07| Uma presa incrivelmente cínica

114 16 29
                                    

Levantei a porta da sala de aula com cuidado para não fazer papel de idiota mais uma vez. O que deu certo, apesar do ruído agudo que fizera alguns zumbis, com olhos marcados pelo sono, protestarem em vão.

Ignorei-os, fechei a porta bruscamente, causando um ruído ainda maior, e fui em direção ao meu novo, e nada bem vindo, lugar.

Enquanto isso, o professor me fuzilava com o olhar e continuava a falar qualquer merda desimportante.

Virei meu corpo assim que ele se voltou para o quadro e me dirigi a Marcelo:

- Você vai direto lá pra casa depois da aula, né? - Perguntei a ele, me referindo ao trabalho em grupo que faríamos com a tal Lívia.

- Claro! - Ele falou animado, se inclinando sobre a mesa para poder cochichar para mim, e depois sorriu torto para sua futura vítima, que, por sua vez, olhava-o com ansiedade e empolgação.

- Boa, garoto - incentivei-lhe. - Assim que der eu saio do apartamento para buscar alguma coisa.

Ia me virando de volta quando ouvi sua hesitação. - Eer... - O que foi agora? Arqueei minhas sobrancelhas involuntariamente. - Era assim que você pretendia fazer? - Era? Por que eu não vou mais? - Eu chamei o Alex para ir com a gente. Ele estava sem grupo.

Merda. Esse garoto não poderia ser mais burro. - Ok, Marcelo. Eu dou um jeito. - E virei-me, enfim, para frente.

- Ah. Não fica assim! Pensei que seria bom para ele te ajudar, já que você faria tudo sozinha enquanto eu e Lívia... Bom. - Bem próximo a minha orelha, ele parecia sorrir maliciosamente. Eu podia ouvir o barulho de sua saliva, em excesso devido pensamentos obsenos.- Você sabe, né.

Folgado. - Como disse, eu dou um jeito.

Antes que ele pudesse protestar contra minha insatisfação, o professor encarou-nos enfurecido, o que o fez voltar para a posição original na carteira.

Olhei para Alex. Ele parecia ter nos observado enquanto conversávamos, mas virara para o quadro antes que eu pudesse confirmar a suspeita.

De acordo com o que pude perceber ontem, ele não se retiraria do grupo, mesmo sabendo que poderia incomodar alguém.

Ele não agia como os outros.

Na verdade, ele não era como os outros. Não era nada usual. O modo como reagia a tudo... totalmente imprevisível.

Me vi, então, intrigada, enquanto apoiada pelo cotovelo à mesa. O queixo marcado pelos nós dos dedos a que se assentavam.

O que fazia este humano agir assim? Nunca encontrara tal peculiaridade em missões anteriores. Ou até antes das missões.

Tirando-me de meus devaneios, meu celular vibrara ao anunciar a chegada de uma nova mensagem.

"Bora para a rua do lado no intervalo?"

Era a primeira vez que Leonardo assumia a iniciativa de ir fumar comigo.

"E precisa responder?"

Observei-o da forma que podia do meu lugar: Leo estava debruçado à mesa, batendo seus longos dedos no canto de sua mesa, claramente ansioso, e avançou ao celular no instante em que enviei a mensagem.

Sorri novamente, satisfeita com o estado de minha vítima.

"Beleza então, gatinha."

Para falar a verdade, eu gostava da forma com que Leo tratava todos com intimidade. Era proveitoso para mim a proximidade que isso proporcionava.

AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora