♠ Pesadelos... ♠

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Quando estou acordada nem ao menos lembro deles

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Quando estou acordada nem ao menos lembro deles. Bom, sei que existem, mas não consigo me lembrar como são. Resquícios de sons, de imagens borradas. Mas quando deito e minha consciência se vai, eles vêm. Atormentam meu sono com imagens desfocadas e distorcidas de rostos desconhecidos. Geralmente é sempre o mesmo pesadelo: O acidente.

"Uma criança ri abertamente de uma brincadeira boba sentada no banco de trás de um carro entre um homem e uma mulher, seus rostos estavam distorcidos, impossíveis de reconhecer. Mas eles eram gentis. Estavam conversando e sorrindo.

No banco da frente estava o motorista. "Por que ele é sempre tão sério?" - eu me pergunto. A criança ri novamente, sua risada preenche o ambiente de alegria.

Na noite escura, uma luz chama minha atenção. Pareciam dois balões brilhantes flutuando no ar. "Eles são bonitos" - penso. Mas então os balões ficam maiores, eles estavam se aproximando. De repente entendo o que são. Faróis. Olho para a família no banco de trás, muito entretida com a criança para ver o perigo a sua frente. Quero avisá-los, tento gritar mas nenhum som sai. 

Começo a me desesperar. Tento gritar novamente, mas não adianta. Minha última esperança é o motorista sério. "Por favor!" - eu imploro. O motorista viu o carro desenfreado e desviou bem a tempo. Suspiro aliviada, mas um estouro socode todo o carro. "Não!" - grito, enquanto me atiro por cima da criança no meio do banco. O carro sacode, derrapa no asfalto e então cai para fora da pista. Enquanto o carro capota, a única coisa que registro é o som do choque.

Asfalto contra metal.

Metal contra vidro.

Vidro contra sangue.

O carro para com as rodas pra cima e as portas se abrem. Olho ao redor, motorista está morto, assim como a mulher. Eu chorava, desesperada, enquanto tentava libertar a criança do cinto, mas não conseguia encostar em nada. O homem estava acordado e tentava acalmar o bebê que chorava aos gritos. Sua voz calma e autoritária dizia que tudo ia ficar bem e, surpreendentemente, a criança parou de chorar.

O homem tirou a menina da cadeirinha e se arrastou para fora do carro. Ele deu poucos passos antes de tombar no asfalto. Eu gritei por ajuda, mas não acho que alguém conseguia me escutar.

Uma mulher gritou. Estava cruzando a rua sob os trilhos do trem. Ela correu em nossa direção e eu me agachei perto do homem e da criança, aliviada. A ajuda estava chegando. Ela se ajoelhou no chão molhado, colocando seu guarda chuva sobre a cabeça do homem caído. Pegou a criança em seus braços, tirando ela da chuva. Quando ela pegou o telefone para ligar para a ambulância o homem agarrou a sua mão. Ele lhe disse algo, mas eu não consegui entender. Não conseguia ouvir sua conversa. Quando ele terminou de falar sua cabeça tombou no chão, molemente, eu sabia que ele estava morto.

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