Capitulo 3 - Eu e a Magui

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Estava neste meu "Regresso ao Passado 1" quando o meu telemóvel toca (neste momento tenho a música do Ed Shereen "Photograph", não sei explicar mas é como se estivesse a ter uma conversa com a minha mãe...só eu e ela, sem interrupções...é como se lhe tivesse a dizer que sempre estará comigo).

Quando olho para o visor, dou um sorriso quase que involuntário, mas para quem supostamente está, na missa de mês de falecimento da própria mãe, não deve ser muito bem visto. Sabem que mais, nem quero saber, deslizo o dedo e afastando-me um pouco atendo. Não quero que ninguém ouça as minhas conversas com ela, são nossas e pessoais. Eu conto a Magui tudo, mas mesmo tudo.

- Magui!!! Nem imaginas o que eu daria para estar aí­, tudo isto aqui é horrí­vel...

- Ei! Podes parar já de te lastimar. Pensa antes que podes encontrar aí o teu príncipe encantado no meio desses "sapos" todos. Já que o último afinal saiu-te um príncipe mascarado de sapo.

- Margarida! Só tu para me fazeres rir, mas estou a falar a sério, odeio isto tudo e ainda nem comecei escola.

- A sério. Nós já começamos e tipo olha só a minha sorte: fiquei na turma da Erica e do Ricardo, o Guga ficou noutra. Isso sim é motivo para lamentações...

- Mas podes vê-lo nos intervalos, e ficaste com mais alguém da nossa turma?

- Sim com a Bia e com a Gabi, pelo menos tenho com quem falar.

- Já eu, tenho que passar por toda aquela cena de fazer amigos de novo. Que raiva!

- Mas não estás na mesma escola dos teus primos? A tua prima não anda no mesmo ano?

- Anda. Contudo, bem digamos que, a minha relação com a minha prima Ana é tão má como a minha relação com a Erica.

- Então amiga não vai ser fácil, mas vais ver que tudo vai correr bem, logo vais fazer amigos.

- Não, nada vai ser igual nunca mais. Perdi a minha famí­lia, e tiraram-me o pouco que ainda me restava: a família da minha mãe, de certa forma o Richi e principalmente afastaram-me do Guga e de ti...

- Primeiro Mada estás muito melhor sem aquele "sapo"...

- Nisso tens razão. Livrei- me de boa...- e rio, como já não fazia há muito tempo.

- Depois ninguém me tirou de ti, estamos apenas um pouco mais longe, geograficamente falando. "And don't worry" nunca, nunca te vou abandonar. Vamos ser para todo o sempre as inseparáveis e imparáveis M&M nada e nem ninguém nos vai separar.

- Prometes pelo Guga?- O Guga era o namorado da Magui, e meu amigo (bem era mais que um amigo, era mais como um irmão de mães diferentes). Sempre que tí­nhamos que prometer alguma coisa uma à outra jurávamos pelos nossos namorados, assim tínhamos a certeza que não quebrarí­amos a promessa.

- Prometo pelo Guga. Se bem que, temos que rever toda esta coisa de prometer pelos nossos boys, porque tu já não tens...- e alguém muito sem noção interrompe a conversa, (o melhor momento que tive neste dia...). Viro-me para ver quem é. Claro só podia, o meu querido irmão...

- Madalena estou à tua procura há mais de dez minutos. Anda a missa vai começar.

- Magui tenho que ir, o chato do Pedro está a chamar-me. Falamos mais tarde?

- Sim, claro...se conseguires, vai ao Whatsapp para falarmos, vou dizer ao Guga e podemos falar os três...

- Ok...beijos. Adoro-te Magui...- desliguei o telemóvel...

Quando olho para o meu irmão, está com cara de poucos amigos. É impressionante como ele se parece com o avô Carlos e com o pai quando se zanga, ou está para o fazer, mas nem liguei. Fez-me bem falar com a Magui, só ela me conseguiria tirar deste estado de fúria, de infelicidade e de tédio.

- Para a próxima pelo menos avisa que te vais afastar, o avô está furioso e a avó estava preocupada...

- Como se isso fosse novidade. O avô agora vive zangado comigo, já nem é novidade. Já não aguento mais, ele mudou e foi só comigo.

- Não digas isso, o avô só está preocupado com o pai...

- E eu não estou? E nós não estamos? Ele é nosso pai, a única pessoa que nos resta depois da mãe...

- O pai é filho dele. E nada disso justifica o que fizeste agora, nem o que se passou de manhã. Bolas Madalena...

- Pedro eu não fugi, o que não deixa de ser uma boa ideia, mas mesmo que quisesse não podia. E só vim atender o telemóvel, não quis perturbar ninguém...

- Madalena...

- Madalena o quê? Porque é que não me dão alguma folga? Não sou uma teenager inconsciente como a Luísa, ou uma menininha como a Sofia e muito menos uma "bebé" como a Clara. Tenho quase 15 anos.

Faço anos daqui a dois meses, e seria bestial se estivesse em Lisboa com os meus amigos. Mas não, estou aqui, sem amigos, sem a Nono, sem a minha Tia Marta...sem os meus pais. O que significa que provavelmente vou passar o dia dos meus anos na cama...ou a dormir para que o dia acabe mais depressa.

- Às vezes tenho as minhas dúvidas se não és mais infantil que a Clara. Vamos mas é entrar para a missa que já deve ter começado. Depois podemos falamos disso...

E assim entramos os dois, o Pedro à frente, e eu atrás dele. Nessa altura apercebi-me que os meus avós e as minhas três irmãs estavam sentados nos bancos da frente. Quando digo à frente, quero dizer tipo na primeira fila. A sério era preciso ser mesmo ali à frente do Padre? Que nervos, não se podiam sentar cá atrás e tipo não dar nas vistas?

Quando cheguei o meu avô olhou-me com um ar de quem me quer arrancar alguma coisa, como por exemplo as orelhas de tanto as puxar. O que me vale é o facto de estar na Igreja e no iní­cio da missa, mas não vou safar-me de ter uma "missa cantada" assim que chegar a casa e essa vai ser bem pior.

Enfim acho que vou ter que me habituar, porque desde que vim para Coimbra tudo o que faço o chateia, ou não está de acordo com o que ele acha que deve ser. Antes do acidente não era assim, mas já vos contei certo? Antes éramos inseparáveis, rí­amos das coisas mais idiotas que nos lembrávamos...

Caminho Incerto (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora