Capítulo 13 - Maratona 1K, 2 de 5.

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Joseph Eliot Clark

Katherine veio até o café, eu preciso contar a ela sobre a mudança.

— Kate, me desculpe, mas eu preciso fazer isso. – Minhas mãos transpiravam.
— Eli, o que foi? Você está nervoso. – Ela sorria.
— Eu conversei com o papai, aquele dia que ele veio aqui. Lembra? – Ela acenou positivamente com a cabeça. – Você vai se mudar para Londres.
— Eliot... Como assim? Eu não quero ir. – Os seus olhos estavam marejando.
— Ei, não chora, por favor. Eu não consigo te manter, Katherine. O dinheiro que eu ganho aqui mais a pensão não são suficientes para pagar a escola, a faculdade, o tratamento da mamãe e as contas da casa. Você tem que entender, por favor... – Segurei suas mãos finas.
— Você pode me mudar de escola, eu posso trabalhar depois da aula, não sei. – Ela ria de forma desesperada. – Podemos dar um jeito.
— Não podemos, irmãzinha. Eu já segurei por muito tempo e eu não quero deixar que você se sacrifique por mim. Semana que vem o papai vai organizar os documentos. – Ela me abraçou forte.
— A mamãe já sabe?
— Não, eu vou esperar ela se estabilizar primeiro. Nós três vamos falar sobre isso, tudo bem? – Beijei sua testa e ela me soltou.
Consegui acalmar minha irmã após alguns minutos. Logo, vi Shaira se aproximando. Ela estava sorrindo e parecia leve.
— Olá, colega. – Ela disse e parou ao meu lado. – Quem é essa boneca?
— Meu nome é Kate, Eliot é meu irmão. – Ela fungou e levantou. – Eli, estou indo embora, é hora do remédio da mamãe. Vejo você mais tarde. Tchau. – Ela acenou e saiu.
— Vocês são parecidos, Joseph.
— Um pouco. Vamos entrar, o senhor Parker está chegando. – Apontei o carro vermelho parando na esquina.

***

A primeira mesa da tarde foi atendida por Shaira, uma senhora de vestes elegantes a olhou com desdém e pesquisou por alguém dentro do café. Acenou com as mãos para mim e fui até lá.
— Algum problema, senhora? – Lhe perguntei, educadamente.
— Bem, acho que deve estar havendo algum engano. – Ela sorriu. – Essa... Moça não deveria estar, na cozinha, ou lavando os banheiros, talvez? – Ele ergueu uma sobrancelha.
— A senhora é que deve estar enganada, eu sou garçonete aqui. Posso anotar seu pedido? – Shaira sorriu de forma simpática.
— Não, eu gostaria de ser atendida por alguém mais... Adequado, eu diria. Você, rapaz, pode anotar meu pedido? – A mulher continuava impassível.
— Não. Shaira, chame o senhor Parker, por favor. – Ela concordou com a cabeça e voltou acompanhada por ele logo em seguida. – Sr. Parker, essa senhora diz que não gostaria de ser atendida por Shaira, disse que talvez ela devesse voltar à cozinha ou continuar lavando os banheiros.
— Senhora, não sei a que tipo de tratamento está acostumada, julgo que deve ser dos melhores, por isso não admito esse tipo de atitude com os meus funcionários, sendo ele o Joseph, típico europeu, ou Shaira, uma africana que não nega as origens. Suponho que não gostaria de que a julgassem e a ofendessem assim, então digo a senhora que se não se sentir satisfeita com o que nossa equipe pode lhe oferecer, pode se retirar do meu estabelecimento. – Senhor Parker ajeitou o óculos e parou em frente à senhora. A essa altura, já havia se formado um pequeno burburinho ao redor da mesa dela, que parecia se sentir desconfortável com a situação.
— Eu não disse isso, senhor gerente. – Ela riu, forçadamente e sem graça. – Talvez ela devesse fazer isso porque ela, como sua contratada, deve cuidar da higiene do café assim como o garoto. – Ela me apontou com o queixo. – O senhor me desculpe por todo o alvoroço, não vou mais fazer objeções sobre o atendimento.
— A senhora deve um pedido de desculpas à Shaira, você... – A mulher ficou pálida e Shaira interveio.
— Não é necessário, eu posso atender outros clientes. Eles já estão esperando, senhor Parker. – A voz dela estava embargada.
— Senhorita, me desculpe por tudo que está acontecendo aqui, não era minha intenção. – Meu gerente abriu a boca para falar, mas continuou quieto. – Gostaria que anotasse meu pedido, por gentileza. – Seu tom de voz e seu resto ainda mostravam um certo receio pela minha colega, talvez até vergonha.
— Bom, vejo que já está tudo resolvido por aqui. Vou voltar ao escritório, mas caso haja algum problema, não hesitem em me chamar. Bom trabalho, Shaira, Joseph. – Ela acenou com a cabeça e anotou o pedido da mulher. Shaira se abateu com tudo que acontecera a minutos atrás.

***

Trabalhamos o restante do dia e, no fim do expediente, quando fechamos, nosso gerente nos chamou ao seu escritório.

— Joseph Eliot, Shaira, eu não quero que haja distinção dos tratamentos que vocês recebem dos clientes, sim? O que aconteceu hoje não pode se repetir de maneira alguma, e eu, como chefe de vocês, vou orientar os dois sobre como lidar com essas coisas; não quero que fiquem calados por causa de preconceitos idiotas de pessoas ignorantes.
— Senhor, eu não me importo. A índole das pessoas não diz respeito a mim, eu sou sua subordinada e vou atender seus pedidos, mas sinceramente, ser chamada de preta ou escrava não vai me afetar. Eu sei bem quem eu sou e qual o meu lugar. Não se preocupem com isso, gente. – Shaira se sentou. Ela estava cansada.
— Pode deixar, senhor Parker, a qualquer semelhança com esse ocorrido, eu vou pessoalmente falar com o senhor. Vejo vocês amanhã. – Abri a porta para ela passar e fui logo atrás.

— Boa sorte na sua entrevista, Shaira. Tenho certeza que você vai conseguir.
— Obrigada, Joseph. Hum, não precisa se incomodar com essas pessoas que me xingam ou me olham torto. Aprendi a filtrar comentários assim desde quando eu era pequena. Já vou indo. – Acenou e saiu.

***

Entrei na minha casa e minha mãe estava me esperando na sala. Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo, levantado até meu último fio de cabelo.

— Eliot, precisamos conversar. Você não é pai de Kate, eu estou doente mas ainda não morri. Eu posso decidir sobre a guarda da minha criança. E ela não vai. – Ela falou firme.

Além da Cor - CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora