Capitulo 1 - Madalena

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8 Anos Atrás

Faltam cinco dias para começarem as aulas...mas este ano, tudo vai ser diferente e novo, talvez até assustador. Porquê? Bem essa é uma história comprida, mas resumindo mudei de cidade. Estão a perguntar-se o porquê do meu drama todo? O drama é que mudei de escola, o que para quem vai entrar na escola secundária é, para não dizer algo muito mas muito dramático, completamente catastrófico...

Isto já para não falar que deixei todos os meus amigos, e o meu namorado, sim tenho um namorado, ou "refraseando" (sim, eu tenho noção que acabei de inventar uma palavra nova, que querem que vos diga tenho uma mente muito imaginativa...) tinha um namorado. Sim tinha, porque ele simplesmente decidiu acabar tudo. Nós tentamos, ou pelo menos eu tentei, no ini­cio ainda correu bem, falávamos todos os dias ora por telefone, ora por mensagens, no Whatsapp, etc. enfim não havia um dia sem que nos falássemos.

Contudo, como nada me acontece de bom neste momento da minha vida, no ini­cio deste mês escreveu-me uma mensagem a dizer que era complicado continuar assim, que era melhor ficarmos só amigos, bla bla, bla bla bla. Ainda tentei falar com ele por telefone, mas não me atendeu às mil e quinhentas chamadas que lhe fiz. Acabou tudo por escrito! Tipo quem é que acaba com outro por escrito!?

Soube uns dias depois pela minha BFF (Best Friend Forever) que ele começou a andar com a Erica, uma semana depois de eu me mudar. Ok, primeiro andou a enganar-me durante semanas, em segundo andou a enganar-me com aquela "cara de pau" da Erica! Que é nada mais nada menos que a minha "arqui-inimiga" desde sempre!

Eu e a Erica conhecemo-nos desde...bem desde sempre. Os nossos pais trabalhavam juntos e as nossas mães acabaram por ficar bastante amigas. Bom, vamos dizer que a amizade não passou de mães para filhas pelo menos para nós as duas. Sempre nos odiamos, (bem odiar é um termo forte, vamos dizer que não nos suportávamos é bem mais simpático, se bem que seja totalmente mentira...).

Vocês sabem a sensação de olhar para alguém e fazer tipo uma faísca e querer que tudo se incendiasse à volta? Aquela sensação de olhar e saber que aquela pessoa não é quem parece ser? Foi mais ou menos isso que nós sentíamos uma pela outra, porque era reci­proco de parte a parte.

Quando fiquei a saber, sofri...chorei rios sozinha no quarto, fiquei magoada com o que ele fez e ainda mais porque não foi capaz de me contar. Foram dois anos de namoro com ele, sei que toda a situação era complicada, mas, não precisava de me magoar assim. Hoje sabendo o que eles aprontam lá em Lisboa foi talvez a melhor coisa que me podia ter acontecido. Cada um vai seguir o seu caminho e ponto final.

Um namoro à distância é algo que precisa de ter muita confiança, e a para dizer a verdade nunca a tive. Nunca iria resultar ele não era daqueles namorados super românticos e clichés, ele gostava de se exibir como o garanhão da escola. Estar com a menina popular, do quadro de honra...para ele era como se fosse o mais cool da escola. E depois, convenhamos ele é super giro e basicamente todas as miúdas da escola "babavam" por ele.

E neste momento, tudo o que eu não preciso é mais drama na minha vida, que já está mais que dramática, dava mesmo para escrever um livro. É sério a minha vida está um verdadeiro caos, desde aquele fatídico dia, ficou virada do avesso. Sabem aquela frase que se usa "dar uma volta de 360 graus", pois a minha vida deu uma volta de 440 graus (se isso for possível...será que é? Não sei, mas juro que deu.).

Há dois meses atrás estávamos a preparar-nos para ir de férias: eu, os meus pais e os meus irmãos. Decidimos ir a Paris, os meus pais adoravam aquela cidade, é daquelas cidades que tem divertimento para todas as idades. E claro que não podia faltar uma ida a Euro Disney, as minhas três irmãs mais novas, nunca iriam perdoar os meus pais se fossemos a Paris de França sem ir àquele lugar mágico.

Na verdade até eu estava entusiasmada, sempre adorei a Disney. A minha princesa preferida é e sempre será a Bela, adoro a história de amor dos dois e adorava encontrar um monstro como o da Bela, porque acima de tudo o amor entre os dois ensina-nos que a beleza não é algo exterior, mas sim interior e que todos nós podemos mudar a nossa forma de ser e de pensar.

No entanto, o impensável aconteceu uns dias antes da nossa partida, e de um dia para o outro vi-me a acordar numa cama que não era a minha, num quarto que não era o meu, e sem perceber o que tinha acontecido. Estava num quarto todo pintado de branco, com fios ligados a mim, e com uma agulha espetada no braço. Passado o momento de pânico por me ver assim, explicaram-me que tinha sofrido um "acidente" e que estava no hospital.

Do "acidente" não me lembro de nada. Falam-me do dito como algo superficial, como se fosse algo que aconteceu e tivesse mudado o rumo de toda a gente, o que na não deixa de ser verdade. Mas é como se tudo fosse por minha culpa, ninguém o afirmava explicitamente, mas pelo menos era o que me parecia. Não sei o que aconteceu durante as 24 horas desse dia, a única coisa que sei é que a minha vida nesse dia mudou para sempre.

Acordei de novo suada e assustada. Sempre o mesmo pesadelo, aquele que me acompanha desde esse dia, até quase já sei o enredo todo de cor. Já fui acompanhada por psicologos, por psiquiatras; já fiz reiki, meditação, yoga...sim já me obrigaram a fazer tudo. Mas de nada vale, porque a verdade é que embora ninguém me acuse, eu sinto que me culpam por algo que eu nem sei o que é. Ouço alguém bater à porta...

- Ei...já estás acordada? Os avós estão a chamar para o pequeno-almoço há mais de meia hora...hoje temos a missa.

- Não percebo porque é que temos que ir, isso não a vai trazer de volta...nem vai...

- Madalena, eu sei que não a vai trazer de volta, mas para os avós é importante...- e nessa altura o meu irmão Pedro tenta abraçar-me mas eu sou mais rápida e antes que ele o faça pulo da cama. Abraços ou toques de mais afectos é algo que deixei de conseguir que tenham comigo...excepto as minhas três pequenas.

- Sai. Tenho que me vestir antes que o avó venha cá, vá sai daqui...

- Tudo bem, a avó pediu que vistas o vestido que te pôs nos pés da cama. Estamos à tua espera lá em baixo.

Olhei para o vestido, a sério que ela me tinha escolhido AQUELE vestido, nem que me obrigassem iria vestir aquilo. As lágrimas teimaram em cair e por muito que não quisesse não as conseguia evitar. Tinha prometido a mim mesma nunca mais chorar mas acho que é mais fácil dizer do que fazer.

Fui ao armário e vesti a primeira coisa que vi. Quando desci o meu irmão olhou para mim tipo "o que raio é que fizeste...", a minha avó simplesmente olhou para mim com um ar triste, as minhas irmãs olharam para mim, depois para o meu avô e de novo para mim quase a rezar para não assistirem à terceira guerra mundial. O meu avô, bem o que dizer apenas que se pudesse deitaria fogo pelos buraquinhos todos para me queimar...

- Madalena Fernandes! Mas que roupa é essa?

- É a minha roupa. O que é que tem?

- Tu não vais assim para a missa, com essa roupa. Sobe e troca-te imediatamente, a tua avó tinha deixado um vestido para vestires...

- Não, aquele vestido não visto, nunca mais...

- Madalena, eu estou a avisar-te. Vai já vestir o que a tua avó te escolheu e acabou-se esta conversa.

- Odeio-vos. Odeio esta casa, odeio esta cidade, odeio a minha vida. Quem me dera ter morrido como a mãe.- E saí­ da cozinha tão depressa como disse todo aquele discurso.

Caminho Incerto (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora