Capítulo 4

373 22 3
                                    

Melinda

Um passo após o outro.

Eu tinha apenas que continuar caminhando. Ignorando meus joelhos trêmulos e meu coração ameaçando explodir de dor. Assim como o odioso nó na minha garganta.

Por favor, por favor. Que ninguém me veja agora, rezava a cada passo, até me ver finalmente trancada no lavabo luxuoso dos Waldorf.

Apoiei minhas mãos trêmulas no mármore da pia e respirei profundamente várias vezes. Até ser capaz de olhar meu reflexo no espelho.

E mais do que nunca eu me senti uma fraude.

Será possível se arrepender uma vida inteira de apenas um ato impensado?

Quantas vezes eu quis voltar no tempo?

Era impossível. Tudo tinha mudado irreversivelmente.

E eu ainda me sentindo a salvo do passado. Se não podia ser mudado, podia pelo menos ficar guardado, bem no fundo das minhas memórias. Embora este esquecimento fosse apenas uma ilusão.

Do que adiantava me enganar? Eu me lembrava todos os dias.

E agora ele me alcançava. E como é que eu poderia fugir?

Não havia conseguido fugir naquela noite, e a verdade fria dentro de mim dizia que não poderia agora.

Se ao menos eu nunca tivesse ido naquele lugar...

Fechei os olhos novamente, voltando para mais de um ano atrás...


O Clube

Olhei a chuva que caía incessantemente fazia dias pela janela, absorvendo as palavras absurdas de Jaxon.

– Melinda, por favor!

Eu me virei, o encarando.

– Não tem a menor possibilidade de eu fazer isto.

– Sharon adoeceu.

– Acha mesmo que eu me pareço com Sharon? - Eu tive que rir. Sharon e eu não tínhamos nada em comum. Apenas dividíamos o mesmo apartamento em Nova York, enquanto fazíamos faculdade juntas.

– Eles não fazem a menor ideia de como Sharon é.

– Não, nem pensar.

– Você disse que queria um estágio.

– Eu quero ser jornalista e não uma prostituta! Está maluco se acha que vou entrar neste lugar e... fazer sexo com estranhos!

Jaxon riu, passando a mão pelos cabelos loiros. Era fácil perceber o que Sharon via nele. E porque fazia tudo o que ele pedia. Jaxon estava no último ano de jornalismo, ao contrário de mim e de Sharon que estávamos no segundo ano.

– Não tem nada a ver com prostituição, da onde tirou isto?

– Ah não? Sharon me contou que você conseguiu colocar o nome dela na lista de garotas contratadas para ir numa festa de ricaços.

– Claro que consegui. Eu tenho um conhecido que me deve uns favores nesta agência. Mas ela entraria lá apenas para fazer a matéria. Apenas circular, fazer perguntas... e dar o fora.

– E ser apalpada e sei lá mais o que por aqueles caras cheios da grana!

– Qual o problema? Não estou dizendo que vai ter que trepar com alguns deles, apenas fazê-los abrir o bico.

Eu suspirei cansadamente.

– Jaxon, olha pra mim, acha mesmo que eu sou a pessoa certa pra fazer este tipo de coisa?

A Verdade Oculta - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora