Capítulo 4 - Respostas ousadas

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Eu nunca tinha sido a melhor aluna em Cosmografia Política, mas ao menos eu sabia que o meu sistema planetário local ficava no quadrante 87 do Conglomerado Imperial. Porém, apesar de ter percebido que a pergunta deveria ter sido retórica, eu me senti muito aliviada por finalmente aparecer alguém que falasse meu idioma e que talvez pudesse me dizer como sair desse pesadelo terrivelmente realista e doloroso.

— Qual o seu nome? — perguntou ele com um ar de moderada diplomacia.

— Alésia Latrell — Respondi franca quase sem som, mas sem conseguir conter meu alívio por alguém falar a minha língua — Que lugar é esse?

— Você não sabe onde está? — ele ergueu uma sobrancelha surpreso, mas não questionou se era verdade o que eu disse — De fato... quantos anos tens? Não me parece muito apta a ter se tornado uma invasora profissional de tão jovem que é... ainda mais para uma Brard.

— Tenho 17 anos, e não sou uma invasora. Eu estava no hospital e depois já estava aqui... eu só quero acordar de uma vez desse pesadelo horrível e encarar o outro que me espera no mundo real.

— Mundo real? Por que este não seria o mundo real? — Ele ia fazendo novas perguntas de acordo com o que eu ia falando.

— Isso... esse lugar só pode ser parte de uma alucinação... Cheio de Jomons... eu nunca tinha visto um Jomon pessoalmente... e as portas de madeira do palácio... móveis... quem tem tanto dinheiro assim? Esse lugar não pode ser real. Além do mais, é melhor eu me conformar de uma vez do que ficar protelando o inevitável.

Era horrível conversar com ele. Apesar de não ter acontecido nada demais ainda, eu não tinha conseguido relaxar o olhar por um segundo sequer. Ele também permanecia me encarando com força durante cada palavra que eu dizia.

— E o que é o inevitável? — Ele se sentou em um banco, sem desviar os olhos e ainda permanecendo absolutamente elegante e altivo.

— Que essa tarde o médico deve ter mostrado os resultados dos exames para minha mãe, e depois disso tudo, nem eu duvido que tenha dado positivo pra esquizofrenia — as palavras iam saindo de mim tão suavemente, que pareciam estar sendo pescadas por ele.

— Então, pelo que eu entendi, você, Alésia Latrell, 17 anos, é uma paciente com esquizofrenia que acha que está em uma alucinação sobre este lugar... é só isso? — ele resumiu. Eu poderia jurar que ele estava se esforçando bastante para não rir de mim. Pelo menos ele não estava tentando me matar à prestação — Você sequer sabe quem eu sou? — ele disse quase sem se conter... De alguma forma a minha irritação com ele já estava quase maior que o medo que eu estava sentindo de tudo.

— N-não, não sei.... Eu deveria? — suspirei cansada. Meu corpo ainda tremia, doía e ardia de diferentes formas e intensidades. Ainda tinha que fazer uma ou outra careta de vez em quando, se me movia de mau jeito e as correntes machucavam ainda mais a minha pele. E ele alí na minha frente fazendo perguntas cretinas e evidentemente se divertindo às minhas custas.

— Muito provavelmente sim... — ele sorriu abertamente em desdém agora, levantou-se e se aproximou quase ameaçadoramente, — Me responda uma última coisa, louca Alésia Latrell de 17 anos, como entrou no quarto de Henry? — ele já não mais sorria.

Hesitei um pouco antes de responder, tentando me situar na pergunta.

— Fala do quarto do homem que tentou me estrangular? — perguntei na dúvida, apesar de que pela lógica, eu sabia que não poderia ser outra pessoa — A porta simplesmente estava aberta... ah, e não fui eu quem quebrou todas aquelas coisas. — Ele se afastou, me olhou com mais intensidade do que nunca e por um momento eu imaginei que não podia ver mais nada além dos olhos dele, de alguma forma isso era uma pressão esmagadora, então quando ele achou que era o suficiente, simplesmente se afastou e foi para a porta — Ei... eu não quis causar nenhum problema, nem sei como cheguei aqui! Fugi dos guardas porque me assustei, não tive má intenção...

Deuses caídos da Criação - DCCOnde histórias criam vida. Descubra agora