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Acordo, atordoada... e os raios de sol que entram pela janela gradeada batem diretamente em meus olhos...

Sento-me, minha cabeça está às voltas.

Dói. Dói-me não o corpo, não é a carne que me dói. Dói-me a alma, dói-me como se esta fosse feita de carne, e não de espírito. Eu nunca pensei que pudesse algum dia sentir esta dor.

E porquê é que me dói??

Procuro chorar, lavar a alma... não é isso que se diz por aí? Que chorar, lava a alma, que as lágrimas que brotam dos olhos levam consigo toda dor, a medida que escorrem... quem sabe assim, faça passar esta dor insuportável aqui dentro. Porém, faz tempo que me acabaram as lágrimas. Irónico, logo eu, a fonte das águas infinitas...

Três.

Esse é o numero de dias que estou aqui, trancafiada como um animal selvagem. Enjaulada. Sem direito de nada, nem comida, nem bebida, muito menos liberdade...

Um cômodo pequeno e fedorento, sequer há uma cama para eu descansar, ou uma coberta para que me possa proteger do frio. Tenho apenas a roupa do corpo, e uma capulana* velha, que era da minha tia...

Encosto-me num canto e me encolho, a espera que mais um dia passe.

O que será que eles querem de mim??

[...]

Acordo depois de um tempo, e demoro a acreditar na razão de eu ter tido o sono interrompido..

São Vozes!!

Eles falam. São homens. Douas vozes. Dois homens.

̶ Policia!!

Um alívio toma conta de mim. Como se minha alma machucada estivesse sendo lavada ..

̶ Socorro!! Aqui , Ajudem!! ̶ grito desesperada, recolhendo as forças que julgava ter perdido aos poucos, neste inferno de lugar... ̶ Nyandayeyoo!!!

**********

Enquanto isso...

Os dois colegas, descem do carro e andam debaixo daquele sol escaldante, numa zona deserta. Investigando uma denúncia anónima de que havia alguma coisa estranha naquele casebre no meio do nada...

̶ Haaaa Não há cá ninguem, isto está vazio, deixei minhas cervejas para um tour por ruinas vazias ̶ diz Mário desanimado

Apercebendo-se que seu colega se afasta em direcção a uma parede, o outro polícia pergunta:

- Onde vais Beto?? BETOO!?- grita.

- Esta alguem aqui Mário, e está a falar, mas não ouço como deve ser...- diz o primeiro polícia (Beto )

O outro policia Gargalha, ri- se bastante, e recuperando o fôlego pergunta:

-Assim já falas com paredes Beto??

- É serio Mario, esta a falar pra mim..- Respondeu Beto.

-Vamos Beto, deixade namorar com as paredes- Mário debocha..

Frustrado, por não estar a ouvir direito e achando que era coisa da sua cabeca, por influência de Mário, Beto se rende..

- Yah vamos, deve ser coisa da minha cabeça...- disse, saindo.

*************

Estão a ir embora -não!- eu não posso morrer aqui, não depois de tudo que passei, seria covardia minha ficar aqui pra morrer...

Recolho forças e grito denovo...nada! ouço o carro ligar-ai meu Deus! , não vão! -grito.

Recolho minhas últimas forças e olho pra janela, sem pensar me levanto e corro em direcção a ela...-se isto não servir, pelo menos morri tentando- digo para mim mesma e pulo.

Pela primeira vez, eu ví a vida em câmara lenta. Ouvi cada som, e vi tudo que havia passado, cada dia, cada hora, cada momento, cada sentimento...

Tudo que senti foi o vidro rasgando minha pele... tudo que ouvi foi o som do vidro, estilhaçando-se em mil e um pedaços... e depois disso, nada mais....

Apenas azul... um imenso brilho azul...

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Capulana*- Tecido tipico, africano, colorido e cheio de formas e/ou desenhos, que dão a conhecer a vida e o quotidiano africano, usado maioritariamente pelas mulheres para cobrir o corpo, geralmente usa-se amarrado a cintura, ou na região acima dos seios, ainda se pode usar como lenço para cobrir a cabeça.

Nyandayeyo – Socorro em Xichangana.

Vlw !!!É Nois!!

ATÉ AO PROXIMO CAPITULOOO...


LwandleOnde histórias criam vida. Descubra agora