Definitivamente, nunca estive tão nervosa para um primeiro dia de aula. Também, era o primeiro dia de aula sem que meus pais estivessem juntos comigo. É, eles se divorciaram no começo do verão e meu pai foi para a Austrália dar início à sua pesquisa sobre espécies raras da fauna, e até hoje não sei se eles se divorciaram por causa da distância ou se distanciaram por causa do divórcio.
Minha mãe também nunca teve tempo nem vontade de me levar até a escola, então eu sempre precisei fazer um esforço para pegar o ônibus das 7:30. Esforço porque era necessário acordar cerca de uma hora e meia antes, para lidar com certas peculiaridades – eu tenho um pênis –, não que eu seja do tipo punheteiro que joga League of Legends, até porque prefiro jogar Mário, mas, como minha própria urologista me garantiu, isso é totalmente saudável na minha idade. Então eu afogo o ganso umas três vezes ao dia – isso quando não acontece nada inesperado.
Outro motivo que me leva a acordar assim que o sol nasce, é que é realmente muito desconfortável correr atrás do ônibus com esses shorts de compressão que sou obrigada a usar. Não que eu tenha vergonha de ter um pau – tenho muito orgulho dos meus 23 cm –, mas durante o ensino fundamental, ninguém soube, e minha vida foi completamente normal, não sei se tem alguma coisa a ver, mas prefiro não arriscar. Então prefiro mesmo esperar o ônibus no ponto dele com dez minutos de antecedência.
Pelo que vejo quando chego ao ponto, não sou a única a esperar o amarelinho, e nem a única muito ansiosa para o início das aulas. A minha é uma ansiedade boa, já a desses adolescentes, não sei. O ônibus não demora para chegar e deixo todas aquelas pessoas passarem na minha frente. Só não sabia que ao fazer isso, perderia os melhores lugares do ônibus. Nota mental: entrar primeiro a partir de amanhã. Eu acabo me sentando ao lado de uma garota alta que estava no fundo, mas nem me preocupo em falar com ela.
Cerca de cinco pontos depois, um casal entra no ônibus, eles devem ser muito populares aqui - veja bem, uma coisa que eu esqueci de mencionar, é que minha mãe também se mudou depois do divórcio, e nós saímos de Seattle para viver em Miami - , porque todos desviam o olhar para os dois instantaneamente e um garoto dá o seu lugar para eles. O menino tem cabelos enrolados, e quando vejo seus dentes, chego a pensar que é um lobisomem ou um vampiro. Aquele garoto tem caninos maiores que os do meu labrador. Já a garota tem cabelos lisos e negros, e olhos verdes claríssimos, daquele tipo que quase chega a ser branco. Não consigo ver os olhos dele, porque por algum motivo que nunca descobrirei, ele está com óculos de sol. Que sol?
— Acho melhor você parar de encarar agora – disse uma voz de repente, me assustando. Olho para a garota alta, ela tinha falado comigo.
— O que? — Pergunto, confusa, franzindo a testa.
— Eu vi você encarando o casal vinte ali. Tudo bem, não tem problema olhar, eles chamam mesmo a atenção. Mas se não quiser se meter em problemas com eles, e eu te garanto, não vai querer, pare de encarar.
— Quem são eles?
Ela riu, me deixando mais confusa ainda, e ficou em silêncio, me fazendo achar que nossa conversa acabou, até que se vira para mim novamente. — O Drácula ali é Bradley S. Simpson. Ele é popular desde que nasceu, veio de berço de ouro, e não perde a oportunidade de esfregar isso na cara de qualquer um.
— Achei que fosse a única a ver a semelhança dele com um vampiro.
— Te garanto, não é. Aquele ali só não sofre bullying todos os dias porque é riquinho e por causa do cabelo perfeito.
— E quem é a garota? — Tentei disfarçar o interesse, o que acho que não funcionou, porque a garota ao meu lado me olha com uma cara digna de cosplay do emoji da lua preta.
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Prejudged
FanfictionCamila achava no ensino fundamental que a escola era um mar de rosas. Mas o ensino médio está aí pra mostrar a ela como estava enganada. Ou não?