Virando a esquina da escola, paro meu strada azul escuro de qualquer forma em frente à garagem de um restaurante qualquer sem me importar em estacioná-lo corretamente. Tiro meu ray ban e viro o retrovisor para que eu possa dar uma última olhada em meu novo visual.
Foi uma boa escolha: pele bronzeada, cabelo castanho ruivo, olhos castanhos emoldurados por sobrancelhas grossas e bem definidas, um nariz arrebidado e um pouquinho largo e uma boca pequena e carnuda.
Tudo isso ainda era novidade para mim e eu ainda teria que acostumar-me a estes detalhes que compunham minha nova personagem.
Sempre gostei deste estilo "verão o ano inteiro", apesar de mudar muito de aparencia a cada missão. Na verdade, faço questão de variar. Não só no visual como no meu estilo, estratégias e vítimas. Além destas regras estratégicas fazerem-se necessárias para que eu não seja rastreada por vítimas anteriores, qual seria a graça se todo ano o enredo fosse o mesmo?
Alguns nefilins, sentem certa dificuldade para exercer suas missões quando possuem corpos menos convidativos ou quando suas vítimas são mais corretas ou caretas. Mas não me incomodo. Obviamente prefiro ter um corpo sensual e ter vítimas mais sensuais ainda. E quem não gosta? Mas sei quais características devem ser usadas para cada tipo de missão. E... Francamente? Não é preciso muito para enganar os humanos.
Chequei no meu novo celular as horas. Marcava sete e dois da manhã.
Saio do carro colocando de volta meu óculos com minha pequena mochila de couro preta e tranco-o, ajeitando minha calça jeans e minha regata branca e firmando o nó da jaqueta xadrez ao redor do meu largo e recém aqduirido quadril. Sinto-me confortável ao andar para a entrada do campus neste corpo. Suas pernas são longas e finas. Confortáveis para andar sem muito esforço. Não era como o último corpo que possuí. Ele tinha pernas curtas demais. Era ridículo o esforço necessário para andar míseros 20 metros. O único incômodo real era o calor que eu tinha que suportar com aquela calça jeans. Um inferno. Pelo menos costuma ventar bastante em Vitória. Era uma cidade interessante e fazia pelo menos 50 anos que eu não passava pelo Espírito Santo. Seria bom ter uma nova experiência na cidade. A última vez foi... bem, diferente.
- Bom dia. - Cumprimentou-me uma mulher em frente ao portão da Escola Salomão Freire, onde eu realizaria a minha missão, tirando-me de meus devaneios, enquanto oferecia-me um panfleto.
Sorrindo forçadamente, peguei-o, jogando-o fora 3 metros adiante em uma lixeira ao lado da porta dupla de vidro que dava início ao campus.
À frente, várias catracas lado a lado bloqueavam a passagem e uma mesa ao lado delas era cercada por três mulheres que olhavam para mim com certa antipatia enquanto conversavam entre si.
- Você é do primeiro ano? - Perguntou a loira entre elas ao liberar a passagem para mim.
Tirei meu óculos e a encarei. - Não. Transferida. - Levantei a sobrancelha para a inconveniente que bloqueava a passagem e causava um engarrafamento de alunos que desviavam de mim como baratas tontas.
- Então você deveria ter vindo de uniforme. - Cruzou os braços, levantando a sobrancelha em resposta.
- Vou comprar o uniforme ainda. Vim transferida do campus de Domingos Martins.
- E você é de que ano? - Ela estava certamente desconfiada.
- Terceiro. - A mulher franziu a testa, perdendo a pose. - Posso entrar? - Revirei os olhos devido a sua incompetência. É sério: Já havia uma galera encarando nós duas devido ao entrave que causamos na entrada.
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Ascensão
FantasyPrimeiro lugar em Fantasia no concurso "The Óscar Literário" e finalista nas categorias "melhor protagonista" e "novos talentos" no segundo semestre de 2017. Segundo lugar em Fantasia no projeto "Uma Dose a Mais" em agosto de 2017. Vencedora nas cat...