A nave de Siever era impossivelmente veloz. Um nível de tecnologia provavelmente ainda desconhecido e inimaginável para as pessoas normais da galáxia. Em menos de 20 horas de viagem nós havíamos atravessado mais de três mil parsecs até chegar ao quadrante 87. Não conversamos muito durante a viagem. Siever apenas explicou os detalhes.
Eu tinha compulsoriamente me tornado a guardiã da Relíquia da Criação, que controlava os poderes que envolviam a matéria. Poderes! Magia! Nunca havia imaginado entrar nesse meio. Minha mãe sempre dizia que aqueles que praticavam magia provavelmente viviam em seitas alienadas.
E os efeitos colaterais eram os piores. Os níveis de poder da relíquia estavam sempre em franca expansão. Controlar não significava manter guardado. Era justamente o oposto. Eu deveria usar a relíquia para drenar o excesso de poder e assim, evitar que explodisse. E era tudo muito confuso e assustador.
Como a matéria suga energia, inclusive calor, a relíquia iria sugar para sempre o calor do meu corpo e das coisas ao meu redor. O frio que isso causaria seria uma constante, o oposto de Siever por exemplo. Ele se assumiu guardião da Relíquia da transformação, correspondente com a energia. E ele estaria sempre exalando energia pura do corpo, então deveria sempre se policiar para não super aquecer e cozinhar de dentro para fora.
Por outro lado, eu ironicamente estaria praticamente imune às altas temperaturas, já que não importa quão quente, se eu soubesse como, poderia simplesmente absorver o calor externo, assim como ele estaria imune ao frio, porque não importa quão frio, ele sempre produziria mais energia para suprir o corpo.
A primeira e melhor forma, de acordo com ele, de equilibrar as duas relíquias era manter a proximidade uma da outra. A Relíquia da Criação iria sempre absorver a energia excedente da Relíquia da Transformação, enquanto estivessem dentro de seres vivos, e assim, ela poderia se aquecer, e ele poderia se resfriar. A segunda forma, era literalmente explodir. Eles deveriam procurar um local isolado e deixar o excedente da energia sair livremente de seus corpos. Era eficiente, e potencialmente não letal, mas pelo que ele deixou transparecer, doía, e tinha que ser feito, principalmente por mim já que a relíquia tinha estado fora de um corpo vivo por quase dezoito anos, acumulando a si mesma, e deveria estar incrivelmente instável.
Mas essa não era a parte que mais havia me assustado. Aparentemente o meu corpo iria parar de mudar de forma perceptível. Em pouco tempo a Relíquia estaria fundida perfeitamente à minha alma e isso seria expresso no corpo. Eu não envelheceria mais, nem me incomodaria tanto com o frio. O problema era sobreviver até lá. Era necessário que meu corpo fosse no mínimo resistente suficiente ao intenso fluxo de energia que passaria por cada célula todos os segundos da existência.
Siever disse que havia se posicionado tão intensamente contra a decisão de Marco em me expor à Relíquia, porque mesmo que a relíquia me escolhesse como guardiã, a estrutura do meu corpo, como uma Brard, não suportaria muito tempo e pereceria. Eu estava com os dias contados e, pelas contas dele, não eram muitos.
― Você está bem? Estamos chegando ― disse ele, se aproximando da órbita do planeta. Eu assenti silenciosamente. Não tinha respostas pra dar, e ele parecia não ter muito tato com as palavras. ― Olhe, viemos fugidos do palácio, e mesmo estando aqui, viemos tentar apagar alguns rastros então, estaremos entrando ilegalmente no seu planeta. Tecnicamente você nunca saiu dele, então não será um problema se você reaparecer lá, e é bom que a minha chegada seja segredo para não causar alvoroços.
― Hmm... ― grunhi levemente irritada ― Até imagino por que... você tem o mesmo nome do grande bioengenheiro mais famoso da galáxia.... Siever... Siever e Gionardi... eu mesma não me surpreenderia se fosse, já que você não envelhece e estava, diga-se de passagem, ao lado do Imperador em pessoa. ― Lembrei de Marco e da forma como todos se portavam ao redor dele quando o vi a primeira vez ― Imperador... que surreal ― minhas palavras acabaram saindo como deboche.
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Deuses caídos da Criação - DCC
Ciencia FicciónEm um futuro milhões de anos a frente, a magia e a tecnologia já coexistiam. Os humanos expandiram-se por milhares de planetas. Várias raças híbridas evoluíram e as relações dentro do Conglomerado Imperial finalmente tinham ficado estáveis depois da...