02. The Enraged Nurse

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Em quatro anos de serviço Mathilda nunca havia negado uma ordem ou fugido do trabalho, mas pensava seriamente se duraria aquelas duas horas que faltavam.

O Northwestern Memorial estava especialmente agitado aquele dia, por isso sua chefe a pediu para ficar mais um turno além do seu, graças a uma enfermeira que havia faltado. Estava trabalhando a mais de vinte horas direto e a fome a estava deixando mais mau humorada que o normal.

Quase se jogou de joelhos no chão quando finalmente deu o horário de seu intervalo e foi até a sala de descanso tentar enganar o estômago com um pão e tentar fechar os olhos por pelo menos quarenta minutos.

Geralmente plantões extensos assim a desgastavam de uma maneira que era visível a qualquer um, por isso nem se deu ao trabalho de levar um susto ao ver seu reflexo no espelho do banheiro após sua soneca. A pele pálida contrastando com as olheiras abaixo de seus olhos cinza e os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo torto e esfiapado a deixavam com uma aparência de morta viva. Jogou uma água fria na esperança de tentar parecer melhor e tentou refazer o penteado, que só deixou de parecer esfiapado, mas continuou torto no alto da cabeça.

— Você consegue. — sussurrou para seu reflexo tentando soar firme — Só mais duas horas e então você pode voltar pra dentro do seu caixão, Drácula. — fez um sinal de positivo com o dedo em uma animação que não lhe cabia, então respirou fundo antes de seguir para fora e retomar seu turno.

Ao chegar ao balcão do pronto atendimento, onde as enfermeiras pegavam os relatórios e faziam medicação, foi recebida pelo olhar de puro tédio de Vivian, sua amiga e colega de profissão.

— O paciente no leito seis está chamando novamente. Já fui umas dez vezes lá, examinei tudo que ele diz estar sentindo e ele está bem, doutor Reid já disse que é uma crise de ansiedade, mas ele continua chamando e chamando. — disse rolando os olhos cansados, ela não precisou dizer mais nada, Tillie apenas pegou a prancheta de suas mãos e lhe deu um beijinho no alto da cabeça antes de seguir até onde o paciente se encontrava.

Era um espaço pequeno contornado por uma cortina verde e grossa, no qual só cabia uma cama e a mesa para eventuais curativos ou a bandeja de alimentação. O rapaz moreno estava em pé no meio do cubículo, a mão sobre o peito e a respiração irregular, seus olhos se arregalaram quando viu a figura esguia de Tillie entrar.

— Eu estou tendo um ataque cardíaco, meu coração vai explodir! — ele disse entre as arfadas de ar que lhe escapavam e suas mãos agarram a lapela do uniforme azul que a enfermeira usava — Eu não consigo respirar!

Mathilda não parecia afetada pela cena, se limitou a dar um falso sorriso calmo para ele e deixar sua prancheta sobre o leito e com as mãos livres se desfez do aperto em sua roupa.

— Vamos nos sentar e então eu vou te examinar. — disse empurrando com delicadeza ele de volta para a cama, porém o mesmo estapeou seu braço e tentou se afastar.

— Não, você não entende! Eu estou morrendo, não posso sentar. — ele encostou-se à mesinha, resvalando na bandeja com o que deveria ser o café da tarde que haviam deixado para ele.

— Tudo bem, podemos fazer isso em pé então. Posso pegar sua mão?

Ele a olhou desconfiado, mas acabou entregando a mão contragosto. Do bolso do uniforme ela tirou o aparelho que parecia um grande prendedor de roupas e o prendeu brevemente no dedo indicador do rapaz. Dois apitos depois e ela sorriu para ele tirando o aparelho e lhe mostrou os números na pequena tela.

— Está vendo? O senhor está conseguindo respirar muito bem, tem bastante oxigênio no sangue. — ele lhe devolveu um olhar descrente — Não acredita em mim, tudo bem. Coloque a mão sobre o peito. — o rapaz obedeceu e logo ela mandou-o puxar o ar bem fundo e soltar — Sentiu como sua mão sobe e desce com seu peito? Isso é porque o ar está entrando perfeitamente. Disso o senhor não vai morrer. Agora, qual a outra reclamação?

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