03. Dead 2 Me

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O quarto que lhe havia sido ofertado não correspondia o mínimo de seus padrões de qualidade. Era pequeno, com piso de carpet, as janelas cobertas com cortinas finas cor de pêssego, uma cama de casal - que nem de longe era uma Hästens - com uma colcha fofa alaranjada por cima, ao seu lado um criado mudo com um abajur e uma cômoda cor de caramelo sustentava uma televisão de modelo antigo próximo a janela. As únicas coisas para qual Annabeth não torceu o nariz foi o enorme espelho em uma das paredes do quarto, todo emoldurado em material prateado, e o cabideiro vazio ao seu lado.

Eram nove da noite, Trish e Declan já haviam ido embora e Ben a estava ajudando a se instalar no quarto que ficaria pelos próximos cinco dias. Ele esticou lençóis limpos e trouxe uma coberta, mostrou onde era o banheiro e lhe emprestou uma toalha para tomar banho. Antes de a deixar sozinha avisou que se precisasse de alguma coisa poderia bater na porta ao lado, desejou boa noite e se foi.

Pela primeira vez desde que havia se enfiado naquele elevador pode ficar sozinha e a falta de gente ao redor lhe distraindo atingiu-a de forma brusca. Jogou sua bolsa de viagens da Louis Vuitton sobre a cama para encontrar o pijama e todos os produtos de beleza que usava para seu ritual antes de dormir. Havia preparado a mala com intenção de usá-la em Paris, mas ela serviria para alguns dias no centro também.

Com alguma dificuldade se desfez do vestido o colocando cuidadosamente pendurado no cabideiro para então se enrolar em seu robe. Pegou sua nécessaire e celular para sentar-se no chão em frente ao espelho observar todo o delineador e rímel escorridos em suas maçãs do rosto, todo o contorno e iluminação estragados por lágrimas de mentira.

Embebeu uma bola de algodão com o demaquilante e se pôs a retirar toda a produção. Tinha terminado um olho quando seu celular se iluminou com a foto de Milo, seu noivo abandonado, avisando que ele estava ligando. Congelou com a mão que segurava o algodão no ar, a respiração trancada com algum medo que ele pudesse ouvi-la ignorando sua chamada. Tão logo ele desistiu e desligou a tela inicial de Anna apareceu inundada de notificações diversas.

A loira soltou a respiração e colocou a bolota em sua coxa para poder pegar o aparelho e ver todas com cuidado.

"Princesa, onde você está?", era a primeira das vinte mensagens de sua mãe; "Annabeth isso foi baixo até mesmo para uma vaca como você", era a de sua cunhada, Lavinia; "Apareça para se explicar pelo menos", sua sogra tinha mais tato nas relações interpessoais do que a filha, aparentemente; "O que aconteceu? Eu preciso entender, Annabeth. Volte, por favor.", era a de Milo o que a fez apertar os lábios em desgosto por não ler nenhuma súplica mais elaborada. Então veio a de seu pai, tão afiada e certeira como uma lâmina: "Você morreu pra mim".

Annabeth apenas rolou os olhos, seu pai sempre fazia o mesmo drama quando as coisas não saiam como ele queria. Warren ficaria vermelho de raiva, esmurraria uma mesa algumas vezes, gritaria na cara de quem fosse, faria as piores ameaças e quando estivesse mais calmo fingiria que nada havia acontecido.

Podia até imaginar Diana saltitando ao redor do marido tentando acalmá-lo, tentando segurar suas mãos em vão, só para vê-lo repeli-la repetidas vezes até estarem a sós na limusine no caminho de volta para casa e ele jogar toda a culpa em suas costas, por ser a pior mãe do mundo, criando os filhos mimados e caprichosos deles.

A loira não sentiu o arrependimento de ter largado Milo bater, seguia firme de que não queria ser outra Diana e nem iria.

Respondeu apenas a mensagem da mãe, avisando que estava bem, protegida, mas que ainda ficaria alguns dias fora. Largou o celular no chão novamente e retornou a missão de retirar toda sua maquiagem absorta em pensamentos. Uma vez terminado ela pegou seu pijama e toalha seguindo para onde Ben havia dito ser o banheiro, tudo o que precisava no momento era de um banho bem quente e vinte horas de sono ininterruptas.

AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora