Maya

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               HIS NAME IS DAN, NOT DONY

  Na manhã seguinte vi que Zoe havia me floodado de mensagens e eu não tinha pego no meu telefone o dia todo, ela iria me matar quando viesse me buscar. Liguei pra ela e ouvi aquele sermão básico, mas eu realmente não ligava, apenas queria pedir desculpas por não ter falado com ela no dia anterior. Tomei meu banho, coloquei meu uniforme deixando a gravata um pouco folgada, prendi meus cabelos em rabo de cavalo fazendo os cachos caírem como cascatas, coloquei também uma meia calça preta, passei frio e não queria passar novamente. Calcei um all star da mesma cor da meia dessa vez, sim, eu tinha a coleção inteira. Resolvi colocar uma gargantilha fina no pescoço e um brinco de pérola pequeno, se eu não usasse um brinco, meus buracos fechariam com certeza.Tomei o café sozinha, meus pais saíram mais cedo e meu irmão estava aproveitando para dormir o que não dormiria quando suas aulas começassem.

   Saí vendo a Zoe me esperando no portão com uma cara de quem queria me matar, a abracei e fomos conversando pelo caminho, na verdade eu tentava seduzi-la com meu jeito fofo, só que não. No fim ela cedeu e a deixei sem sua escola com um sorriso nos lábios, então me despedi e segui o caminho para o inferno diário, coloquei os fones e em pouco tempo, já estava na calçada do portão da Escola North. Entrei andando normalmente e ignorando qualquer alma viva ao meu redor seguindo meu caminho para o armário. Por alguma razão, eu sentia que tinha muita gente me olhando, mais do que antes, mas eu não tinha o menor interesse de averiguar isso ou interesse em saber o motivo.

   Fui direto na diretoria, havia decidido o clube que eu faria. Apesar de eu amar tocar piano, estou numa escola de ricos, os musicistas podem ser um nojo eterno, então prefiro aguentar o pessoal do clube de artes. Subi até o terceiro andar e entreguei a folha com o clube selecionado a Mag, ela pediu para que eu entrasse na sala da diretora, ela me receberia no dia anterior, mas estava ocupada com um aluno. Agradeci e entrei na sala vendo uma mulher bonita sentada a sua mesa em uma poltrona.

– Licença... A senhora deseja falar comigo? - A mulher levantou o olhar dos papéis sorrindo, se levantou vindo até minha direção e estendeu a mão direita.

– Seja muito bem vinda senhorita Paswan, espero que a escola te ofereça tudo o que deseja. Falei com sua mãe e nós desejamos que seus problemas de socialização sejam resolvidos. - Eu queria muito mandá-la pro inferno, mas apenas sorri sem abrir a boca e apertei sua mão.

– Obrigada, com certeza tenho tudo o que preciso aqui.

  Depois disso, ela perguntou se havia alguma coisa que poderia fazer por mim e considerei em pedir minha transferência, mas apenas neguei com a cabeça me despedindo e saindo em direção ao meu armário. Peguei os livros que usaria e caminhei até minha sala quando senti meu celular vibrar, era uma mensagem da Chloe, apenas sorri abrindo e lendo o texto. Respondi dizendo quais aulas teria e infelizmente só tínhamos aula de história juntas. Guardei o telefone e comecei a prestar atenção na aula de física, dois longos e torturantes tempos de aula. Pelo que entendi, ele estava repondo aula para a minha turma e por isso tivemos dois tempos seguidos nesta manhã. Agradeci a uma divindade por ser somente um dia, não sei se sairia viva até o fim do ano letivo.

  Depois de duas horas de tortura, eu tinha um tempo livre, finalmente. Fui até o refeitório, que estava vazio e sentei em uma mesa bem excluída, ao canto, perto de uma janela. Como depois dessa aula seria a hora do almoço, esse lugar era perfeito pra passar o tempo. Tirei meu caderno de desenho e comecei esboçar um rascunho do céu que eu podia ver do meu quarto. Se tem uma coisa que eu amo fazer no meu quarto, é apagar todas as luzes, ir pra minha cadeira de balanço na sacada com meu material de desenho, sentar ali e começar a desenhar o que me vem na cabeça. Ontem não pude fazer isso, mas hoje eu poderia sem problema algum e como estava com saudades, nada melhor que o céu estrelado que eu via todas as noites.

  O tempo para um desenho ficar pronto é bem relativo, depende do quanto eu vou dispor para fazer os detalhes, ou sombreamento e contorno. Confesso que me desligo do mundo quando desenho e não foi diferente dessa vez, estava tão concentrada que só percebi que já era o horário do almoço quando uma garota deixou o celular cair no chão ao meu lado. Lhe entreguei o aparelho escutando um obrigada e resolvi comprar um chocolate quente pra mim. Levantei e enquanto esperava minha vez na fila, vi o vocalista da Paradise in Hell passando um pouco longe, mas o que atraiu minha atenção foi no que ele estava usando. Aquele era o meu cachecol? E sim, infelizmente era. A atendente chamou minha atenção e logo fiz o meu pedido, peguei meu copo e olhei uma última vez apenas para confirmar. Fechei os olhos dando um gole no meu chocolate com aquele sentimento de desperdício. "Que pena, joguei meu cachecol no lixo".

  Andei lentamente até a minha mesa e voltei minha atenção ao papel que tinha o desenho mais ou menos na metade. Achei que seguiria meu tempo em paz até sentir algo estranho. Sabe aquela sensação de que você está sendo observada? Pois é, era justamente essa. Levantei o rosto na intenção de olhar ao redor quando encontrei o garoto que usava o meu cachecol, como se chama mesmo? Dony? Foda-se, não é importante, enfim, ele estava sentado à minha frente me encarando fixamente. Eu não fazia a menor ideia do motivo dele ter sentado ali comigo sendo que o vi com os outros membros da banda lá do outro lado do refeitório, só esperava que não fosse o que eu estava imaginando.

– Tá tudo bem? - Perguntei apenas por perguntar, não tinha interesse nele de qualquer forma. Fechei o caderno deixando o lápis marcando a página e fiquei esperando o garoto responder alguma coisa.

– Estou ótimo. - Seu tom era debochado e eu queria mesmo deixá-lo falando sozinho. – E você, Maya?

A forma como ele me olhava era estranha, tenho certeza que esse menino tem sérios problemas mentais. Apenas fiquei o observando enquanto subia em seu ego e me chamava pelo meu nome. Espera, como ele sabe meu nome? Olhei desconfiada, mas as fãs devia ter descoberto não? Não... não era isso... Eu achei que ignorá-lo no palco seria suficiente pra ele entender que não sou sua fã e que não quero nada com ele, mas acho que preciso ignorar um pouco mais.

– Apreciando a vista Honey? Porque eu sim, e estou adorando.

  O garoto colocou os cotovelos na mesa e apoiou seu rosto nas mãos enquanto voltava a me fitar. Apenas dei meu olhar mais foda-se e esperei ele continuar com a sua tentativa falha de me fazer rastejar por ele. Eu já estava começando a odiar a palavra Honey por causa sua causa e aquele tom erótico me dava cansaço. Sério que ele era só isso? Um garoto riquinho, vocalista de uma banda famosinha e que acha que pode comer quem quiser? Que decepção, lembro de ter visto algo a mais nos olhos dele, e continuo vendo, mas suspeito que a sua superficialidade não seja só uma máscara.

– Como você sabe meu nome? - Ignorei todo o resto que ele disse, só desejava saber como descobriu meu nome e depois iria embora.

– Eu sei de muita coisa Honey, e você não imagina o como certo eu fiz meu dever de casa.

  Droga, percebi que tinha feito exatamente o que ele queria, mas mesmo que tivesse feito eu não ligava. Não ia entrar no jogo desse cara. Ele é repugnante e não darei o meu ibope, até porque tem atenção de várias outras idiotas. O vi apoiar seu antebraço na mesa se inclinando para mais perto. Eu o olhava sem expressão alguma, aquilo realmente não me interessava. O garoto brincava com a argola em seu lábio após dizer aquilo, era realmente uma boa frase, funcionaria com outras pessoas, não comigo. Suspirei ao ver que ele piscava pra mim enquanto mordia seu inferior. Agora me chama por apelidos? Sério?

– Mas enfim, se cuida Maya, a gente se vê.

  Ao contrário do que ele disse, não queria vê-lo de novo, não tinha razões para isso. Fiquei calada o vendo sair da mesa andando pra qualquer lugar e logo depois tendo uma loira pendurada nele. A menina pareceu sussurrar algo que o agradou e o vocalista se virou a beijando, porém ele me encarava. Apenas voltei minha atenção pro desenho pegando o lápis para dar continuidade ao que estava fazendo.

  Estava terminando quando senti meu celular vibrar, peguei o aparelho e vi uma mensagem da Zoe, ela estava na hora do almoço também e se sentia sozinha, então sorri e a chamei para ir lá pra casa depois das aulas, ficar no meu quarto vendo séries ou apenas deitadas na minha cama conversando. O humor dela pareceu ter melhorado e disse que me esperaria na esquina da rua da escola, mandei um Ok e vi as horas. Ainda faltava vinte minutos para a aula começar, mas resolvi que tiraria um cochilo antes disso. Peguei as coisas e saí jogando o copo vazio no lixo seguindo pra minha sala. Estava vazia, então sentei no lugar que tinha sentado ontem, apoiei meus braços na mesa e deitei a cabeça em cima deles fechando os olhos um pouco.

  Parecia que nem havia passado muito tempo até que ouvi o sinal e levantei vendo algumas pessoas ali. Me espreguicei e morri naquele tempo de Inglês, sério, eu gostava de estudar e tudo mais, só que a mulher fazia a aula ser horrível. Quando acabou, dei graças a Deus, tive mais um tempo livre e depois aula no laboratório. Essa última pelo menos foi empolgante e não precisava de dupla, amém. Quando as aulas acabaram, fui ao armário deixar o que não usaria e pegar o que tinha pra estudar, tranquei, sai colocando meu fone que estava conectado ao celular e que começou a tocar red hot, estava caminhando sem prestar atenção a nada, apenas indo rápido pra me encontrar com a loira. E quando cheguei no local marcado, ela estava lá animada e veio me abraçar. Fomos conversando até em casa e constatei que não tinha ninguém além de nós duas. Subimos pro meu quarto e trocamos de roupa. Eu tinha muita roupa na casa dela e vice versa, por isso não tinha problema algum.

  Deitamos no tapete olhando pro teto e escutei ela me contar o que houve na escola nesse dois dias que eu tinha ido embora. As fãs da banda perguntaram se eu tinha mesmo ido para a escola de rico e ela confirmou. Depois perguntaram o motivo e ela falou na cara delas que era a perseguição escrota que eu sofri por causa do garoto e elas aparentaram ficar mal, tudo falsa. Depois as meninas do coral chamaram a Zoe pra ficar mais tempo com elas e a loira aceitou se enturmando bem rápido, isso me deixou muito feliz. E como de praxe, um jogador do time de baseball a chamou pra sair e ela deu o não de costume. Nunca entendi, tinha até uns garotos legais, mas ela sempre recusava com cara de desdém.  Atualizada sobre os últimos acontecimentos da minha antiga instituição de ensino, contei pra ela o que aconteceu comigo. Disse que ela gostaria da Chloe, que era com certeza a melhor pessoa daquele lugar, depois disse sobre as aulas, o professor gato de matemática e quando cheguei no vocalista, descobri o nome certo dele.

– Ainda não acredito que joguei meu cachecol no lixo. Era pra ser uma boa ação de natal, eu maltratei meu melhor investimento de quando eu tinha cinco anos... Aquele Dony - Ela me interrompeu pela, sei lá, décima vez, dizendo que ele se chamava Dan. – Foda-se,  ainda teve a cara de pau de mandar aquela.. Cantada? Nem sei se posso chamar assim. Ele tem problemas sérios Zoe... Beijou uma menina e ficou me olhando, quando se beija os olhos devem ficar fechado, certo? É um cretino.

– Sabia que tem uma página no face chamada "Dan Cretino"? Devia curtir. - Rimos e neguei com a cabeça.

– Não, perca de tempo. E eu sei que ele não vai tentar mais nada, acho que entendeu que ele ganha mais com as outras.

  Depois de falar sobre isso, não fiquei presa nesse assunto, até porque não merece destaque, mostrei o desenho que fiz na hora do almoço e como sempre, Zoe escaneou e postou na minha conta no Devian Art. Era meio famosinha e eu sempre postava meus desenhos lá, apenas os mais íntimos, ou os que dava de presente a alguém, que não eram postados na plataforma. Estávamos lendo e respondendo os comentários, quando minha mãe chamou a gente pra jantar e interrompemos nossas atividades muito importantes para comer a deliciosa macarronada de Dona Bianca. Tivemos um jantar agradável e Ian estava reunido com um bom humor, então estava perfeito. Quando já estava ficando um pouco tarde, meu pai se ofereceu para levar Zoe em casa e nos despedimos no portão, voltei pro quarto indo tomar meu banho e arrumar as coisas pro dia seguinte.

  Confesso que achei que o restante da minha vida escola seria tranquila, mas aquele lugar não era normal, na verdade, as pessoas dali tinham coisas a menos funcionando na cabeça. Tudo começou quando resolvi enrolar mais no banho depois de acordar atrasada e saí de casa um bem mais tarde que o normal, coloquei a meia calça de novo, mas deixei os cabelos soltos, estavam felizes hoje. Ah sim, quem tem cabelo cacheado deve me entender, eles são sensíveis, então não é todo dia que resolvem ficar bonitinhos. Caminhei com a loira até a minha antiga escola e depois segui caminho ao som de Halsey, estava cantando gasoline mentalmente quando um som, bem mais alto que o dos meus fones, chamou a atenção. Vinha de dentro da escola e aquilo com certeza não devia ser real.

  Guardei o telefone e o acessório no bolso e caminhei para dentro do prédio escutando o volume aumentar cada vez mais, quando cheguei ao refeitório tomei um susto, tinha aluno quase tirando a roupa enquanto dançava, meninas em cima das mesas fazendo twerk e muito casal quase se comendo em outras. Mas o que realmente me chamou a atenção, foi ver a Chloe em uma mesa num canto sendo a DJ da "festa". 

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