Kayena

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"Somos pó e sombras."
Cassandra Clare

A noite sempre despertou algo bom em Miguel, e Brasília, com todo o seu caos e iluminação noturna, o fazia experimentar uma deliciosa sensação de nostalgia; o caminho para casa foi tranquilo.

Estranho como em tão pouco tempo, o pequeno apartamento se tornara para ele seu lar, o lugar onde ele estava seguro. Ele e Lucky até tinham o apelidado carinhosamente de "cafofo". Os tempos ruins e perigos que ele já tinha passado pareciam estar em um tempo longínquo como se de certa forma tudo aquilo tivesse ocorrido com outra pessoa e, era exatamente assim que ele queria que continuasse.

Largados no sofá, assistindo o último filme da série Harry Potter pela milésima vez, com um saco de batatas fritas entre os dois, até poderia se dizer que estavam em seu paraíso particular.

- Cara! É impossível não se emocionar toda vez que vejo esse filme! - disse Lucky tentando embargar a voz para deixar mais claro a suposta emoção.

- Eu continuo preferindo o livro. - respondeu Miguel apenas para provocar, pois sabia que o amigo nunca tinha lido a série.

- E você também é o cara mais esquisito que conheço então sua opinião é inválida.

- Dessa vez você venceu. - murmurou enquanto ria e erguia as mãos em sinal de redenção.

- Vou tomar um banho, brother. Se nós nos atrasarmos a Bianca vai me matar.

- Seria maravilhoso se ela fizesse isso. - Miguel disse com um tom irônico. - Você conhece o caminho do banheiro. E não use a minha toalha!

Miguel nunca teve irmãos ou grandes amigos, nunca dividiu quartos ou tarefas. Suas irmãs eram bem mais novas, e apesar de ama-las de todo o coração e com todas as forças nele existente, era bom ter a companhia de alguém que o entendia, que poderia simplesmente falar sobre qualquer coisa.

Foi imediatamente trazido de volta de seus pensamentos por uma dor lancinante, algo duro e frio lhe queimava o peito, ao olhar, constatou que era o pingente do colar que Angie havia lhe dado. A pedra parecia pulsar como se um pequeno coração batesse ali dentro, com um enorme esforço Miguel ergueu a mão até o pescoço para tentar retirar o colar, mas assim que tocou na pedra sua vista escureceu e não pôde fazer mais nada.

Blocos e mais blocos de pedra se erguiam a sua frente, Miguel estava parado diante das mais imponentes estruturas que já tinha visto, parecia os castelos medievais europeus que vera nos livros da escola, porém, este estava localizado no topo de uma enorme e íngreme montanha. Ele ficou alguns segundos embasbacado, não fazia ideia de onde estava e muito menos do motivo de estar ali.

O único caminho que levava aos portões do castelo se tratava de uma fina estrada talhada na pedra, tão estreita que não conseguiria passar mais de um automóvel. A primeira coisa que notou após o pensamento foi que não viu nenhum carro ou moto, algumas pessoas atravessavam, mas estavam montadas em cavalos ou a pé.

Decidiu seguir a estrada e procurar alguma informação, primeiro teria que descobrir onde estava e depois como ele chegara até lá. A subida era longa e a montanha bem mais inclinada do que parecera a primeira vista, portanto esta era sua única alternativa então continuou caminhando. Após minutos, avistou os portões do castelo, mesmo à distância percebeu a grandeza da muralha em torno do castelo; tão alta quanto um prédio de vinte andares e tão larga quanto à estrada em que caminhava. Ao se aproximar mais da entrada parou e se permitiu admirar a imponência da construção até que sua atenção se desviou para os homens que estavam à frente do portão e acima da muralha.

Cerca de vinte homens montavam guarda junto à entrada, e muitos mais se encontravam acima da muralha. Todos trajavam armadura completa, mas nenhum estava montado, grossas capas de pele lhes cobriam, pareciam estar com frio, contudo, Miguel, que estava apenas de bermuda e camiseta, não era incomodado pelo clima. Portavam uma infinidade de armas: espadas, sabres, machados, alabardas, lanças e arcos.

Apenas ao estar bem próximo pôde perceber que todos portavam um tipo de brasão, alguns o tinham pintado nos escudos, outros, bordado na capa, mas todos tinham a mesma imagem; um raio branco sobre o fundo cinza, o símbolo lhe era totalmente desconhecido. Quanto mais observava tentando descobrir, como, onde e por que estava nesse lugar, mais confuso ficava. A única coisa que podia fazer era chegar ao final da estrada, e assim, tinha a esperança de conseguir alguma informação junto aos homens que protegiam a entrada.

Percebeu que um dos homens - que estava no sopé da muralha - estava trajado de forma diferente dos outros, apesar de também usar capa e armadura, percebia-se a diferença do material e o estado de conservação, enquanto o equipamento dos outros homens se mostrava sujo e desgastado pelo uso ou pelo tempo, sua armadura e o cabo da espada que carregava atrelada a cintura, reluziam quando atingidos pela fraca luz solar que passava pelas nuvens que cobriam o céu, chegando à conclusão de que provavelmente era ele quem estava no comando.

- Boa tarde, senhor. - cumprimentou Miguel ao se aproximar do homem.

O homem caminhava diretamente em sua direção com o cenho franzido, a expressão na face do homem era assustadora, e Miguel estava um pouco amedrontado, mas se manteve firme, esperava alguma reação ou retaliação, entretanto o homem passou por ele como se ele nem ao menos existisse.

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