BLUE LINE
"E quando nada mais podia me surpreender, você apareceu"Não que eu fosse alguém incrível e nada mais no mundo pudesse me pegar de surpresa, era mais pelo meu modo de ser, não ligava muito pras coisas, então costumava pensar que nada me deixaria assim. Sendo dessa forma por quase dezesseis anos, minha vida foi chata, quase entediante e só tinha uma pessoa, além da minha família, que me fazia sorrir e rir às vezes: Zoe. Somos amigas desde os três anos quando estudamos juntas no jardim de infância e permanecemos juntas nas séries seguintes.
Nossos pais viraram amigos também e sempre que uma mudava de colégio, a outra ia para a mesma instituição. Por isso nunca vi a necessidade de ter mais amigos, Zoe era a única que eu precisava e eu estava feliz dessa forma. E seguindo essa linha é bem óbvio que eu nunca namorei alguém também, garotos são bem nojentos e idiotas quando querem e eu nunca senti atração por uma garota, então sou aquele tipo de pessoa que nunca beijou ou fez algo nesse quesito.
Eu realmente costumo pensar no quão parada a minha vida foi desde que eu nasci, quer dizer, apenas uma amiga, sem primos ou namorados, pais que me amam, ah é, tem meu irmão imbecil. Ian é tão inútil quanto uma pedra no meio do caminho, ele consegue ser a criatura mais irritante do universo, foi o filho que deu errado. Para piorar, acha que manda em mim porque é mais velho. Somos a família Paswan, nossos ancestrais eram indianos, somos apenas descendentes nascidos em Boston. Meu tatara tataravô, fugiu do seu país natal por causa de uma crise econômica muito grande e de guerras estourando em países vizinhos. Chegou nos Estados Unidos e se instalou em Boston onde o resto da família continuou vivendo e onde hoje, eu e meus pais, mais o embuste do Ian, moramos. Uma coisa sobre meus pais é que minha mãe é italiana, ela é a primeira não indiana na família, adoramos ser os diferentões, e isso é bem explícito no nome: Bianca. Já meu pai, Karan, é o último descendente puro indiano, eu e meu irmãos já somos mesclados com a parte européia da minha mãe, isso explica meus olhos verdes e os cachos, devo ressaltar que Ian odeia não ter puxado nada. Otário.
A cidade é realmente bonita, desenvolvida e confortável. Eu amo o lugar e pretendo continuar por aqui como o resto de nós. Harvard é na cidade ao lado, posso ir à universidade e morar em casa, então está tudo perfeito. Eu fico pensando nessas coisas com certa frequência, já que não tenho muitas outros assuntos que preencham minha mente, então é completamente normal eu andar por aí com meus fones no ouvido enquanto xingo meu irmão ou tendo cinco breves minutos revendo minha "fascinante" vida.
Andava com Ian ao meu lado pelas ruas cheias de neve da cidade bem cedo naquela manhã, estávamos fazendo nossas compras de natal, mesmo sendo começo de novembro. O motivo? Ruas vazias, preços bons e tranquilidade na hora de procurar. Havia voltado a nevar há pouco tempo e ele não parava de reclamar que sentia frio e queria parar pra tomar um café, apenas revirei os olhos e retirei um dos fones o olhando com minha expressão "foda-se" usual.
– Se quer tomar café, então vai. Me encontra na loja onde vamos comprar o presente do papai em uma hora e meia, vou comprar o meu e o da mamãe. - "O seu também, mas você não precisa saber" pensei enquanto o via sorrir e acenar virando as costas atravessando a avenida se dirigindo ao seu precioso café.
Coloquei o fone novamente ouvindo Arctic Monkeys e voltei a andar na direção das lojas, enfiei as mãos nos bolsos após subir um pouco o cachecol, deixei que o pano cobrisse minha boca, me aquecendo um pouco mais. Andava curtindo o som quando vi um garoto sentado em um banco um pouco mais a frente. Ele estava com um casaco até quente, mas não me parecia muito confiável já que esfregava uma mão na outra, talvez eu devesse praticar minha boa ação de natal hoje. Andei até o garoto o olhando de longe enquanto desenrolava meu cachecol, não prestei muita atenção em como se parecia, mas isso não era relevante para o que eu ia fazer. Parei a sua frente me inclinando e colocando o tecido quentinho na cor azul escura em seu pescoço.
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A Page of Me (Editada)
RomanceSomos todos um livro aberto. Ou não. Se a nossa vida fosse um livro Qual seria o gênero da sua história? De qual capítulo ou páginas você gostaria mais? Ou qual teria coragem de rasgar e jogar fora? Qual momento gostaria de relembrar? ...