"ANNA"

19 2 16
                                        

Residência dos Meryphen, 19 de Abril de 1987

A menina de cabelos cor de mel abriu os olhos sonolenta. Sua pele pálida além do normal deixava a mostra as manchas roxas que se espalhavam por seu corpinho magro.

A camisola lhe era tão grande que cobria as pontas dos pés. A menina se levantou com o urso de pelúcia que sempre a acompanhava em seus sonos, e seguiu até a porta.

Procurou o pai com expectativa, caminhou descalça por toda a casa. Não hesitou ao abrir a porta que rapidamente trouxe a névoa gélida da manhã sem sol.

Não era mais de 5:30 da manhã,  quando a garotinha cruzou a porta com pés descalços e camisola suja. Agarrou o bichinho de pelúcia pela pata, esticou os braços e andou entre as flores cristalizadas pelo frio da noite. Andava como se o chão não existisse e a qualquer minuto cairia de sua corda banba imaginária.

Cantarolava um lá lá lá com uma mistura de alegria e temerosidade. Talvez o pai tivesse saído para trabalhar, quem sabe não chegará a lhe dar ouvidos na noite anterior.

Quando foi se aproximando devagar da árvore que insista em dizer ser de sua mãe, se sentiu extremamente feliz. Saltitou de alegria e correu ao encontro dos pais.

O pai estava lá, ao lado da mãe. Como a menina dizia "flutuava como um anjo", sua cabeça estava agora coberta por um tecido negro, seus pés não encostavam no chão.

A menina agarrou as pernas de ambos e escutou as gargalhadas calorosas dos pais. Logo ali perto o cachorro jazia morto, a água do lago havia apodrecido, mas a menina não notará e talvez nunca o notaria.

Sentando em uma pedra ao lado dos pais, a menina assistiu ao pôr do sol feliz, pois finalmente todos estariam juntos. Enquanto isso, Anabete se via acomodada na cama da menina, a espera de terminar o que começou.

E eu, Benet, ficarei ao lado dela. E talvez algum dia ela perceba. Mas enquanto isso esperarei até a possessão...

Não me deixe ouvirOnde histórias criam vida. Descubra agora