Capítulo II - Rotina de uma aprendiz de viajante

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Depois dos tapas na cara consecutivos que levei da Sara e da Tessa, resolvi que não valia a pena ficar ali. Por isso, dei uma olhada no celular. O choque causa um efeito surpreendente nas pessoas, ele pode fazer você quase cair da cadeira e sair correndo como se estivesse fugindo da polícia, mesmo que não tenha cometido crime algum. No meu caso, faltava quinze minutos para chegar no dentista e me livrar do aparelho.

O centro da cidade em que a padaria Passione ficava era incrivelmente comum. Carros para todos os lados onde, em sua maioria, não respeitam os sinais de trânsito, aí o pedestre tem que pegar na mão de Deus e atravessar a rua. As lojas, com diferentes vitrines e tão iguais ao mesmo tempo, espalhadas por qualquer canto, beco, andar e calçada. E como estamos falando de uma cidade turística, não podemos esquecer dos turistas que nunca estão nem aí para o minúsculo espaço de concreto que está ali para nos dar um cantinho para andar.

Passar correndo por esse caminho poderia me fazer vencedora da próxima olimpíada.

O consultório odontológico ficava no segundo andar de uma boutique. A Dra. Amanda, muito ética e muito pontual, estava na recepção com as mãos nos bolsos e rindo para a recepcionista. Ela tinha um micro consultório que conseguiu montar depois de se formar com uma bolsa de estudos. Toda vez que eu aparecia por lá, ela tentava me convencer a fazer faculdade, mas eu estava de olho mesmo nos workshops de culinária e confeitaria.

— Estou atrasada?

Ela me olhou sorrindo ainda, depois virou-se para o relógio de parede atrás dela e voltou-se para mim.

— Quase. Vamos lá?

Respirei fundo e me preparei mentalmente para uma seção de tortura.

***

Indignação me abatia. Faltavam ainda dois meses para o casamento de Tessa e eu não queria ir com uma grade de presidiário nos meus dentes, mas Amanda declarou que ainda precisávamos esperar mais um pouco. Respirando fundo, saí de lá com tempo de sobra e segui para a Polícia Federal para buscar meu passaporte.

O casamento de Tessa seria fora do país, especificamente, em Londres. Eu estava muito feliz, mas um pouco receosa também. Todos seus convidados eram pessoas ricas, famosas e políticos importantes. O fato de George ser fotógrafo de renome, além de escritor e diretor de documentários, ajudava bastante a engrossar essa lista. Eu estava gastando muito dinheiro comprando roupas na liquidação, mas de marca, no Ebay e no Aliexpress. Felizmente, pechinchei horrores!

Pobre é fogo, né? A gente sabe tudo sobre promoções e em que lugar elas moram. Felizmente, só compramos quando temos certeza.

Mas todos sabemos que o comportamento indica muito sobre sua classe social e, embora eu não dê a mínima para nada disso, não costumo levar desaforo para casa. O X da questão mora no seguinte fato: Era o casamento da minha melhor amiga e eu não poderia corroborar para estragar esse momento importante com um barraco. Aliás, como foi que me meti nessa droga de aposta mesmo?

Voltei para a realidade quando vi o horário de funcionamento do meu destino fixado na porta dupla de vidro. Faltava cinco minutos para fechar e o segurança já estava impaciente. Olhei para todos os lados e passei correndo na hora de atravessar a rua.

— Vadia! Olha antes de atravessar.

Filho de uma...

— Ei! Pare o carro e desça agora mesmo. Você ultrapassou o sinal vermelho.

Olhei para trás e vi um fiscal fazer o carro parar, segundos depois, o fiscal estava de frente para o motorista e anotando alguma coisa em seu aparelho. Ai, como a vida é bela!

Livro 01 - Fora do PrevistoOnde histórias criam vida. Descubra agora