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Luisa, Edmund e eu decidimos que eu assumiria o lugar do meu pai na seguradora na semana seguinte.

Quando amanheceu o dia, eu estava deitada na minha cama e não tinha pregado o olho. Antes de o relógio marcar seis da manhã, eu já estava correndo na esteira.
Depois de tomar um banho e me arrumar, Lui, o motorista me levou até o prédio da Amazing.
Apesar do nome relativamente delicado, Lui era um brutamontes. Estava conosco há alguns anos. Alto, careca, musculoso e até com uma cicatriz no supercílio. Sempre bem barbeado e de terno, nunca se atrasava. Lui cumpria a função de motorista e guarda-costas.

- Bom dia senhorita Gun. - abriu a porta do SUV preto blindado que sempre usava para me levar para todos os lugares
- Bom dia Lui. Tudo bem?
- Tudo, como sempre.

Quando cheguei na Amazing, lembrei que eu não entrava no prédio há anos. O enorme edifício de vidro de 32 andares era um pouco aterrorizante para mim. A recepção era enorme, e mulheres impecavelmente vestidas desfilavam, assim como homens em termos caros usando seus aparelhos de última geração.
O elevador me levou diretamente até a cobertura, que era onde ficava o escritório do meu pai e também do sócio dele, que eu não conhecia.

Uma mulher oriental com os cabelos presos em um rabo de cavalo, um tubinho preto e scarpins estava sentada atrás do balcão de madeira clara e vidro espelhado na frente. Um grande lustre de cristal ficava no centro da sala, em baixo dele uma mesa de centro retangular espelhada, e seis poltronas de cor clara e design moderno estavam enfileiradas. Três de cada lado, em cima do enorme e super fofo tapete cinza retangular. Do outro lado, e de frente para o balcão, duas portas.

- Eu sou... - comecei
- Naomi. Eu sei. Sou Kim, cuido dos compromissos do Sr Gavin e cuidava dos do seu pai também. Por favor, aceite minhas condolências.
- Obrigada.
- O escritório do seu pai é o da esquerda. Daqui a vinte minutos a reunião do Sr Faircross termina e ele vai encontrar a senhorita.
- Ok. Obrigada.

A sala do meu pai estava totalmente livre dos itens pessoais dele. Coisa que pedi para Luisa fazer, pois não queria chorar assim que entrasse ali. Então uma estante grande estava do lado direito, com vários livros. A mesa escura, a cadeira alta de couro, duas poltronas de frente, um tapete e do lado direito um sofá e uma pequena mesa de seis lugares. Tinha ainda uma pequena porta que imaginei ser o banheiro.

O computador exibia na tela o nome da empresa. Me sentei na cadeira e fiquei observando a cidade através da janela, totalmente perdida em pensamentos, imaginando meu pai ali.

Fui arrancada dos meus pensamentos por um barulho leve de um pigarro. Me virei na cadeira e encontrei à minha frente um homem.
Muito alto, em um terno elegante, gravata azul clara. Seus olhos eram verdes claros, o maxilar perfeito e quadrado, as sobrancelhas lhe davam um olhar sério. A barba rala, mas bem feita, e cabelos escuros impecavelmente penteados para trás.
- Naomi?
- Sim. - consegui dizer, perdida naquele homem lindo.
- Sou Gavin Faircross, sócio do seu pai.
- Você é o sócio? - arqueei uma sobrancelha - Eu esperava alguém mais...
- Velho? - sugeriu
- Isso. Você não é um pouco jovem para ser sócio da maior seguradora do país?
- Sou. Assim como você é minha sócia super jovem a partir de agora. Pronta para começar? Tenho dez minutos antes da próxima reunião.
- Claro.
- Ótimo. Kim vai trazer algumas pastas com tudo o que você precisa saber. Qualquer dúvida pode me procurar. Aqui está o meu número. - entregou um cartão e saiu.

Kim entrou em seguida, com umas dez pastas enormes cheias de coisas para eu ler.
- O que é isso? - perguntei
- O Sr Faircross acha importante que você conheça melhor a empresa.
- Ele espera que eu leia isso tudo?
- Acredito que sim.
- Tá bom. - dei risada. Inacreditável. - Pode ir.

Peguei meu celular na mesma hora e mandei uma mensagem.
"Sério? Você espera que eu leia tudo isso? Acha que eu tenho treze anos e preciso fazer a lição de casa?"
"Na verdade, estou temendo o fato de alguém formada em gastronomia vá ficar à frente da maior seguradora do país. Isso aqui não é uma cozinha, então acho bom a senhorita fazer a sua lição de casa. Como eu disse, qualquer coisa (importante) pode me chamar."
- Mas que idiota! - soltei alto demais
" Seria muita gentileza sua, Sr medrosinho, conversar comigo sobre a empresa ou mandar alguém competente fazer isto. Eu me recuso a ler isso aqui."
" Como quiser. Jantar hoje às 20:30"
" Eu não vou sair com você."
" Então nunca vai ser capaz de trabalhar aqui"
" Certo. Você sabe aonde eu moro."
" Não vou te buscar. Isso não é um encontro. 20:30 no Per Se."
" :) "
" :) ?"
" Estarei lá."
" :) "

Exatamente às 20:30, eu entrei no Per Se. Um dos restaurantes mais caros de Nova York.
- A senhorita fez reservas? - um funcionário com um terno barato me abordou
- Estou esperando por Gavin Faircross.
- Ele está a sua espera.

- Pela sua cara, não leu uma página se quer. - direto ao ponto.
- Não, não li.
- Bom, então eu vou te explicar. A Amazing é dividida  duas partes: os seguros e a recuperação de bens. Podem ser perdidos, roubados, qualquer coisa. A recuperação de bens era a tarefa do seu pai. Ele tinha uma equipe enorme, nós temos várias listas de bens a serem recuperados. É basicamente um trabalho investigativo. A minha parte é a dos seguros em geral: de vida, imóveis, carros, todos os tipos de bens.
- Entendi. E eu vou assumir a parte dele.
- Exatamente. Para entender direito como as coisas funcionam, eu recomendo que você fique em campo um tempo. Ou seja: que você trabalhe com recuperação de bens por um período e aí você vai saber melhor como comandar as equipes.
- E como eu começo a fazer isso?
- Você sabe atirar?
- O que? Claro que não!
Paramos de falar alguns segundos, enquanto o garçom trazia os nossos pratos e enchia nossas taças com vinho.
- Acho bom você aprender.
- Eu vou ter que atirar em alguém?
- Talvez. Como eu disse, são bens valiosos e às vezes acontece de as pessoas estarem armadas.
- Ok...
- Nosso quarto andar é um estande de tiros. Pode ir lá amanhã, e então daremos entrada nos documentos para você poder andar armada legalmente.
- Quais os tipos de bens que recuperamos?
- Obras de arte ou joias muito caras. Coisas de altíssimo valor. Claro que antes de começarmos a busca, precisamos que o cliente em questão nos prove que realmente é o dono legal da peça. Então pegamos de volta.
- Entendi.

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