Capítulo três

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Fazem cerca de quatro dias desde que iniciamos nossa estadia convivendo junto com um grupo, uma idéia que até pouco tempo eu achava quase impossível. Felizmente, a convivência com o restante do grupo é agradável.

Vivemos em uma rua sem saída. No final dela, existe um prédio de sete andares que tem os fundos fechado com uma cerca e pilhas de caixas de papelão. Era um hotel, mas a maioria do grupo não dorme lá por medo de uma invasão.

Ao lado do prédio, uma casa grande e velha, que é usada como dormitório de algumas pessoas.

Em frente, um mercado pequeno com um estacionamento ao lado, lugar onde ficam Poçante e mais dois trailers, dois carros e um ônibus escolar. No mesmo estacionamento, existiu uma pequena base militar, com barracas, tendas médicas e armas.

Em frente ao mercado, um bar sujo e velho têm feito as últimas quatro noites do meu avô, as melhores noites apocalípticas da vida dele. Eu fico feliz que ele esteja se divertindo, mas preocupada ao mesmo tempo.

— Hailey, quer jogar comigo? — Igor perguntou erguendo as cartas de uno.

Igor e eu matamos a maioria do tempo jogando uno ou jogando forca no estacionamento. O irmão dele anda me evitando, mas não desgruda do meu avô. Esquisito.

— Claro.

Jogamos três partidas de uno, antes de Igor levantar a bandeira branca (uma toalha de rosto encardida) pedindo para que eu pare de usar +2 e +4. Entre gargalhadas, eu aceitei seus suplícios de união.

De noite, peço para ficar de vigia, mas dizem que sou muito inexperiente na arte de atirar. Adoraria treinar, porém não podemos gastar munição atoa. Nada me resta além de jantar e depois dormir.

Vovó tornou-se cozinheira do abrigo. Digamos que ela sabe aproveitar de tudo, fazendo a comida render sem perder o gosto. Essa noite, ela fez uma sopa de legumes com peixe. Ela pisca o olho direito e dispõe duas conchas de sopa no meu prato. É estranho, mas alimenta, fora que o peixe está gostoso, apesar de não combinar com a sopa. Ou você acha que é fácil alimentar trinta pessoas com sopa num apocalipse zumbi?

Depois que peguei a sopa e antes de sentar perto da fogueira com todo mundo, uma tosse seca quase me fez derrubar o prato. Esse "quase" foi graças a Noah.

Noah aparenta ter no máximo 17 anos. É um garoto alto é o que tem de altura ele tem de timidez. Segundo Igor, ele chegou no abrigo sozinho depois de perder a família. Nem meu amigo conseguiu conversar tanto com Noah, já que sua bolha de isolamento invisível não permite.

— Obrigado. — eu agradeci.

Ele apenas se virou e foi jantar em sua barraca.

Parei para analisar se o isolamento é mais seguro do que ter um grupo nessa nova vida. Seria mais fácil viver sozinho, evitando qualquer conflito?

Impossível.

Fui sentar ao lado do meu avô em frente a fogueira. Acredito que a meteorologista do jornal diria que os termômetros estariam marcando cinco ou seis graus. Meu moletom parece inútil, sinto tudo congelando por fora, mas por dentro minha blusa e o moletom estão encharcados, a vontade agora é de deitar na fogueira e dormir.

— Tudo bem com você? — meu avô perguntou notando o tom arroxeado das minhas unhas.

— Só estou com um pouco de frio. — eu disse obviamente mentindo.

Ele rapidamente colocou as mãos no meu rosto e pescoço, medindo minha temperatura.

— Voltaremos para o trailer, você ta estranha.

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