THIRTY FOUR

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JHENY ON

Entro na cozinha e meu olhar se cruza rapidamente com o de Taehyung, mas ele desvia. É bom que esteja envergonhado.

– Hoje é o aniversário de dezesseis anos de Nafre. -relembra Jin, e meu coração aperta.

Olho de soslaio para YoonGi, que está de cabeça baixa. Volto meu olhar para Jin, e suspiro.

– O que você quer que eu faça? -pergunto, irritada. – Pare de lembrar disso, Jin, é doloroso.

– Eu sei, eu sei. -ele ergue as mãos na altura do peito, em sinal de paz. – Eu só quis avisar.

– Não precisa fazer tudo o que quer. Eu não queria saber. -dou as costas e saio da cozinha.

Abro minhas asas sem me importar com ninguém e vôo rumo à cabana. Sinto falta de lá, já faz quinze anos. Deixo o vento cortar em minhas asas enquanto aumento a velocidade.
Gosto de pensar no lago em frente à cabana, me deixa tranquila.

MARTHA ON

Eu queria conseguir entender o porquê de Jheny ficar tão abalada, mas não faço a mínima ideia, pois não tenho filhos.
Eu gostaria de ter.

– Desculpem. -Jin murmura. – Não imaginei que ela teria tal reação, atrapalhei o café. Eu sinto muito. -sua cabeça está baixa, e Namjoon o abraça de lado.

– Eu gostaria de pegar a dor de Jheny e implantar no meu coração. -digo, e todos me encaram, surpresos. – Ela não merece sofrer desse jeito.

– Não sinta pena dela. -YoonGi bate com as duas mãos na mesa, levantando-se bruscamente e fazendo a cadeira em que estava, cair. – Ela não gosta. -ele sai da cozinha, deixando o clima ainda mais pesado.

– Você tem um coração ótimo, Martha. -diz Namjoon, em tom suave. – Sei que a sua amizade por Jheny é forte e verdadeira. Mas, não pense muito nisso. Foque na sua nova vida. -ele sorri, e eu retribuo, um pouco nervosa.

YOONGI ON

Primeiro: o aniversário de Nafre, e agora o sumiço de Jheny. Ela pode ter ido para qualquer lugar, mas ambas as coisas me deixam frustrado.
Abro minhas asas e vôo para a cabana. Gosto de pensar quando estou lá. Sozinho. Talvez eu consiga descobrir onde ela está, afinal, aquela cabana atrai os transes.

———¥———

Pouso em frente à varanda, no mesmo lugar em que pousei quando retornei do Everest. Jheny não estava aqui, porque estava me procurando. Sorrio com a lembrança, mas fico sério quando percebo que agora ela não está aqui, e não está me procurando.
Respiro fundo, giro a chave na porta e adentro a casa. Cheiro de madeira velha. Senti falta disso.

Não há luz e nem água, mas nossos móveis ainda estão intactos. As paredes cobertas de mofo, a tevê cheia de pó, assim como todos os móveis. Há um pouco de comida bastante vencida, e isso me lembra de todas as vezes que Jin cozinhou.
Foram dias animados.

Subo para o segundo andar e quando meu pé toca o último degrau, lembro-me de quando reencontrei a Jheny após voltarmos do vulcão onde os renegados fizeram o que fizeram. Ela recém havia acordado, mas estava tão linda. Estava feliz.
Passo delicadamente meus dedos pelo corrimão, seguindo para onde ficava meu quarto.

Ah, este quarto. Aproximo-me da cama e toco os lençóis velhos e já rasgados. Jheny dormiu nessa cama por oito anos, sem contar todas as noites agitadas que tivemos aqui, são difíceis de esquecer e impossíveis de ignorar quando vêm em mente.

Quando transamos pela segunda vez, lembro-me de que quase destruímos a cabana. De repente, percebo que esta é a casa de madeira mais forte que já vi na minha existência.
Sorrio com meu pensamento, e entro no banheiro. Ao encarar o box, meus olhos se enchem de lágrimas.

Dei o primeiro banho de Nafre bem aqui. Sorrio ao lembrar do desespero de Jin quando eu quase a afoguei. Foi uma época especial.
Lembro-me também das mãos de Jheny apoiadas nos azulejos. Sua respiração entrecortada e seu corpo encharcado roçando contra o meu.

Ah, porra!
São lembranças boas, e isso as faz doer mais.

– Gosto daqui também. -a voz dela soa por trás de mim, me fazendo enegrecer os olhos e saltar por instinto.

Miro seu rosto e volto ao normal ao reconhecê-la. Ela está sorrindo docemente, com o ombro escorado na parede e os braços cruzados. Os olhos analisando cada parte do banheiro, na medida em que suas lembranças a invadem.

– Foram dias felizes. -acrescenta ela, virando seu olhar marejado para mim.

Não sei como reagir. Pela primeira vez em décadas, estou em estado de choque diante de Jheny. Não que isso já não tenha acontecido antes, mas fazia muito tempo.

– Eu gostava deste quarto. -ela se desencosta da parede, dando um passo para trás e encarando a cama, ainda com os braços cruzados.

Ando em passos lentos até parar em seu lado. Respiro fundo, se eu não disser isso agora, posso estar perdendo a minha última oportunidade.

– Podemos voltar? -pergunto.

THE WRONG ANGEL » myg {3ª temporada}Onde histórias criam vida. Descubra agora