Capítulo 5 - O Pedro

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Não, meu castigo não piorou por conta da demora de segunda-feira. (Ainda bem).

Na verdade, não houve nada a semana toda. Até quinta-feira.

Minha coleção preferida de livros é Fazendo meu filme de Paula Pimenta. Já li tantas vezes que decorei várias informações sobre os personagens principais. E foi na quinta-feira, no final da aula de Matemática, que eu resolvi anotar tudo o que sabia sobre o pessoal do livro (nomes completos, cidade onde moram, algumas datas especiais deles, entre outros).

Eu estava tão concentrada para não esquecer de nada que nem percebi quando a aula acabou e o Frank chegou para nos ensinar com sua bagagem histórica.

Esse foi o ponto de partida: a entrada de Frank acompanhada de papos fora da matéria. À medida que a galera foi se acalmando eu fui tendo uma sensação parecida com a do primeiro dia ali, mas não era a mesma. Era como se alguém estivesse me observando com intensidade.

Comecei a ficar um pouco nervosa. Minha mão ficou suada e a caneta tentou escapar dela. Eu não estava tremendo, mas meu corpo, que estava relaxado e debruçado sobre a mesa, ficou contraído. Aquilo já estava me incomodando. Olhei rapidamente para todos as pessoas que minha vista alcançava sem me virar, mas não era nenhuma delas. Elas nem pareciam estar ali, pareciam em transe. Quem me observava estava atrás de mim.

Como meu lugar na sala era na frente da fila do meio, ainda tinha metade da sala para analisar. Num movimento rápido, virei para o outro lado, mas continuando na mesma posição. No instante em que subi os olhos para a primeira pessoa a minha frente, nossos olhos se encontraram e a gente se encarou por alguns segundos. Quer dizer, na realidade foram alguns segundos, mas na minha cabeça durou algumas horas. Parecia que a sala toda havia evaporado e estávamos nós dois ali.

Mas não era assim. Havia mais algumas 20 pessoas na sala e, provavelmente, umas 5 perceberam alguma coisa ali.

— O que foi? — perguntei a ele, tentando disfarçar, por precaução.

— Nada ué. Não pode olhar pra você não? — ele retrucou.

— Eu prefiro que não.

— Agora foi que deu mes...

— Pedro, algum problema? — o Frank chamou a atenção dele.

Ah, então ele é o Pedro.

— Não Francisco, pode continuar com a aula. — o Pedro respondeu quase de imediato.

O Frank voltou com a explicação e eu continuei com as minhas anotações. Bem, pelo menos até eu me sentir observada de novo, porém não com a mesma intensidade. Mas aí eu já estava agoniada e sem paciência com essa cisma dele comigo. Por é, eu perco a paciência muito rápido.

— O que é que tu quer, hein? — perguntei, ríspida.

— Já disse, não é nada. Tô só olhando. — repetiu.

— E eu já disse que não quero que você olhe. — falei, abaixando a cabeça.

— Isso vai acabar em namoro, hein? — todos na sala pararam o que estavam fazendo e olharam pra nós quando o Frank disse isso.

— O que? — perguntei, indignada.

— Nada a ver. — foi tudo o que o Pedro falou. Sinceramente, ele podia ter dito que nunca aconteceria. Acho que nessa situação eu me sentiria melhor com essa resposta.

— Veremos se não acaba. — ele disse, e logo depois começaram as piadinhas abafadas.

Por precaução, parei de escrever e prestei atenção na aula.

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⏰ Última atualização: Mar 24, 2017 ⏰

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