A visita

11 0 1
                                    

Ele acordou com o som do sino da catedral batendo várias vezes pela última vez, anunciando a hora de ir embora e trancar suas janelas e portas.
Roberto resmungou e fechou a porta do quarto e a janela para abafar o barulho. Deitou-se novamente e ficou olhando para o teto marrom da casa.
E então, o som de uma janela sendo quebrada.
Roberto deu um pulo da cama. Saltou para o criado-mudo ao lado da cama e puxou na sua gaveta um revólver Smith & Wesson, checou as balas e o manteve na mão direita.
"Você devia acreditar mais no que as pessoas contam, chefe", uma voz falou da sala.
A porta da casa dava para a cozinha. À esquerda estavam a sala de jantar e a de estar, e seguindo a direita tinha-se um corredor estreito que levava ao quarto de hóspedes (à direita), ao banheiro (à direita) e ao quarto onde a preza da coruja estava (à frente). Não demorava para cruzar todos os cômodos e chegar ao seu quarto.
Roberto apontou a arma para a porta e a destravou. Era possível ouvir um alto som de baques vindo da janela. Eram duas corujas batendo contra o vidro com uma força bizarra de tão grande. O vidro rachava a cada batida.
A mão de Roberto formigava, suas pernas tremiam. O chão era de madeira, logo podia-se ouvir os passos do homem chegando cada vez mais perto.
A maçaneta girou apenas uma vez.
"Você é parte da mãe natureza, não é superior a ela", a voz disse.
Quando Roberto percebeu que o homem estava na porta, apertou o gatilho até ouvir apenas os cliques de uma arma sem balas.
Nenhum som além das corujas.
As corujas!, ele lembrou. Mas já era tarde: elas tinhas quebrado o vidro e agora voavam contra Roberto, aplicando rasantes e bicudas pelo seu corpo inteiro, principalmente no rosto, onde dói mais.
De olhos fechados para não ser cegado, Roberto começou uma pequena corrida para se afastar das aves.
Mas antes que pudesse se afastar, seu corpo travou.
Uma lâmina atravessara seu peito. A lâmina do homem que invadira sua casa. Ele abriu os olhos e viu quem era o assassino: o mesmo "mendigo" que batucava em seu tambor naquela manhã.
"Você não pode matar a mãe natureza. Nós devemos cortar o mal pela raíz", ele falou, se referindo à impureza do povo da cidade que começou após a chegada de sua empresa. Roberto era o culpado do fim dos cultos.
E, embora muitos tenham se unido ao sistema, alguns manipuladores dos elementos da natureza não aceitaram esse destino.
Roberto soltou um gemido. Sangue escorregou do peito até molhar a parte inferior do seu corpo. Pôde olhar nos olhos de coruja do seu assassino. O controlador das aves que iniciou essa epidemia de morte como vingança por terem matado o poder que eles tinham. A lâmina girou no seu peito, ele sentiu algo se esvaindo do seu corpo como água correndo por dentro da sua pele e indo em direção à adaga. Seus olhos ficaram acinzentados e finalmente Roberto Riveira perdeu sua vida.

No dia seguinte a polícia encontrou seu corpo.
Uma coruja pousava na cama do cadáver, cerca de quinze centímetros longe do corpo, o encarando.
Os rituais voltaram a ser feitos e os cultos continuaram. Os magistas ganharam seu poder de volta e a cidade se tornou quem ela realmente era novamente.
Todos entenderam que foram os dominadores da Arte da Magia que criaram essa peste, criando assim ordem e obediência.
Essa foi a última morte pelos Olhos de Coruja.

Os Olhos de Coruja Onde histórias criam vida. Descubra agora