Odeio ressacas.
E essa em especial, estava sendo péssima. Lembro-me de pouquíssimos momentos, antes de sentir o líquido quente descer pela minha garganta e perder a noção de espaço e tempo.
As lembranças da noite passada eram evidentes: arroxeados pelo meu pescoço e a minha própria mente mostrando flashes da noite passada. É fato de que não lembro nem sequer os rostos, pra mim eram apenas corpos.
Não preciso abrir os olhos pra perceber que havia uma forte luz acima de minha cabeça, que agora também doía de forma latejante.
Que horas são? Que dia é hoje?
É extremamente ridículo como não consigo responder essas simples perguntas, é como se eu tivesse um bloqueio.
Ao meu redor escuto barulhos atípicos, consigo identificar como chaleira, relógio cuco e televisão. Sinto-me estranhamente com medo de despertar, nem sequer sei onde estou.
Mas finalmente o faço, e de fato como imaginava, não estou na minha casa e aquele papel de parede não era o do meu quarto.
Agora, posso ver um quarto pintado com cores avermelhadas, com uma arrumação impecável, não se pode ver uma única poeira pairando pelo ar. Também apercebo-me que a porta está aberta e praticamente implorando-me para adentrar a mesma e procurar o dono desse quarto peculiar.
Meus pés agora afofam o tapete felpudo que se encontrava abaixo de mim, e lentamente sigo para explorar e tentar entender quem havia me tirado daquela discoteca.
E nisso, a onomatopeia fica mais alta, e agora estou sentindo um cheiro de carne e legumes. Também, uma silhueta está encostada no balcão, despida da parte de cima e com os cabelos desgrenhados, franzo meus olhos e de repente aquelas costas não me pareciam tão desconhecidas assim.
Ao ver seu perfil, meu coração acelera e lentamente sinto-me ficando pálido, minha memória não parecia querer processar que eu talvez/provavelmente/possivelmente havia dormido com ele, e num ato completamente inesperado, dou com passos para trás e piso em algo de borracha barulhento, chamando sua atenção.
Quando seus olhos fitaram os meus, minha mente parecia querer pregar todos os tipos de peças, porque não parecia sério. Seus lábios formaram uma curva, e pude ver seus dentes semelhantes aos de um coelho.
"Vejo que acordou cedo."
O ar parecia espesso por segundos, e só pude lamber meus lábios e olhar para baixo por instantes, até enfim fitá-lo.
"H-Hm... Podes me dizer onde fica o banheiro?"
Ele apontou para uma porta de madeira e eu andei, ofegante e com indícios claros disso. Ao fechar a porta, senti meu coração acalmar e percebi o quão impecável estava aquele cômodo e isso realmente me chamava a atenção, pois aparentemente ele morava sozinho.
Aproximei meu rosto da torneira e o lavei, esfregando os olhos e pensando no quão estranho estava sendo tudo aquilo. Sei que não é certo olhar as coisas dos outros mas a curiosidade falou mais alto, e eu abri a pequena farmácia atrás do espelho, podendo ver diversas agulhas e medicamentos.
Quando coloquei minhas mãos naquilo, ouvi batidas na porta e praticamente dei um pulo, fechando o que havia aberto.
"Não demore muito, Jimin, preparei nosso café da manhã."
Em passos rápidos eu saio do banheiro e posso observar o homem que perturba meus sonhos, agora, colocando os pratos em cima da mesa.
Aproximei-me de si e me sentei na cadeira, tentando ao máximo disfarçar meu desconforto e meu suar frio.
É patético, sim? O delegado da cidade é esperado ser sempre autoconfiante e praticamente ler as intenções das pessoas. Mas nesse momento, é como se eu sentisse... medo?
Não me apercebo ao certo, mas seus olhos me transmitem tensão, ele não tenta disfarçar. Enquanto corta as frutas e as coloca no meu prato, a faca passa raspando por sua mão e ele não tem receio de se cortar; sua camiseta sobe um pouco, e posso ver uma tatuagem generosa distribuída pelo seu peito, onde tem dois revólveres.
Agiu extremamente normal com a situação, como se eu fosse um vizinho que rotineiramente o visita. Não engoliu em seco em nenhum momento, nem quando lhe questionei de onde vinha e se era estrangeiro.
Soube que ele estava ontem, na mesma discoteca que eu. Me viu desmaiar e como eu não estava acompanhado (pela sua visão), apenas me trouxe pra sua casa.
Simples assim? Nada carnal? Que pena.
Se bem que se tivesse ocorrido algo, eu queria estar sóbrio, para me lembrar depois.
Jeon levantou-se e foi até a geladeira pegar algo, voltou com uma vasilha com carne dentro (provavelmente frango), e sentou-se à mesa, colocando em seguida a comida em seu prato.
"Você come carne de manhã?" O questionei e mordi uma maçã em seguida.
"Sim, eu sou carnívoro, gosto de carne e sangue, de todos os tipos. Não estou dizendo que como todas."
"Isso soou..."
"Estranho? Talvez. Mas eu amo foie gras, é surpreso como a maldade pode ser tão deliciosa."
Permaneci calado e a sua presença estranhamente me incomodava. Não pareceu se incomodar com meu olhar sobre si, pois nem se quer olhava em suas orbes. Dizem que os olhos são o reflexo da alma, talvez ele tenha algum medo de ser desmembrado por mim.
Mas eu finalmente estava ali. Como havia pedido aos deuses, mas porque ainda sinto certo receio de ir pra cama com ele?
Algo dentro de mim, no fundo, percebe o quão soa estranho um cara adulto e aparentemente sozinho ter brinquedos de criança em seu apartamento. E de fato, a grandiosa mancha vermelha, que fora fracassada em ser removida da sua toalha também era algo que pesava na minha balança.
Não é como se ele fosse me matar, certo?
Não faz sentido algum eu ir parar na casa de um assassino, logo eu. E sendo o bom detetive que sou, eu já teria caído fora se tivesse provas suficientes.
Eu sei... eu sei... não me julgue por favor, tenho noção do que estou fazendo.
"Está em uma viagem intergaláctica?" Levantou a cabeça e seus olhos misteriosos me miraram, e seu sorriso cafajeste preencheu seu rosto, sendo assim sua mão, por debaixo da mesa, alisou minha perna.
Minha mente só consegue pensar em como ele está demasiadamente bonito, e me olhando dessa forma, que me rasga por dentro (em vários âmbitos de sentidos), o torna capacitado de ultrapassar os limites.
"Estou viajando em você."
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monster • jikook
Fanfic➵ com uma série de crimes macabros ocorrendo na cidade, nunca se passaria pela cabeça do delegado park jimin, que o principal suspeito seria seu pacato vizinho. @pakrrjimin