— E aí? O que foi?
— Eu..... Dinah.....
Eu estava atordoada. Não sabia o que fazer, nunca passara por isso antes.
— É..... vem comigo.
Puxei Dinah para o meu quarto, decidida a contar tudo para ela.
— Então tá. Presta atenção, eu nunca contei isso para ninguém, ok?
— Contar o que, criatura?
— Sim — soltei, mas vi que Dinah ainda não havia entendido —, eu tenho um pinto.
— Ah tá, Camila, meme da Mônica!
— Não! Eu tô falando sério!
— Claro que tá. E eu sou a mãe Diná, mas mudei a pronúncia para ninguém desconfiar.
Vendo que ela não ia acreditar tão fácil, fiz o que parecia mais lógico no momento: parei na frente dela e abaixei minha calça, com cueca e tudo, deixando Cabelloconda livre, leve e solto. Queria ter gravado a expressão de Dinah, que foi de entediada a surpresa em questão de segundos. Os olhos dela estavam tão arregalados que pensei em chamar ela de Glenn.
— Que porra é essa, Camila? — DJ berrou, levando as mãos para o meu pau e apertando. Quando viu que era real, soltou e limpou as mãos na cama, com cara de nojo.
— Eu tenho um pênis.
— Você tem um pênis?
— Sim!
— Tá, agora faz o favor de cobrir essa cobra que eu tenho fobia.
Arregalei os olhos e subi as calças de novo, me sentando ao seu lado.
— Então...
— Então o que? — Ela disse, ainda surpresa. — Não vem com papinho furado, começa a explicar.
— Minha mãe ficou doente quando estava grávida, então, em uma das consultas de rotina, fazendo o ultrassom, o médico, que é um velho que graças a Deus já se aposentou, disse que eu ia nascer com onze dedos! Acontece que na hora do parto descobriram que o décimo primeiro dedo era a porra de um pinto, não a porra de um dedo! Eles acharam que eu era menino, me chamaram de Kevin e só descobriram que sou menina depois de fazer uns exames. Desde então eu cresci com um pinto, como de qualquer cara normal, não menstruo, e é por isso que não tenho absorvente.
Olhei para Dinah, que me olhava em choque, mas logo começou a gargalhar.
— Kevin!
— Ah, cala a boca.
Passamos a tarde no meu quarto, assistindo séries e comendo pipoca – que eu fiz, porque DJ não levantou o rabo da cama nem uma vez, nem para fazer xixi –, e descemos depois que minha mãe chegou com várias sacolas de compras.
— Olá, Dinah, não sabia que estava aqui!
— Oi, dona Sinu, eu meio que vim de última hora, estou assistindo TV com o Kevin.
Nessa hora, minha mãe me olhou com a sobrancelha arqueada, e Dinah segurou o riso. Maldita.
— Tudo bem, já que ninguém me avisou que teríamos visitas, vou fazer macarrão, não vai ficar tão bom sendo feito de última hora, mas é aquele ditado, vamos fazer o que, não é? - Minha mãe falou, mais parecia estar falando consigo mesma, porque tudo não passava de um murmúrio. - Me passa esse pote, Kevin?
Depois do complô das duas para me humilhar, subi para o quarto e fiquei jogando videogame, sem nem me importar com o que minha mãe estaria falando para minha amiga. Aquelas duas juntas não vai prestar. Meu celular apitou, e vi que era o tal Liam, pedindo para começar a "aula" amanhã, depois do último período. "Okay" foi tudo que respondi.
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Prejudged
أدب الهواةCamila achava no ensino fundamental que a escola era um mar de rosas. Mas o ensino médio está aí pra mostrar a ela como estava enganada. Ou não?