Capítulo 7 - Explicações

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Eu consegui registrar apenas parcialmente o fato de Siever estar me segurando nos braços enquanto simplesmente caiamos sem equipamento nenhum de volta à terra firme. Já tinha lido a respeito em algumas ocasiões que era muito raro encontrar pessoas com domínio de magia suficiente ao ponto de conseguirem voar. Mas até eu me dar conta disso... QUE MERDA!! ESTAMOS CAINDO!!!

Sequer encontrar pessoas com domínio de magia era extremamente difícil. Eu estava convencida que era o extremo frio atmosférico que estava me fazendo bater os dentes descontroladamente, e o ar passando veloz pela minha pele enquanto descíamos não ajudava muito. Eu apertei com força meus braços ao redor de Siever. Espero que esse louco não tenha ido atrás de mim, só pra me matar dessa queda!!!

Entramos rapidamente na atmosfera respirável e aterrissamos suavemente de volta no jardim, porém, Siever me colocou no chão e eu me dei conta que o frio não estava passando. Pelo contrário, parecia estar aumentando cada vez mais... vinha de dentro do meu corpo, sugando qualquer calor como um buraco sem fundo.

― O... que... foi... que... aconteceu??? ― perguntei enquanto esfregava os braços tentando me aquecer e tentando controlar os dentes que tremiam violentamente ― Você.... estava.... Voando!!!

Henry havia se afastado, sentado no chão e agora escondia o rosto desesperado nas palmas das mãos.

― Ele te mostrou o relicário? ― Perguntou, com a voz abafada pelas mãos.

― Frio.... ― apesar de ter ouvido o que ele perguntou, só pude balbuciar em um sussurro inaudível.

Eu ainda tentei de novo, mas não consegui responder. Estava passando realmente mal agora. O frio estava cada vez mais insuportável. Quando Siever ergueu os olhos procurando a resposta que ainda não tinha recebido, pôde me ver finalmente perder a força nos joelhos e desabar aos fortes tremores.

Ele suspirou desanimado. Aquele frio exagerado que eu sentia parecia ser a resposta que ele precisava. Levantou-se e se reaproximou de mim.

― Me desculpe.... eu tentei evitar.... disse que você não estaria preparada pra isso... mas ele não quis saber... ― Siever disse enquanto se ajoelhava na minha frente.

― ... q-q-q-que f-f-fizeram comi-migo? ― minha voz saiu pouco mais que um sopro.

― O frio não vai mais passar. Nunca mais. Terá que conviver com ele. Mas há formas de atenuar isso... Já estava muito forte quando entrou em você, por isso essa reação tão violenta logo de cara.

― O q-q-que? N-n-n-não ent-t-t-tendo.... ― eu tentei dizer. O frio agora já era tão intenso que doía. Parecia que iria virar uma estátua de gelo se um dia parasse de tremer.

― Me dê suas mãos ― disse Siever calmamente, estendendo as dele mesmo. Mas ele não esperou resposta, desatou os meus dedos, e os apertou com força entre suas palmas.

Eu não percebi de imediato, mas logo senti. O calor vinha em ondas das mãos de Siever. Aquecia todo meu corpo como se ele estivesse bombardeando uma chama suave e prazerosa para acabar com aquele frio aterrador.

Eu me deixei invadir pelo calor por um bom tempo, e notei de relance a nave estacionando próximo de nós. Marco desceu da nave e veio a passos largos na nossa direção, mas antes de nos alcançar, foi interceptado por um mensageiro que vinha aos tropeços do palácio.

Acabei fitando-o novamente, e senti que ele se debatia em um conflito interno entre vir até nós, ou atender ao chamado do mensageiro encurvado. Por fim, ele cedeu e seguiu o funcionário pelos corredores escuros, zangado.

Siever permaneceu ali, de mãos dadas comigo até o amanhecer. Ele estava certo. O frio não havia passado. Me senti relativamente melhor, mas cada brisa morna parecia um vento gélido contra minha pele.

Deuses caídos da Criação - DCCOnde histórias criam vida. Descubra agora