Daniel

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  ROUTE 66
"Eu me senti afundando, e lá estava eu, enlouquecido pela minha propria ganância"

O que tinha mais de interessante naquela noite? Bebidas? Mulheres? Ou som de Heavy Soul ao vivo ecoando pela aquela sala que mais parecia o próprio inferno? O cheiro de bebida era forte, quase intoxicante, às vezes fico pensando, o que eu to fazendo? Não sei!

Então por que estava nessa merda? Era pra estar em Los Angeles na minha casa, com a minha banda, mas não, eu estava na merda de um bar na Route 66 perto de Amarillo, Texas. Isso se chama carma, estava ali a mais de uma hora, já havia ligado pra Deus e o mundo, até bati um papo com ele perguntando se tinha pão, mas não me respondeu...

Perdi a conta de quantos copos de Old Parr de 12 anos já havia virado ao som da guitarra Texas que me lembrava minha doce Lucille tocando um bom Jazz, como cheguei a esse nome pra minha guitarra, longa história, um dia talvez eu conte.

Meus pés batiam no chão de acordo com os acordes do country rock, meus dedos faziam automaticamente as notas como se tivesse uma guitarra imaginária, meus olhos fechados esqueceram totalmente dos problemas. O que eu estava fazendo ali mesmo? Ah, lembrei, meu carro quebrou. Parei de fazer a minha guitarra imaginária ao ver que uma das garçonetes me olhava, limpei a garganta enquanto puxava o cabelo para trás, tomei o resto da bebida no copo e empurrei para frente.

– Mais uma. - Falei olhando cada parte do corpo da garota.

– Calma aí garotão, não desconte sua frustração. - Bufei debochando da situação e a fitei enquanto umedecia e mordia meu lábio inferior, olhei para meu carro e soltei um suspiro derrotado.

– Isso é sério?

Ouço sua risada e a encaro com uma cara tipo "Você é louca? Tá rindo do que?" Balancei minha cabeça e dei de ombros, curtindo novamente o som enquanto ela colocava a bebida no copo.

– Sabe, se você tiver sorte, pode tocar com eles também. -Disse empurrando o copo para mais perto de mim.

– E o que te faz pensar que eu quero tocar? - Voltei meu olhar para ela

– Do jeito que você não para de olhar para o guitarrista e o vocalista, parece que está pronto pra matar eles e roubar os instrumentos.

Comecei a rir do jeito que ela falou, realmente eu estava olhando eles assim? Mordi os lábios ainda rindo e tirei os óculos continuando a fitá-la dando um belo sorriso arrogante. Talvez a única coisa que não tenha mudado em mim desde aquela época foi esse meu jeito arrogante de ser, e pra ser sincero, em segundo nenhum pensei em mudar.

A garota, que eu não sabia nem o nome, me fitava com desejo enquanto ficava parada. Estava paralisada? Tenho certeza que eu sou o cara mais lindo que ela já viu. Eu sei, eu sei, estava tão inerte em meus pensamentos que nem percebi quando ela veio até mim e me encarando.

– Seus olhos são lindos... São lentes?

– Você não é a primeira pessoa a me dizer e nem a perguntar. E minha resposta é não, meus olhos são assim mesmo. - Peguei o copo o virando de uma vez fazendo minha garganta arder.

– Nunca vi um assim, é estranho, mas bonito.

Dei de ombros, mas não desviei meus olhos dos seus, meu orgulho de homem não deixava. Apenas a encarava com a mesma intensidade que ela, não tinha percebido o quão gostosa era. Corpo bom, vestia uma blusa branca de mangas que se dobrava nos cotovelos, uma calça colada da cor preta que ficava marcando sua bunda, pele morena, olhos azuis e cabelos pretos presos em um coque bagunçado. Mas aquela boca, puta que pariu, que boca... O que ela poderia fazer com aquela boquinha? Deus, eu estou indo aí pra cima, e dessa vez você não vai me deixar no vácuo e eu vou descobri que tem pão aí.

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