E se?

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-Papai, olhe! Papai, papai!
-O que foi, Ptolemus? -vejo o papai virar bruscamente de seu acento e me encarar. Sua feição não está muito amigável, mas sorrio mesmo assim.
-Olhe! -levanto o garfo que eu estava usando para comer meus vegetais e o mostro para meu pai.
-O que tem, Ptolemus? -sua voz sai cada vez mais irritada.
-Preste atenção, pai. -concentro meus olhos no garfo e o faço entortar.
-Pelas minhas cores, Ptolemus! Você conseguiu entornar um garfo, não é a coisa mais importante do universo.
-É a primeira vez que uso meus poderes, papai. Achei que ficaria feliz.
-É a primeira vez? Achei que já tivesse feito antes. Bem, meu parabéns, filho, mas estamos no meio de um jantar, ok? Depois comemoramos isso.
-Tudo bem, papai!
Começo a comer apressadamente o meu jantar e, assim que termino, fico esperando que todos terminem.
Minha mãe está sentada em uma das pontas da mesa, sua barriga já está bem grande e tento imaginar como será o meu irmãozinho ou irmãzinha.
Imagino fotos de família, eu cuidado dele ou dela, eu dividindo meus doces... Minha cabeça se enche de pensamentos confusos sobre o futuro e eu desvio o olhar para a outra ponta na mesa, onde está meu pai. Seus cabelos prateados brilham com a luz da luminária, o que lhe dar um ar de um nobre de respeito, que é, justamente, o que ele é.
Admiro meu pai, embora seja duro às vezes. É um grande homem que recebe respeito por onde passa. Depois da família real, nós somos a Casa mais elevada, e os Samos tem nome no mercado, principalmente meu pai. Um dia será eu. Não estarei entortando apenas garfos, estarei lançando facas só com um olhar!
Rio comigo mesmo e coloco minhas mãos, ainda pequenas, sobre a boca, para abafar os risos e não chamar a atenção, mas meu pai percebe.
-O que foi, filho? -ele pergunta sem tirar os olhos da comida.
-Já está acabando, pai? -pergunto sem tentar esconder o sorriso crescendo em meu rosto.
-Por que está tão feliz, Ptolemus? -ouço sua risada e rio também.
-Eu quero treinar, papai! Quero evoluir e ser como o senhor. Quero ser uma patriarca respeitado e poderoso, como o senhor é. -meu pai sorri e fico ainda mais feliz.
-Você será, Ptolemus. Só não precisa treinar agora. Vamos treinar amanhã pelo amanhecer, tudo bem?
-Tá, ok, mas não esquece!
-Não vou esquecer.

Assim que meus pais terminam o jantar, me retiro da mesa e uma criada me leva até meu quartinho. Antes que ela me leve, pego o garfo e levo comigo para o quarto. Quando ela me deixa sozinho, me sento na cama e volto a mexer com o garfo. Depois de muitas tentativas, consigo fazer ele ficar no ar por alguns segundos antes que caia em meu colo. Nesse momento meu pai entra segurando uma caixinha e sorri quanto me olha.
-Deixe esse garfo, Ptolemus. Trouxe uma coisa para você. -ele caminha lentamente até se sentar ao meu lado na cama. -Acho que você vai gostar. Foi de meu pai, passou para mim e agora é sua. -ele me entrega a caixinha e eu pego, balançando ela para ouvir se tem algo ali.
-O que é? -pergunto olhando para meu pai.
-Abra.
Faço o que diz e abro a caixinha. Me deparo com uma pequena faca dourada, com desenhos em e algumas letrinhas.
-Pai, o que está escrito?
-Meu pequeno magnetron.
-Eu adorei! Obrigada, papai. -envolvo meus bracinhos em torno de meu pai e aperto o máximo que consigo.
-Você merece. -ele retribui o abraço com um pouco mais de cuidado e sorri.
É muito raro ver meu pai sorrindo, mesmo entre a família. Momentos como esse são os meus favoritos e eu tento sempre lembrar deles.
Por um momento penso no meu irmãozinho ou irmãzinha que irá chegar. Será que terei que dar minha faquinha também? Não quero ter que dividir minhas coisas.
Será que ele ou ela fará meu pai sorrir mais vezes? Será que vai ser melhor que eu? Será que vai começar a usar os poderes mais cedo? Será? Será?
Meu pai se levanta e sai de meu quarto, me deixando sozinho ali com meu novo objeto mais precioso. Deixo a caixinha na mesinha de cabeceira e me deito. Fico olhando a faca e pensando nos "e se" que surgem na minha cabeça. Coloco a faca embaixo no travesseiro e fecho os sonhos para tentar dormir, mas não consigo. Rolo na cama à noite toda, escuto barulhos de criados indo e vindo, olho as sombras nas paredes, que se formam por causa da pouca luz. Tudo está prestes a mudar, mas e eu? Onde fico nisso tudo? Será que vou mudar com as coisas? Será que vou continuar o mesmo? Por que eu não consigo pensar apenas em brinquedos?
Afundo a cabeça no travesseiro e dessa vez eu durmo; sem sonhos e nem pesadelos.

Meus pai sempre me disse para eu tentar ser o mais evoluído das crianças, ser o mais esperto, o mas forte, sempre e sempre. Mas agora terá outra pessoa comigo, e essa pessoa terá que ser assim também. Não sei se isso me agrada ou não, mas, por enquanto, eu vou focar em mostrar para meu pai que sou o mais espero e continuarei sendo, sempre.

Vik: queridos leitores, não sabemos qual a idade de Ptolemus, então não sei quantos anos ele é mais velho que Evangeline. Nesse conto ele tem entre 4 e 5 anos.
Se a Victoria publicar a idade ou citar nos próximos livros, esse conto mudará ou será apagado.
Obrigada pela compreensão.

A Cabeça da CobraWhere stories live. Discover now