Livro 01 - Fora do Previsto

Prólogo

Quando você tem que estar no trabalho às seis horas da madrugada, nenhum Santo é capaz de te tornar humanamente feliz por, pelo menos, às primeiras quatro horas. É por isso que acho que Sara não é humana.

— Bom dia!

— Bom dia... — Abençoa, senhor...

Sara é aquele tipo de pessoinha que já acorda sorrindo, anda sorrindo, rebola sorrindo, grita sorrindo.

— É hora de abrir, vamos lá!

— Ainda faltam cinco minutos.

— Coisa pouca, bora lá.

E é por ela ser mega animada assim, às 5:55 da manhã, que me sinto muito culpada por querer cometer assassinato. Por isso, quando vi aquele gigante cabelo cacheado, que bate na bunda, acompanhando o rebolado escondido na saia de sarja branca, rangi os dentes e me virei para o meu lado direito, onde estavam as assadeiras alinhadas na vertical em um armário com rodinhas.

Vamos comparar para jogar minha auto-estima lá no poço com a Samara do filme O Chamado.

A Sara é daquele tipo de mulher que os dentes brancos e perfeitos já vêm de fábrica. Seu cabelo é tão hidratado e encaracolado que se ela descolorir ele todinho, ficaria incrível! Mas ela investe em luzes somente, deixando o restante da cor do chocolate. Ela é alta, gente! Nesse país, quantas mulheres conseguem chegar em 1,80m com quadris largos, coxas grossas, peitos grandes abençoados por Deus e, não sendo o bastante, uma cintura de pilão com a barriga chapada?

Agora eu? Quem sou eu na fila do pão!

Se eu chegar em 1,65m é uma dádiva. Graças a Deus inventaram os saltos, porque, olha...

Meu cabelo não é tão cacheado quanto o de minha patroa, mas consigo cachos revoltados todas as manhãs porque, assim como eu, não ficam felizes em acordar de madrugada. Além do frizz, coisa inventada por algum diabrete, certeza. Também nem cogito descolorir algumas mechinhas, pois ele é totalmente preto e, convenhamos, se for para tacar um loiro no meio da escuridão, jogo logo um vermelho sangue porque sou dessas.

Eu não sou completamente desprovida de massa muscular e de peitos, mas também não passo da média. E meus dentes? Eu acreditei mesmo que você tinha se esquecido dessa parte... Meus dentes possuem um... ambos os caninos chamando atenção por ficarem muito na frente. Também tem um dente quase faltando no canto esquerdo, crescendo a passos de tartaruga, perto do canino, o que me deixa bastante envergonhada em sorrir com os dentes à mostra.

Suspirei terminando de fechar a portinha de vidro. Mesmo chorando minhas pitangas baixinho, deixei as outras quatro atendentes no balcão e fui levar o armário de volta para perto dos padeiros. Eu não tinha muita intimidade com nenhum colega ainda, pois comecei há uns vinte dias, mas fiquei feliz em ver todo mundo morto de sono naquela parte, igual eu.

A gente só toma duas decisões importantes na vida: Quem você é hoje e quem você quer ser amanhã. Foi pensando nisso que vi John começar a empurrar o armário para perto dos outros. Ele havia me dito que odiava trabalhar na padaria, mas eu não. Eu amava aquele cheiro de pão e de ver os rostos contentes das pessoas quando tinha o que elas gostavam. Eu gosto de quem sou hoje, embora talvez eu tentasse mudar algumas falhazinhas em... bom... esqueça. O mais importante é quem quero ser amanhã, certo?

Amanhã quero ser a dona da porra toda!

Digo, dona da minha própria padaria, porque inovar em receitas tão básicas do dia a dia é incrível!

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Notas

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Eu sei que vocês esperavam algo mais comprido, mas calma! Meus prólogos costumam ser curtinhos mesmo, porém, dão o mesmo trabalho.

No próximo capítulo nós iremos tratar do presente, ou seja, o cabelo estará diferente, o uniforme estará diferente... O tempo passará.

Queria agradecer a Elisa, pois ajudou bastante no processo criativo e deu uma revisada básica (aliás, se vocês verem algum erro de gramática, etc, aponte para que eu possa corrigir).

Talvez não tenha ficado do jeito que vocês imaginaram, mas a ideia está aqui ^^

Não esqueça de comentar o que achou, sua opinião é muito importante para mim <3