Chandler, AZ - 23 de julho de 1994
Mathilda estava tão animada com toda a premissa da comemoração de seu aniversário logo após a aula que mal conseguiu se concentrar em suas tarefinhas de primário.
Sua mãe havia prometido que a levaria ao McDonald's junto com seu pai para comemorarem seus seis aninhos, então era de enorme compreensão que estivesse tão ansiosa, afinal nunca havia ido ao McDonald's ou passado muito tempo com seu pai.
Ewan, mais conhecido pela loirinha como papai, passava muito tempo fora e quando estava em casa sempre era muito barulhento e falava palavras feias que mamãe a proibia de repetir. Quando ele ficava barulhento demais sua mãe ligava a tv do quarto no volume mais alto e a trancava para dentro. Podia ouvir o som das coisas quebrando por sobre o som do aparelho, mas sabia que quando tudo se acalmasse mamãe voltaria e deitaria ao seu lado por toda noite.
Não compreendia porque mamãe sempre chorava e a apertava tanto depois que papai fazia barulho, só sabia que depois que ele fazia isso demorava a voltar pra casa outra vez.
Eram quase quatro e meia da tarde e Tillie ainda esperava sua mãe sentada nos degraus da entrada do colégio ao lado da diretora. Todos seus amigos já haviam ido embora a tempos, então restava a enfadada senhora Madden escutar toda sua euforia sobre a ida ao McDonald's.
Reconheceu o velho carro azul de sua avó virando a esquina e ficou em pé em um pulo, se despedindo rapidamente da diretora e correndo a calçada até onde o carro pararia.
Tão logo ele parou a porta foi escancarada e vovó surgiu ao volante lhe parecendo um tanto murcha.
— Vovó! — Tillie a cumprimentou animada, se jogando para dentro do carro e fazendo seu melhor para se livrar da mochila antes de fechar a porta e atacar um beijo no rosto da senhora. — Cadê a mamãe?
Vovó deu um suspiro antes de dar a ignição e seguir em direção a sua casa.
— Mamãe não vem hoje, meu amor. — respondeu batendo as unhas curtas contra o volante, parecendo nervosa.
— Nem o papai? — Tillie se sentiu murchar também. Havia esperado o dia todo para comemorarem seu aniversário e agora a largaram com a vovó Penny.
— Nem o papai, florzinha. — lhe ofereceu um sorriso triste antes de voltar a encarar a rua vazia a sua frente — Mas a vovó fez um bolo e chamou a Tess para vocês assistirem filme no meu quarto, que tal?
— A mamãe prometeu que ia me levar com o papai no McDonald's. — rebateu rabugenta encarando a avó.
Vovó Penny fungou e Tillie percebeu ela apertando firme contra o volante. Era uma criança esperta, reconhecia quando a manha venceria alguma coisa e no momento não era o caso.
— Eu sei que sua mãe prometeu, meu amor, mas agora ela está... Ocupada. E seu pai também. Mas a Tess está te esperando lá em casa e amanhã nós três podemos ir juntas nessa lanchonete.
Mathilda não pareceu convencida, mas também não se opôs. Comeu muito bolo com refri, uma taça de sorvete e assistiu a fita VHS de A Bela e a Fera que tinha ganhado de presente com Teresa, a filha da vizinha de sua avó, que por acaso também era sua amiga. Não fez mais perguntas sobre a mãe até a hora que Penny a mandou para cama, chorou no colo da avó porque nem mamãe e nem papai passaram seu aniversário com ela.
Sua mãe só apareceu dois dias depois com o lado direito do rosto tão cheio de hematomas que seu olho mal podia ficar aberto e o braço engessado. Abraçou a filha tão forte que a pequena ficou quase sem ar.
Depois desse dia passaram a morar com Penny e Ewan sumiu em algum lugar do mundo, não dando mais notícias.
Até completar dez anos Tillie chorava toda vez que via alguma imagem do Ronald McDonald o culpando por o pai ter a abandonado.
Chicago, IL - 25 de março de 1996
Tinha, no mínimo, duzentas pessoas no salão de festas infantis mais badalado de Chicago, todos reunidos para prestigiar os seis anos de Annabeth Quinn, a filha mais nova do então prefeito da cidade. A decoração temática de Alice no País das Maravilhas estava impecavelmente espalhada por todos os lados, assim como os inúmeros animadores de festa brincando com as crianças enquanto os adultos tomavam seus coquetéis e conversavam sobre banalidades.
Anna estava bicuda dentro de seu vestidinho azul de Alice, observava a distância seus amiguinhos e outras crianças que nunca havia visto na vida correndo e gritando pelo salão. Tudo que ela havia pedido para sua mãe era que o gato de Cheshire estivesse ali, pois de todo o filme era o único personagem que realmente gostava.
— Princesa, vamos brincar com as outras crianças. — sua mãe disse ao se ajoelhar ao seu lado, passando a mão por seus cabelos carinhosamente.
Anna virou o rosto para o outro lado ainda mais bicuda, cruzou os bracinhos em sua melhor pose de irritação.
Sua mãe estava preocupada com ela enfurnada no canto da festa sem interagir com as outras crianças. Tinha medo que a pequena estivesse assim pois seu pai não poderia chegar a tempo para a festa devido a uma viagem de emergência que teve que fazer.
— Você está triste porque o papai não está aqui, princesa? Daqui a pouco ele vai chegar, não precisa ficar assim. — arriscou tentando virar a filha, mas a mesma só bufou em irritação, rolando os olhinhos azuis para a mãe.
— Você prometeu que o gato de Cheshire estaria aqui, mamãe.
Diana abriu e fechou a boca sem saber o que responder. Não havia conseguido ninguém com a fantasia e esperava que Annabeth não notasse a ausência do único personagem que estava faltando.
— Eu odeio essa festa estúpida. — gritou encarando a mãe com sua maior cara de nojo — Eu odeio você e todo mundo que está aqui. Papai arrumaria o gato para mim.
— A mamãe vai consertar tudo, princesa. — Diana disse rapidamente ficando em pé tentando abafar o escândalo da menor, olhando ao redor procurando por uma solução — Se você ficar quietinha a mamãe vai comprar o que você quiser de presente.
Anna levantou a sobrancelha desconfiada, mas resolveu testar até onde iria a vontade da mãe de fazê-la se animar.
— O que eu quiser? — perguntou, tendo como resposta um aceno positivo da mãe. Pensou por curtos dois segundos antes de disparar novamente — Eu quero um pônei.
Diana respirou fundo e concordou brevemente e esticou a mão para a menor a chamando para o meio da festa novamente.
— Amanhã seu pônei estará lá em casa, princesa.
A loirinha aceitou a mão que a mãe ofereceu e a seguiu contragosto ainda que toda orgulhosa de sua nova aquisição. Avisou todas as amiguinhas que teria seu tão sonhado cavalinho, esquecendo rapidamente de sua birra por causa do gato.
Na manhã seguinte um pônei malhado estava em seu quintal trotando graciosamente e Annabeth começou a perceber que podia tirar o que quisesse das pessoas se jogasse direito com elas.
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Agridoce
Chick-LitConheça Annabeth Quinn, a filha mais nova de Warren Quinn, governador de Illinois. Conhecida por todos em Chicago por ter um temperamento difícil e uma personalidade não muito agradável, o que a fez ganhar a fama de cretina esnobe e manipuladora. ...