Capítulo quatro

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Igor havia marcado mais dois dias naquele calendário. Eu conto as horas para sair dessa cama.

— Que tal outra partida?

— Definitivamente não! — falei um pouco brava por conta do tédio.

— E se... — Igor tentou sugerir algo, mas acabou cedendo ao tédio. — deixa.

O dia quente não colaborava. O sol de fritar ovo não nos deixava raciocinar. Estou suando de febre e calor.

— Já sei, vou trazer algo que você vai gostar. — Igor falou enquanto descia dos caixotes empilhados. — Espera aí.

Continuei a fitar meu tênis encardido de terra e percebi que algumas coisas não mudam, como a minha preguiça de limpá-lo. Levantei determinada, peguei o sabão no armário e catei uma escovinha pequena não sei de quê.

— Hailey! — o grito de Stacy ecoou pelo trailer.

Não, não, não. Não.

Não é real, Stacy está morta.

— Olha o que você fez, Hailey. — ela disse enquanto eu olhava ao redor do Poçante para encontrá-la.

Ela estava de pé na entrada do trailer, completamente ensanguentada. Os cabelos molhados de sangue, a roupa retalhada e sua carne também.

— Eu não pude fazer nada... — proferi enquanto soluçava.

Stacy avançou um passo.

— Eu pensei que fossemos amigas...

— Éramos irmãs! — eu rebati.

Ela começou a avançar mais, cada passo dado é um sinal de que isso não vai acabar bem.

— Que tipo de irmã deixa a outra ser devorada viva? — ela gritou literalmente na minha cara.

— Eu não queria...

— Você me deixou para morrer, é o pior ser humano do mundo! — cada palavra é uma facada no meu coração.

Soluço feito uma criança mimada. Realmente é verdade, eu sou um monstro.

A mão encharcada de Stacy segurou cuidadosamente a faca de ponta do meu avô. Varri o local com o olhar, procurando algo que pudesse me defender sem machucar Stacy.

Na mesinha do Poçante encontro uma tábua daquelas de madeira, usada para cortar carne. Bem, é um pouco pesada e talvez faça um galo feio caso seja utilizada para golpear a cabeça de alguém.

— Você não merece viver.

Assim que minha amiga tomou impulso para o ataque, agarrei firme seu pulso esquerdo fazendo a faca cair no chão.

— Hailey! — uma voz masculina gritou.

Era Noah.

Espera...

Noah?!

Apertando o pulso do Noah, eu ridiculamente perguntei:

— Você não é a Stacy?

— Quem? — ele fez uma careta juntando as sobrancelhas.

Eu soltei seu pulso ainda perdida. Aquilo não poderia ser só uma alucinação, não podia. Era real demais.

— Me desculpa.

Levei minhas mãos à cabeça, tomada por um bilhão de pensamentos ao mesmo tempo. Não era a primeira vez, mas com certeza foi a pior. Eu tenho consciência de que Stacy está morta e mesmo assim, aquilo me derrubou. Me destruiu.

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2017 ⏰

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