"Monstros são reais. Negar a existência dos mesmos é deveras perigoso"
Acordo com o sol entrando pela janela escancarada e deixando uma faixa cor de ouro no meio do quarto. A poeira brilha, evidenciada pelo raio de luz. Sento-me na cama e tento me lembrar da noite anterior. Não sei o que me deu, mas parece que corri uma maratona. Meu corpo está pesado e minha cabeça dói. Vou até a janela e olho para a rua só para constatar, com imensa tristeza, que nem a luz do dia consegue animar os moradores desse lugar pavoroso. Tudo continua silencioso e vazio. Isso me deixa irritada.
Ando pela casa pensando na janela aberta. É normal as pessoas dormirem assim em cidades pequenas, certo? Eu não me lembro de ter aberto essa droga, mas eu saberia se alguém invadisse minha casa, né? Caminho pelos quatro cantos do ambiente, e tudo está igual, nada sumiu, e nem sinal de outra pessoa ter entrado. Devo ter me esquecido de trancar, e o vento deu um jeito de empurrar a cortina um pouco para o lado. É, foi isso.
Depois ter tomado um café-da-manhã rápido, é hora de me concentrar no essencial, mas antes preciso falar com a minha mãe. Mesmo que a ideia não me agrade nada, é hora de voltar a caminhar pelos paralelepípedos soltos desse lugar abandonado, e tentar arrumar uma internet, telefone fixo, ou qualquer meio de comunicação com o mundo exterior, então me troco e logo estou na rua trancando a porta atrás de mim.
Na praça, os velhos ainda estão lá e uma carroça contorna uma das ruas. Ao menos aqui algo parece vivo. A mercearia está com as portas abertas, mas sei que nem adianta. Que se dane aquele velho mal-humorado. Olho de um lado para o outro, e penso que minha melhor chance é o mercadinho, então dou meia volta e vou até lá. A atendente rechonchuda segue mascando o chiclete, mas não posso julgá-la. O tédio deve levar a inúmeros vícios.
— Bom dia... será que você sabe onde posso usar a internet por aqui? Meu celular está sem sinal desde que cheguei... — levanto o aparelho para ela e me aproximo do caixa.
— Não pode — ela sorri, com dentes afiados, e eu fico sem saber o que fazer.
— Ei, Carolina! — a voz familiar me causa arrepios e, assim que eu me viro, lá está o garoto na porta da vendinha, já subindo os degraus para me alcançar. O indivíduo consegue ser ainda mais branco sob a luz do sol. — Algum problema aí?
— Queria dizer que não —suspiro. — Preciso falar com a minha mãe. Não tem mesmo nenhum lugar pra usar a internet aqui perto? — estou incrédula.
— Não, quero dizer, não aberto ao público pelo menos — ele dá um de seus sorrisos sinistros — mas você pode usar o meu— tira um aparelho do bolso e minha expressão é confusa. — É via satélite.
Estou desesperada demais para negar a sua ajuda, e realmente preciso contatar minha mãe.
— Vamos lá... — ele aponta para a rua— não costuma pegar muito bem em lugares fechados...
— Tá, valeu — aceno para a mulher do caixa e sigo o menino até a rua, onde ele me entrega o aparelho.
Afasto-me um pouco e disco, mas minha mãe não atende. Droga. Fica o dia todo colada no celular, mas quando precisamos, necas. Depois da terceira tentativa, resolvo deixar um recado.
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Não Fale Com Os Mortos [DEGUSTAÇÃO]
Mystery / Thriller"Uma herança. Um segredo mortal. O que fazer quando todas as verdades que você conhece se tornam apenas meias verdades? E todos parecem mentir? Como saber o que é bom ou ruim? Como definir o bem e o mal? E o mais importante... Como escapar?" Após re...