Capítulo 18 - O passado de Henry

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Eu acabei tomando consciência de que todo o tempo que passamos internados no subsolo, Henry havia falado muito pouco ou quase nada sobre si mesmo, além de gabar-se da própria capacidade e inteligência. Dificilmente ele respondia uma pergunta direta sobre si próprio, o que frequentemente me deixava irritada, considerando que podia contar nos dedos quantas vezes ele me despertou, e que essas ocasiões não duraram muito tempo.

Durante a refeição, ele ainda permaneceu calado e emburrado. Eu estava aflita por qualquer informação que fosse, acabei perguntando:

— Quem é esse Lobrë?

Henry engoliu a comida que mastigava, e para minha surpresa, respondeu diretamente, mesmo que sem muitos detalhes e sem sequer levantar os olhos do próprio prato:

— Ninguém importante, estudou na mesma faculdade que Cásira... aparentemente costumava gostar dela.

— Hum... — eu aguardei um pouco, esperando para ver se ele falaria algo mais, então fiz outra pergunta, — E quem é Cásira?

— Foi minha namorada no tempo da faculdade... — ele respondeu prontamente ainda olhando para o prato.

De fato ele estava respondendo as perguntas, mas não consegui contar isso como uma conversa real. Hesitei um pouco, e enfim fiz a pergunta que queria realmente saber naquele momento.

— E quem é Nádia?

Eu com certeza não esperava a reação que se sucedeu. Henry engasgou violentamente com a comida e se levantou, já com o rosto vermelho e lacrimejando quando enfim conseguiu parar de tossir.

— Desculpe o mau jeito — disse ele rouco, mas não voltou a se sentar. Ele tomou um gole de água e pegou um guardanapo para enxugar o rosto, muito levemente me olhando de esguelha — Eu acho... — ele continuou alisando a boca com o guardanapo — que vou me retirar por hoje...

— Espere! — me apressei a dizer surpresa, me levantando também. — Qual é o problema? Por que não pode me dizer?

Porém, Henry não parou para ouvir. Virou-se e subiu as escadas direto ao próprio quarto, onde bateu a porta sonoramente. Eu ainda estava pregada no chão havia vários minutos com a reação intensa dele, quando finalmente dei por mim.

Frustrada, subi as escadas batendo os pés. Sabia que estava provavelmente me metendo em assuntos muito pessoais e que não me diziam respeito. Mas esse nome me incomodava bastante, ao ponto de ficar dançando em minha memória, como se cutucasse cada pensamento meu e atiçando ainda mais a curiosidade depois de tamanha reação.

No segundo andar agora haviam duas portas além da saída para a varanda. Eu me espantei com a rapidez com que fizeram, mas sabia que haviam tecnologias muito interessantes que realizavam reformas e remodelavam estruturas e inclusive paredes de uma casa em questão de minutos. Abri a primeira porta e dava para um cômodo simples e aconchegante, com um potente aquecedor ao lado da cama. Deveriam ter feito esse quarto para mim, o calor pungente não seria tolerado por muita gente por muito tempo.

Mas não me demorei para observar meu próprio quarto. Segui direto para a próxima porta. O cômodo havia diminuído consideravelmente de tamanho, mas ainda era enorme. Eu estava pronta para esbravejar com Henry, mas não consegui. Ele estava sentado na cama, com os cotovelos nas pernas e uma expressão apática no rosto. A boca levemente aberta e o olhar perdido em lugar nenhum. Sequer piscava. Parecia nem ter percebido a minha chegada.

— Ei... você está bem? — perguntei me aproximando devagar com um sorriso trêmulo nos lábios como se para descontrair a tensão. — Por que está fazendo essa cara de panaca? — Me aproximei mais e reparei que ele não teve reação.

Deuses caídos da Criação - DCCOnde histórias criam vida. Descubra agora