02| Análises Iniciais

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- Pois não? - Perguntou a professora, intrigada.

- Com licença - Disse, com falsa timidez. - É a sala do terceiro ano C?

- Sim.

- Eu fui transferida de Domingos Martins.

- Ah... - Sua sobrancelha franziu. O resto da turma alternava expressões como a dela e olhares de surpresa. Um baixo burburinho começou a inundar a sala de aula.

Imagino que não sejam comuns transferências por aqui. Ou até que não existam, visto que a minha foi forjada por contatos administrativos da direção da escola.

-Pode entrar, fique à vontade.

Analizando as minhas poucas opções, sentei na penúltima carteira do canto direito da sala, onde o grupo aparentemente menos tedioso estava. Eles eram quatro: à minha frente, um garoto pardo de cabelo black power. Ao nosso lado, três figuras que olhavam para mim desconfiadas, como se eu fosse um objeto a ser analisado. O primeiro era um menino de cabelo preto e feições delicadas. À frente dele e ao meu lado, uma menina de cabelo castanho sorria para mim e, apesar das terríveis olheiras disfarçadas por uma camada grossa de base e pó compacto abaixo dos seus olhos azuis, ela tinha uma aparência convidativa e meiga. Enfim, o último pastel que me olhava, com um sorriso de orelha a orelha, era outro garoto. Este magro e muito branco de cabelo loiro até os ombros.

Pelo menos eles parecem receptivos, falei em minha mente.

- Na verdade, estamos um pouco surpresos. Não esperávamos uma nova aluna agora. - A professora justificou a reação da turma. Todos os alunos daqui se conhecem há pelo menos dois anos, pois entram na escola pelo processo seletivo no primeiro ano. Transferências só acontecem até o iníco do segundo ano... Normalmente. - Ela parecia pensativa.

Sou a grande novidade então, não é? Isso trouxe algumas ideias para minha missão.

- Sim, eu sei disso. - Menti. - Em Domingos Martins também é assim. A minha transferência foi emergencial.

- Ah. É verdade. Mas você não precisa explicar. - Ela disse, obviamente contradizendo a curiosidade estampada em seu rosto. - Eu sou a Neila, professora de Geografia. Qual é o seu nome?

- Érika. - Me apresentei com um sorriso de canto de boca. Os poucos garotos da sala me olhavam fixamente. Enquanto me encarava, um tanto quanto animado, olhei ainda sorridente para o menino a minha frente por poucos instantes. Sem entender e claramente confuso ele desviou o olhar, mas logo o redirecionou para mim.

- Ana. - A voz da professora chamou nossa atenção e a menina ao meu lado ergueu a cabeça. - Mostre a Érika o campus no intervalo e a apresente a alguns outros alunos. Ela é a nossa líder de turma. - Finalizou, olhando para mim.

Ana enfim sorriu e concordou. Em seguida piscou para mim simpaticamente. Sorri de volta. Ela parece o tipo de vítima interessante para uma missão. O tipo que costuma me divertir.

- Oi... Estes são Leo, - disse, apontando para o loiro a sua frente, - Marcelo, - para o moreno de trás, - e Thiago, - para o "black power" à minha frente. Todos sorriram.

Cumprimentei-os simpaticamente, mostrando certa animação. - Ela é sempre assim? - Cochichei, apontando com a cabeça para a figura forçada, quase congelada, que tentava chamar atenção dos alunos com sua aula.

- É... Ela é meio estranha. Sempre tentando parecer mais velha. - Leonardo me respondeu. - Toda formal e... e...

- Frígida? - sugeri, provocando risadas reprimidas dos quatro.

- Por aí. - Concordou Marcelo, tentando não rir, enquanto a professora olhava desconfiada para nós.

As aulas prosseguiram. Chatas. Entediantes.

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