Capítulo III

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Mais uma manhã. Acordei animada, coloquei uma música. Escovei os dentes dançando. Estou no emprego novo. É divertido apesar de cansativo, sou balconista de um café. Limpa mesa, coloca o capuccino, limpa o chão, boa tarde senhora, no que posso te ajudar. Uma amiga trabalho comigo, Jéssica. Ela é "good vives", tudo está sempre perfeito e lindo. Isso me irrita um pouco. Mas eu relevo, ela me faz sorrir. Não sei se tenho a mesma importância na vida dela, mas acho que ela gosta de mim também.

Toda semana os funcionários do Club Café alternam suas funções. Hoje estou no caixa. Não gosto muito porque não sou muito boa com contas. Fico com receio dos clientes acharem que estou demorando com o troco. Porém, modéstia a parte, eu dou meu melhor sorriso, e os clientes esperam e papeam comigo.

A porta do Club Café tem um sino. Eu nunca reparo, pois sempre tem gente indo e vindo. O sino desta vez tocou junto com a minha respiração. E eu não pude evitar olhar para a porta de madeira que se abria. Uma mulher, uma mochila grande, os cabelos compridos e altos. Os olhos enormes e negros. A pele do seu rosto contrasta com a iluminação que entrou com junto ela. Sua boca em reta. Isso tudo foi em um segundo. O cliente impaciente com minha pausa me chamou novamente. Jéssica estava rindo de mim. Balançou a cabeça de um lado para o outro, e peço desculpa ao senhor.

Minha visão periférica a viu sentar perto da janela. Sem clientes na fila, pude contempla-la.

- Calma Val, limpa seu queixo! Ela já vai vir pedir um café já, já.

Meu olhar a Jéssica foi uma mistura de raiva com cumplicidade. Odiava saber o quanto ela me conhecia.

Parecia uma eternidade, foram 6 minutos de espera.

-Olá, eu gostaria de um chá de camomila, por favor.
Disse com uma voz semi rouca. Parecia que tinha horas que não conversava com ninguém.

- Claro que sim! Qual o nome dá senhora por favor? Eu disse.

- Helena.

- Bonito nome! UM CHÁ DE CAMOMILA POR FAVOR! gritei em direção a cozinha. Dei um sorriso torto a Helena. Ela mexeu no cabelo. E sorriu com olhos, que fitou o chão por segundos. Escrevi seu nome no copo.

Enquanto ela aguardava, eu fiquei pensando, pensando no que fazer para conseguir conversar com ela. Algum meio de comunicação. Olhei para Jéssica com os olhos pedintes. Jéssica deu de ombros, ela era péssima em conquistas.

Esperei o pedido de Helena. Chamei o nome dela.

-Helena. Seu chá!

- Obrigada! Desculpa, qual o seu nome?

- Ah, Valkiria. Me diz, o que você carrega na mochila deste tamanho, um corpo? E sorri.

Ela sorriu sem graça, virou as costas e foi sentar-se. E eu fiquei me perguntando que tipo de pergunta estúpida, deste nível, atrairia alguém para um primeiro encontro.
Jéssica me olhou de longe, veio até mim, deu alguns tapinhas nas costas tentando me consolar. Voltei ao caixa. Helena não olhou mais para mim. Lia um livro. Tão absorta.

Deixei meu número de telefone abaixo do nome dela, no seu copo de chá de camomila.

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