FIVE

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NAFRE ON

    Estou em meu quarto quando decido descer. Encontro Gahi sentada à mesa comendo algo, e parece que estamos sozinhas em casa.

– Eu não vou machucar você, Nafre. Eu não conseguiria. -diz ela, naquele tom calmo de sempre.

    Respiro fundo e me aproximo, sentando em sua frente. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ela puxa assunto.

– A garota que estudou com você. Dona deste corpo. Está bem longe. -diz ela, e sinto meus olhos se arregalarem. – Eu sou um demônio feminino maníaco, descontrolado por sexo. Você deve ter notado. -assinto.

– O que houve com a alma dela? -pergunto.

– Reencarnou em um bebê. Ela vai ter uma vida boa e comum em algum lugar, não se preocupe. -ela revira os olhos. – Mas, eu odeio ser assim. Lucifer me envia para a terra sempre, e eu sempre tenho de ficar presa no corpo de um humano. -ela parece muito irritada.

– Não pode ter asas? -pergunto.

– Não. Eu sou apenas um demônio preso nas necessidades e limitações de um humano. -ela suspira. – E não, sei no que você está pensando, e não. Eu não consigo sair deste corpo e entrar em outro.

– Como você se liberta? Como volta para o Inferno? -pergunto. Estou extraindo todas as informações necessárias.

– Só quando este corpo for morto. -ela suspira, parecendo incomodada. – Mas isso não torna a morte menos dolorosa.

– Não sei se devo confiar em você. -observo, sendo bastante sincera.

– Você não gosta de mim porque é possessiva demais, Nafre. Eu sei que a garota que ocupava este corpo dava em cima do seu pai e do seu amado, isso já não é novidade para mim. -ela revira os olhos.

– Como você sabe? -pergunto, um pouco surpresa.

– Lucifer me contou tudo sobre a vida da garota antes que eu pudesse assumir o corpo dela. Eu tenho que saber. -ela respira fundo. – Eu sou um demônio sexual, não controlo os meus instintos quando estou a fim de fazer algo com alguém.

– Isso parece bem chato. -observo.

– É péssimo. -ela se recosta na cadeira. – Mas a única coisa que eu quero agora, é voltar para a minha casa. -ela respira fundo.

– Entendi. -faço uma pausa. – Você falou sobre o meu amado. -miro seus olhos por um tempo, decidindo se devo ou não falar.

– Fiquei sabendo que você gosta do garoto que tem uma espécie de maldição envolvendo sua mãe. Não entendi direito essa história. -acho que ela já sabe.

– É. -suspiro, torcendo meus dedos em meu colo pelo nervosismo. – Não sei o que fazer. Eu... acho estranho amá-lo sabendo que ele ama minha mãe.

– Ele não ama a sua mãe. -ela deixa claro, erguendo as sobrancelhas. – A maldição faz ele achar isso, mas assim que a maldição for quebrada, vai ser como se ela nunca tivesse importado para ele.

– Por que está me dizendo essas coisas? -pergunto, desconfiada.

– Eu gosto de você. -ela sorri docemente. Por um instante, esqueço que ela é um demônio sexual. – E também, Lucifer não pode controlar o que sai da minha boca. Eu posso dizer o que quiser. Eu costumo falar o que eu penso.

– Obrigada. -seguro ambas suas mãos sob a mesa, e ela me olha com os olhos brevemente arregalados. Presumo que não esteja acostumada com gestos assim. – Eu realmente vou pensar nas coisas que você me disse, obrigada. -repito, e ela sorri. Tive a impressão de ter visto seus olhos marejarem, mas não tenho certeza.

    Levanto-me e ando de volta ao meu quarto, até que sou pega de surpresa por uma transe forte.

– Ai! -reclamo ao cair ajoelhada em um solo áspero. O local está muito iluminado, e sinto que estou em uma praia.

– Nafre Gray. -é uma voz grave, mas suave. E o cheiro não é de podre, como costuma ser Lucifer. É um cheio de rosas misturado com água do mar. É algo bom e calmo.

– Sim? -respondo.

– Sua mãe está muito ferida. -anuncia, e eu fico sem reação, até meus olhos marejarem. – Mas ela não aceitaria morrer agora. Lucifer não tem controle sob tudo, e eu decido quem morre e quem continua vivo. E a hora de Jheny não é agora.

– Por quê? -decido perguntar.

– Ela tem muitas coisas para adquirir ainda, Nafre. E eu vou ajudar a família de vocês. -ele diz, e por algum motivo, estou chorando. Emocionada, acho.

– Por que você vai nos ajudar? -pergunto, soluçando. – Nossa família é cheia de demônios e pecadores. Pessoas que abominam o senhor. Por que você nos ajudaria? -solto um riso entre os soluços, sem entender.

– Acima de tudo, vocês são uma família com muito amor entre vocês mesmos. -a voz parece sorrir. – Eu admiro o amor, e amo meus filhos por mais que eles não me amem de volta.

Apóio minhas mãos na areia, chorando como um bebê. Um choro que parece sufocar.

– Eu quero lhe fazer um pedido. -digo, antes que ele diga algo.

– Pode fazer. -sua voz é suave e acolhedora.

– Você não precisa nos ajudar. Eu só quero que a maldição que envolve Jungkook e minha mãe, acabe. -peço com dificuldade, engasgando com os soluços. – Por favor.

– Você merece o amor. -ele diz, explicando calmamente. Continuo com meu rosto próximo da areia, completamente entregue à Deus. – E um pedido tão puro, merece atenção.

THE WRONG ANGEL » myg {3ª temporada}Onde histórias criam vida. Descubra agora