1- O conformismo

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O conformismo é a arte de se acomodar, de não reagir e de aceitar passivamente as dificuldades psíquicas, os eventos sociais e as barreira físicas. O conformista amordaça o Eu, impedindo-o de lutar pelos seus ideais, de investir em seus projetos, de transformar a sua história. Não assume sua responsabilidade como agente transformador do mundo, pelo menos do seu mundo.
O conformista acredita que todas as coisas são obras do destino, já o ativista acredita que o destino é uma questão de escolha. O conformista é vítima do seu passado, o ativista é autor da sua própria história. O conformista vê a tempestade e se amedronta, o ativista vê no mesmo ambiente a chuva e enxerga a oportunidade de cultivar. O conformista se aprisiona no passado, o ativista se liberta no presente.
O conformismo é uma armadilha da mente que arrasta grande parte dos jovens e adultos. Não é catalogado como doença, mas é uma característica doentia da personalidade pulverizada em todas as sociedades. Soterra habilidades, anula dons, contrai competências, bloqueia algumas funções mais notáveis da inteligência. Alguns conformistas não conseguem nem ser conquistadores no teatro social nem, muito menos, no teatro psíquico. Não exploram nem o que as pessoas têm de melhor, nem o que possuem de mais rico. Vivem na superfície.
Julio Malta - nome fictício, mas história real - era filho de um grande empresário. Sempre teve os melhores carros à sua disposição, cartão de crédito quase que ilimitado. Freqüentava os melhores hotéis. Viajava de primeira classe nos aviões e desdenhava dos que viajavam em classe econômica. Acreditava em destino. Acreditava que estava destinado a viver uma vida de nababo, de abastado, eternamente.
Todo ser humano quer ser reconhecido, todo ser humano precisa escrever a sua própria história. Como tinha tudo ao seu redor, teve uma desvantagem competitiva em relação aos seus colegas que pouco tinham. Não decifrou que, se na juventude é aceitável a dependência dos pais, na vida adulta ela é uma fonte de ansiedade, baixa auto-estima, complexo de inferioridade. Não decifrou a capacidade de lutar pelo que ama. Pensou que o dinheiro comprava tudo, mas não comprou o amor da sua esposa, o respeito dos amigos, o prazer pelas simples coisas.
Não cursou faculdade. Não se preparou para assumir um trabalho na empresa da família. Condenou se a ser um eterno dependente, um filho que vivia à sombra do pai. Pouco a pouco afundou nas drogas, se deprimiu e se tornou um alcoólatra. Até que, depois de vários tratamentos fracassados, descobriu que mais do que uma doença psíquica tinha um Eu doente, conformista, inerte, sem reação. Tinha tudo e não tinha nada. Não tinha uma história. Entendeu que um ser humano sem história é um livro sem letras. A duras penas começou a reescrevê-las. Ele precisa tratar de sua doença, mas precisava, muito mais, se recontruir como ser humano.
O conformista é inerte e mentalmente preguiçoso, pelo menos na área em que se considera incapaz, inábil. Não exerce suas escolhas por medo de assumir riscos. Não expande seu espaço por medo da crítica. Prefere ser vítima a agente modificador da sua história. Prefere ser amante da insegurança a parceiro do entusiasmo. Prefere enterrar seus talentos a dar a cara para bater. Os conformistas transformam fracassos em medo; os determinados transformam derrotas em garra.
Se um aluno não for conformista e tiver péssimo desempenho nas provas, decifrará o código da capacidade de lutar, reagir. Ficará incomodado, debatera idéias, melhorará sua concentração. Dedicará mais tempo e energia para virar o jogo e se superar, como Einstein que não era um aluno brilhante nos primeiros anos de escola. Mas se for conformista, formará janelas doentias que o aprisionarão e o levarão a acreditar que seu destino está traçado. Transformará mentiras em verdades, acreditará ser incapaz, limitado, destituído de inteligência, intelectualmente inferior aos seus colegas.
Os conformistas são os reis das desculpas. Sempre têm justificativas para não atuar, não treinar, não exercitar seu intelecto. Raramente duvidam daquilo que os controla e proclamam: " Não concordo comigo mesmo! Não aceito este destino!" Claro que há fatalidades que não dependem de nós e sobre as quais nao temos controle. Devemos aceitá- las com humildade e serenidade, mas no que depender de nós, jamais deveríamos nos isentar de agir.
Alguns conformistas vestem o manto da humildade, mas por dentro exalam o aroma do egoísmo. Nem sempre o conformista é egoísta com os outros, mas certamente é consigo mesmo.
Todos nós bebemos elevadas doses de conformismo em alguma áreas de nossa personalidade. Alguns são ótimos para resolver problemas dos outros, mas são pedimos para resolver os seus. Outros são intrépidos para estimular seus amigos a sair do lugar, mas não têm a coragem de vencer sua paralisia.

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