coloco o café no chão perto do meus pés, e começo a leitura. Coisas de terror, sejam elas filme, livros, jogos, séries...são bem interessantes, o fato de você saber que aquilo é apenas uma ficção, que não existe na "vida real", mas mesmo assim você tem medo, calafrios, ou qualquer emoção negativa é algo bem engraçado.

Já livros de assassinatos me fascinam, sabemos que aquilo realmente existe na vida real, sejam assassinos psicopatas, torturadores, serial killers, eles existem no mundo real, eles são algo que sim devemos ter medo e nos botar calafrios.

Uma garota de sapatos rosa entra no andar fazendo um barulho horrendo com os pés, piso do terceiro andar e feito de blocos de madeira marrons, alguns sapatos fazem barulhos insuportáveis naquele piso. Ela tira os sapatos, e os coloca perto de um pufe, e vai apenas de meias para a sessão de romance.

Romance é algo bem peculiar, nos livros e nos filmes, os problemas do casal sempre se resolvem num passe de mágica, os apaixonados se encontram pelo acaso do destino, mas ai é que está, nunca cobre do destino, nunca se antecipe do destino, quanto mais você imagina o seu encontro perfeito, mais o destino vai torna-lo um desastre.

Já estou em um terço do livro quando ele volta, dessa vez senta-se a três pufes de distância, a janela ao seu lado não está mas aberta, seu cabelo esta calmo, como a água de um aquário sem peixes. A capa da vez é uma amarela, tem uma "X" preto enorme na capa frontal, a meu ver o título está somente na lombada, e parece ser de uma palavra só, a contracapa é preta com palavras em amarelo, um lindo livro esteticamente.

Ele toma uma gola de café, olha ao redor, seus olhos se encontram aos meus, ele olha em direção ao livro em minhas mão e sorri, eu sorrio de volta, até que ele abre seu livro amarelo, e começa sua leitura.

O silêncio toma conta do espaço, os únicos sons que se escuta é os das desesperadas cortinas tentando voltar para casa.    

O Garoto da Biblioteca I Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora