05| Relatos dos Meses de Camuflagem

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ATENÇÃO:
Este capítulo está pela metade e tive que postar o que faltava depois, em "05|   *Continuação*". Decidi postar logo, pois não postava nada fazia tempo.

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Também começarei, a partir deste capítulo, a indicar o momento que vocês devem dar play no vídeo para ouví-lo em harmonia com a narrativa.

Att.
Nicole De Mori Nicolini.

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Dois meses se passaram.

Para Ana, eu era como uma "nova amiga de infância". Ela se identificava com meu comprometimento escolar e minhas preferências caseiras.

As caronas tornaram-se rotina. Os almoços em seu apartamento e as tardes de estudo também.

Seus pais tomaram-me como afilhada, sensibilizados por meu "abandono" parental e pela história de alcoolismo familiar que a garota havia contado a eles e que eu havia citado no primeiro dia de aula, mas que deixei para desenvolver ao longo desses dois meses.

Na verdade, eu optei por alcoolismo dessa vez por causa da Maira. Ela se identificaria com isso.

Seus atrasos causados pela Mãe Bêbada tornaram-se cada vez mais graves. Suas faltas, mais frequentes, fazendo-a perder provas e trabalhos.

Eu me aproximei dela nesse meio tempo, mas de forma sutil.

Sorria melancolicamente toda vez que ela aparecia na sala de aula, como se entendesse o significado obscuro por trás de cada falha cometida, tentando deixá-la mais forte para enfrentar tudo pelo que ela passava.

Fazia questão de chamá-la para trabalhos em grupo, mesmo quando ninguém fizesse devido a sua "falta de compromisso".

Certo dia, nos reuniríamos após a aula para discutir sobre uma pesquisa, mas, mais uma vez, ela não poderia ficar.

Ao ver que ela ia embora antes do sinal bater, me levantei apressada para alcançá-la no corredor.

-Maira! - Corri na direção da menina apressada, mas curiosa devido a minha abordagem. - Eu só queria dizer... - Mexi nos cabelos e passei meu peso para o outro pé, indicando nervosismo. - Que não precisa se cobrar tanto. Você não pode abrir mão da sua vida... - A menina, apesar de ainda com pressa, estava emocionada, mas passava por uma luta interna. "Abrir o jogo ou não?". - Eu... Eu... - Suspirei, "me rendendo": - Sei como é. Pode confiar em mim.

Maira me encarou com tanta emoção no olhar que qualquer outro que o tivesse visto teria se posto a chorar, com direito até à típica cena melancólica de cair no chão escorregando lentamente pela parede.

O sinal tocou, fazendo-nos despertar, mas, para a minha surpresa, recebi um abraço desesperado, suplicante e apressado. Retribuí o gesto antes que ela corresse para longe, indo embora.

Percebi que o lugar em meu ombro onde Maira repousara o rosto estava levemente úmido quando o corredor começava a ser preenchido por dezenas de alunos.

Ela estava prestes a cair na minha mão e, para que isso ocorresse, eu precisaria dar apenas mais um passo. E foi o que fiz:

Maira foi à festa do Carlos, o menino careca que nos convidou no primeiro dia de aula.

Ela deve conseguir sair mais a noite, afinal neste horário a Mãe Bêbada ainda está jogada pelas ruas.

Pelo menos a coitada dá a si mesma algum momento para esquecer da sua rotina naturalmente desgraçada, pensei.

AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora