— Acorda Luís, acorda! — gritou
A respiração descompassada era tudo que conseguia ouvir enquanto segurava com força os pulsos de Amanda que me olhava assustada, eu tremia feito vara verde. Foi um pesadelo, mais um. Era isso todos os dias desde aquele maldito ano, aquele maldito acampamento, aquele maldito dia que transformou nossas vidas.
Olhei para o relógio que marcava três horas da manhã. Amanda fez menção de levantar e agarrei com mais força sua mão.
— Calma Luís — disse com sua doce voz — Eu só vou pegar um copo de água para você e já volto — beijou minha testa e saiu.
Amanda voltou com a água e me fez beber o copo inteiro, se sentou na cama e abriu os braços para mim com um sorriso. Deitei-me e a abracei bem apertado enquanto me fazia carinho nos cabelos.
— O que fazia no meu quarto? — perguntou quebrando o silêncio.
— Estava na cozinha quando começou a gritar para te soltarem — ela respondeu.
— O que fazia acordada? — perguntei confuso.
— Estava com sede — falou dando de ombros, mas eu sabia que ela estava mentindo.
— Pesadelos?
— Sim — suspirou frustrada — Eles não me abandonam.
— Você precisa esquecer isso, foi um acidente — respondi segurando sua mão de forma reconfortante.
— Eu sei Luís — Amanda falou desviando o olhar.
— Não foi você quem matou aquela garota, aquilo foi um acidente de percurso.
Quem dera eu pudesse lhe contar a verdade, seria um segredo que guardaria comigo para o resto de minha vida.
— Você não sabe. Nenhum de nós sabe quem fez aquilo.
Após essa frase ficamos em silêncio com nossos próprios pensamentos até que percebi que Amanda adormeceu e decidi me entregar ao sono.(...)
Quando acordei já não havia ninguém em casa, tudo estava silencioso. Desci as escadas e fui direito para cozinha me deparando com a mesa posta com o café da manhã.
Comi tranquilamente e fui tomar um banho quente. Meu banho fora bem demorando, saí do banheiro com a decisão de procurar ajuda profissional para esses pesadelos, não ia continuar assim.
Enquanto me arruma meu celular começou a tocar, corri para pega-lo e vi que era Aline.
— Alô?
— Luís, graças à Deus você atendeu — suspirou — Onde você está? Porque não atendia? — Aline parecia agitada, mais que o normal.
— Estava tomando banho, o que houve?
— Você precisa vir para minha casa agora, só falta você e o Fernando.
— Mas o que houve Aline? Por que está tão nervosa? — perguntei de certa forma preocupado.
— Luís, apenas venha. Se apresse, por favor.
Desligou sem ao menos me deixar responder. Arrumei-me o mais rápido que pude e saí de casa. Eu estava tremendo de repente, isso era como intuitivo, sempre acontecia quando eu sentia que algo estava errado. Quinze minutos se passaram até eu estar em frente a rua de Aline, estacionei perto do carro de Fernando e andei depressa até a porta. Três batidas e Aline apareceu com cara de quem viu a morte.
— O que aconteceu? — Perguntei entrando na casa e dando de cara com Amanda e Fernando com a expressão de Aline — Porque estão todos aqui?— Está acontecendo algo Luís, e não é nada de bom — disse Fernando pegando uma bolsa do chão pousando na mesa de madeira no centro da sala — Isso está acontecendo — Abriu a pasta e retirou dela um animal morto sem a cabeça.
— Mas que porra é essa!? — perguntei quase gritando com uma expressão de nojo no rosto — Que brincadeira mais idiota é essa?
— Todas as manhãs as sete eu recebo cartas em branco anónimas — disse Aline — E hoje encontrei essa — Pegou um envelope branco com machas de sangue e retirou de lá um papel escrito:“Eu sei o que vocês fizeram no acampamento”
— Faz três dias que recebo essas rosas brancas ensanguentadas — Amanda falou — E hoje encontrei elas na porta de casa com esse bilhete — Pegou o pequeno pedaço de papel e me entregou.
“Não vai adiantar vocês se esconderem de mim, vou acha-los”
O mais estranho era que eu não recebera sequer um sinal de fumaça. Por que meus amigos estavam sendo ameaçados e eu não?
Meu celular começou a tocar e todos olharam para mim
— Alô? — Era um número desconhecido — Quem é?
— Como está sendo a reunião? Gostaram dos presentes?
— Quem fala? — gritei.
— Coloca no viva voz — disse Fernando vendo meu estado de choque.
— Quem eu sou não importa, gostaram dos presentes? — novamente perguntou, sua voz era de quem estava sorrindo do outro lado da linha.
— O que quer da gente? — gritou Aline — Quem é você?
— Vocês sabem o que eu quero. Eu vou fazer com que paguem pelo que fizeram — dito isso, desligou nos deixando mais apavorados.
— Eu não quero morrer gente, eu não quero e... — a garota falava de forma rápida e desesperada.
— Cale a boca Aline! Ninguém aqui vai morrer — Disse Fernando visivelmente irritado.
— O que vamos fazer? — Perguntou Amanda que parecia abraçar a si mesma com os braços envoltos em seu próprio corpo.
— Eu não sei vocês, mas eu vou para delegacia.
— Aline, você é burra? — gritou Fernando — Vai chegar lá e dizer o quê? Senhor policial no verão passado eu e meus amigos fomos acampar e encontramos uma mulher morta no lago, à gente enterrou o corpo e ficou calado durante esse tempo todo, mas agora estamos sendo ameaçados por alguém que sequer sabemos quem é. Use essa cabeça para pensar garota!
— Vocês brigarem não vai resolver nada. Então, por favor, se acalmem — alertou Amanda.
— O que vamos fazer então? — perguntei encarando um de cada vez, não contaria a verdade, não com eles bravos e assustados desse jeito.
— Vamos nos defender — disse Fernando pegando tudo e colocando dentro da bolsa.
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O Troco Macabro
Short StoryToc Toc Toc Era o único som que se ouvia naquela ruela escura e vazia. Eu sabia que estava sozinho, mas era como se alguém me olhasse e fazia com que constantemente eu virasse para trás há cada passo que dava...