LET ME LOVE YOU

D e z e m b r o | I c e C r e a m

Pela manhã Ken teve a impressão de ter sido atropelada por um trem. Estava enjoada, indisposta à ficar de pé, mas precisava fazer as malas, ela voltava ainda hoje para Nova York. Precisava de remédios para dor de cabeça e enjoo, a bebida em excesso lhe trazia vagas lembranças sobre a festa — inclusive sobre o pau de seu ex namorado ter ido parar na boca "aveludada" de sua prima. Ela sentiu aquele mesmo nó se formar em sua garganta e se forçou a engolir o choro parecendo haver um bloco de concreto alojado em sua garganta. O gosto ruim de tudo o que bebeu deixava viva a lembrança do reencontro nada legal com Christian, de toda cerveja, de todo drink com vodca e uísque. Ah, droga! Ela nunca mais colocaria uma gota de álcool na boca. Maldita ressaca. Maldito ato impulsivo.

Virou-se de barriga para cima e olhou para o lado. O quarto estava escuro pelas cortinas fechadas, mas conseguia ver Théo deitado ao seu lado com os olhos bem abertos. Ele a olhava com seriedade. Nem um mísero sorrisinho estampava o rosto tão bonito do amigo. "Bom dia, little bee." Finalmente um sorriso.

"Bom dia, grandão", ela disse baixo. O som própria voz a deixava irritada. Ela se aproximou de Théo e deitou a cabeça em seu peito desnudo.

"Ressaca?"

"Daquela bem filha da puta." Ela estreitou os olhos pela dor aguda na cabeça. "Me desculpa, eu sei que dei trabalho."

"Eu tive que te trazer para minha casa, sua mãe teria um treco se te visse daquele estado", Ken botou as duas mãos sobre o rosto gemendo em reprovação, "Aliás, não são nem meio dia e aquele tal de Kellan já te ligou no mínimo umas cinco vezes. Acho que ele quer te convidar para almoçar com ele." Théo apertou a morena mais contra si e beijou seus cabelos.

Kellan...

Sem sombra de dúvidas foi o melhor amasso que já deu em toda sua vida — até agora. Lembrar da forma como foi tocada, beijada, de como seu corpo correspondia à qualquer estímulo dele fez com que diversos calafrios percorrerem sua espinha provocando uma sensação estranha, porém muito bem vinda. Kendra abriu os olhos e se afastou do peitoral bem definido procurando pelo celular na mesinha ao lado da cama. Abriu a conversa com Kellan no mesmo instante em que ele ficou on-line e começou a digitar.

Kellan estava sendo um pouco apressado. Desesperado até, para ver a morena que fez seu coração palpitar de uma maneira descomunal. Ele podia jurar que sentiu as malditas borboletas em seu estômago, mas ainda não tinha noção do estrago que Kendra Davenport tinha feito nele em apenas uma noite — e eles ainda nem tinham transado. Kellan nunca havia se apaixonado, então para ele tudo isso era muito confuso. Como assim ele estava de quatro por uma menina? Se contasse aos amigos provavelmente ninguém acreditaria, e ainda ririam da cara dele. Ele já havia tentando a coisa toda de namorar e tal mas não deu certo. Kellan tinha dito para si mesmo que essa vida amarrada não era bem à praia dele, e agora lá ele estava. Chamando uma garota que conhecera na festa da noite anterior para almoçarem juntos. Um tanto piegas, não? Porra! Ele havia pensado nela durante as poucas horas de sono que tivera, havia ficado preocupado quando viu Théo passando com a morena quase desacordada em seus braços, até pensou em ir atrás, mas não queria parecer nenhum maníaco apesar de ser exatamente o que estava parecendo agora.

A resposta dela veio de imediato junto com uma carinha feliz. O coração de Kellan quase saiu pelo seu peito naquele momento, eles se encontrariam no Grill em menos de uma hora.

Kendra por outro lado não estava muito animada para sair, lutava contra os olhos pesados e sua cabeça parecia querer explodir a qualquer minuto. Ela tomou coragem, pôs os pés para fora da cama e sentiu tudo rodopiar ao seu redor. Caminhou até o banheiro e parou em frente ao enorme espelho fixado à parede do lado da porta.