Parte 3 - Sadie

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Zia ↑
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Tudo ficou escuro porque Carter foi pego pelo tentáculo horroroso da criatura.

Eu e Zia soltamos um grito de surpresa, quase gritei "Olha, meu irmão vai morrer!", mas achei indiscreto já que a namorada dele estava perto demais. Mesmo sem a varinha ela era perigosa o suficiente para me deixar com medo. Ouvi Carter soltar um grito abafado e começar a se espernear antes do tentáculo recolhê-lo, em uma velocidade lenta comparada ao do garoto Fred. Zia olhou para os lados à procura de algo que pudesse ajudar, então ela parou, puxou meu braço, e aí percebi o porquê da lentidão.
A coisa estava levando outros cinco campistas ao mesmo tempo. Pelo jeito a coisa era bem grande e bem perigosa. Os campistas soltos que viram a cena, ou desmaiaram, ou terminaram de ficar loucos e desesperados.

Zia estava tão horrorizada que eu mesma tive que puxá-la.

— Precisamos seguir Carter! - gritei. Ao ouvir o nome do meu irmão ela pareceu acordar. Ah, o poder do amor, que lindo. "Anúbis, está vendo? Pode ser assim também? Walt?"

Começamos a correr pelo bosque. Gritávamos por Carter, apesar de poucas vezes recebermos algum som como resposta dele. Não deixamos a adrenalina do momento diminuir, quer dizer, a espada estava com ele e nós estávamos desarmadas e sujas, mas e daí? A noite que antes estava marcada por uma temperatura confortável, se transformou em um frio mórbido e terrível. Zia pulava algumas raízes altas, já eu tropeçava nelas; Zia desviava de árvores, eu rezava para Ísis me dar qualquer poder que fosse por pelo menos quinze minutos.
Carter era o único armado e estava sendo levado para longe, como eu ou Zia poderemos lutar contra aquela criatura? Ela me parecia poderosa o suficiente para que com apenas um tentáculo nojento nos matar, mesmo com as chamas que saíam de Zia.

— Sadie - Zia me chamou - Você está pensando no mesmo que eu?

Bufei. — Com toda certeza não! - Zia revirou os olhos, desviando de uma árvore.

— Nossas varinhas. Elas só podem estar com essa coisa!

—Ah, sim!

Ela até que poderia ter razão, por onde mais nossas varinhas poderiam ter ido passear? Um tentáculo daquele tamanho poderia facilmente ter pegado elas. 

Aumentei a velocidade, Carter estava a mais de cinco metros de mim e ele - ou o tentáculo - começava a ganhar velocidade e mais distância, meu irmão estava inerte e sinceramente esperava que ele estivesse guardando adrenalina para a parte mais crítica. Estávamos entrando cada vez mais fundo na escuridão do bosque, as árvores nos engoliam e não ouvia mais do que meu coração e minha respiração. Por estar distraída, bati um lado do corpo em uma árvore e a ofendi de dez maneiras diferentes quando caí, jogando umas maldições para lá e para cá; a nossa única luz e fonte de localização era o que conseguia passar da lua por entre os galhos e as folhas. Em resumo, quase nada.
Zia voltou até mim, perguntando se havia me machucado. O impacto deixou minha cabeça girando.

— Não - joguei um pouco da saliva acumulada, sentindo um pouco de sangue se juntar na minha boca. A dor latejava a parte esquerda do meu corpo, mas precisava continuar. — Vamos.

Aquela coisa era insistente.

Zia teve a brilhante ideia de jogar pedras no tentáculo, já que fogo e floresta não são palavras que gostam de ficarem juntas, porém isso apenas serviu para nos atrasar; Carter ainda estava sendo pendurado pela cabeça. Ah, cara, se ele morrer Bast vai me deixar em um castigo eterno durante toda a minha vida, e quando eu morrer meus pais vão me deixar de castigo de novo durante toda a eternidade.

De repente Carter me alivia quando começa a investidas contra o tentáculo que o segurava, ele socava e erguia as pernas em uma tentativa engraçada de chute, e não adiantou nem um pouco. O rosto de Zia se iluminou com a consciência do meu irmão.

—Carter! Carter está me ouvindo?! - ela o chamava, tive que me segurar para não olhar e dizer "você acha que ele está te ouvindo?", mas Carter fez um desesperado positivo com a mão, mirando para algum lugar a sua esquerda. Seja lá como meu irmão está ouvindo, ele não tem uma noção de onde estamos. —Jogue sua espada para trás, estamos aqui!

Em vez de fazer o que Zia disse, Carter, o irmão-mais-idiota-do-mundo e que gosta de se fazer de herói, a fincou com toda a sua força por baixo do tentáculo. Ele foi jogado no chão, tossindo e recuperando o ar. Eu poderia dizer que ele tinha ficado roxo, se conseguisse ver além de uma palma de distância. Fiquei aliviada por não ter escoriações tão profundas, tio Amós iria preferir acreditar que eu que tentei mata-lo ao invés de acreditar no ataque dos tentáculos.

O rosto de Carter estava cheio de suor - eu encostei sem querer -, talvez ele tenha feito aquele movimento por puro reflexo, por não aguentar mais ficar sem ar. Só sei que Zia estava com uma cara mais antissocial do que o esperado pelo salvamento do namorado.

— A coisa está indo embora - ela anunciou, acusando indiretamente Carter pela sua atitude — Como vamos saber para onde ela foi?

Assim que meu irmão recuperou o ar, ele deu uma risada fraca. Era só o que me faltava, ele tinha uma ideia, e pelo jeito das boas.

— Estamos há dez dias em um acampamento nos ensinando a como sobreviver em uma floresta se estivermos perdidos - ele deu mais um tempo para respirar, e ainda sorria de um jeito exibido. — A resposta é simples: vamos sobreviver nesta floresta. 

Mitos são ReaisOnde histórias criam vida. Descubra agora