mesmo com medo e o coração aos pulos, estava preparada pra contar para minha mãe o que se passava dentro de mim há tantos anos.
pensei por alguns instantes em algum modo pra dizer isso a ela.
como uma luz, uma idéia surgiu na minha cabeça: "vou fazer uma carta". peguei papel e caneta na mochila do meu irmão e tentei de todas as maneiras desabafar naquele carta tudo que me torturou durante tanto tempo.
com as mãos trêmulas de nervoso, pedi perdão por não ser a filha que ela esperasse que eu fosse e pedir para que ela me entendesse.
com lágrimas no rosto decidir entregar nas mãos dela, porém meu medo naquele momento não iria permitir.minha mãe estava no banheiro e resolvi aproveitar essa oportunidade e deixei a carta em cima da mesa da cozinha e sai em silêncio.
não conseguia parar de tremer, minhas mãos estavam soando frio, o medo naquele momento tomou conta do meu corpo, o coração disparado: "meu deus! como será a reação dela?".
meu medo foi tão grande que não conseguia parar de chorar!
voltei para a cozinha e percebi que ela já não estava mais no banheiro, meu coração estava saindo pela boca! foi então que olhei para mesa e percebi que a carta ainda estava ali, do mesmo modo que eu a coloquei e respirei fundo.
"eu não posso! eu não quero que ela se envergonhe de mim! não iria aguentar o desprezo dela. meu Deus, o que eu faço?".peguei a carta e rasguei, naquele momento escutei uma voz vinda da sala, era minha mãe me chamando.
ela estava na sala sentada com a minha cachorrinha do lado, assistindo uma novela.cheguei em passos lentos, não sabia o que dizer. mas não conseguiria olhar para ela, pois parecia que estava mentindo para quem me colocou no mundo e isso me torturava.
- minha filha! senta aqui! porque vc está chorando tanto?
eu abaixei a cabeça e respondi baixinho:
- mãe preciso te falar uma coisa mas estou com medo.
ela me puxou para o sofá e pegou minhas mãos, levantou minha cabeça e disse:
- fala aline! mas eu sei o que é!
e não precisei ler a carta que eu vi em cima da mesa, eu sei que foi você que a colocou lá, não foi?antes mesmo que eu falasse algo, ela continuou...
- olha aline eu só quero te dizer uma coisa e quero que vc escute com atenção.
eu sei disso há muito tempo e você é, e sempre sera minha filha. independente da pessoa que você tenha do seu lado, eu quero que você seja feliz! eu te amo entendeu?.Nesse momento já não conseguia segurar as lágrimas, eu desabei.
ela me abraçou e continuou baixinho.- chega de sofrer aline.
todo o peso sumiu naquele momento. me senti uma nova pessoa, mais segura, mais decidida.
afinal, eu sempre tive minha mãe do meu lado, ela sempre me aceitou e só eu não sabia disso.no dia seguinte eu liguei para uma amiga minha e disse:
- Japa vamos no cabeleireiro, preciso cortar meu cabelo.
ela mesmo sem entender nada, foi comigo.
quando chegamos não pude deixar de notar seu espanto ao ver o corte que eu escolhi. sim, era um moicano.Japa mesmo sem entender nada tentou agir naturalmente, mas quando viu meu cabelo todo indo para o chão não aguentou e começou a chorar e a me perguntar o porque daquilo tudo. mas não respondi e continuei em silencio.
minha felicidade estava completa! finalmente conseguiria ser feliz.
eu realizei um sonho naquele momento. Eu sabia que precisava me libertar de tudo aquilo que não era eu, precisava me aceitar de todas as maneiras possíveis para ser feliz. FIM!
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O sonho de ser livre
No Ficción"O sonho de ser livre" conta a história real de uma garotinha chamada Aline, de 7 anos idade que se depara em um mundo totalmente diferente do que estava acostumada e começa uma batalha interna para se aceitar homossexual. 📖