Igor havia marcado mais dois dias naquele calendário. Eu conto as horas para sair dessa cama.
— Que tal outra partida?
— Definitivamente não! — falei um pouco brava por conta do tédio.
— E se... — Igor tentou sugerir algo, mas acabou cedendo ao tédio. — deixa.
O dia quente não colaborava. O sol de fritar ovo não nos deixava raciocinar. Estou suando de febre e calor.
— Já sei, vou trazer algo que você vai gostar. — Igor falou enquanto descia dos caixotes empilhados. — Espera aí.
Continuei a fitar meu tênis encardido de terra e percebi que algumas coisas não mudam, como a minha preguiça de limpá-lo. Levantei determinada, peguei o sabão no armário e catei uma escovinha pequena não sei de quê.
— Hailey! — o grito de Stacy ecoou pelo trailer.
Não, não, não. Não.
Não é real, Stacy está morta.
— Olha o que você fez, Hailey. — ela disse enquanto eu olhava ao redor do Poçante para encontrá-la.
Ela estava de pé na entrada do trailer, completamente ensanguentada. Os cabelos molhados de sangue, a roupa retalhada e sua carne também.
— Eu não pude fazer nada... — proferi enquanto soluçava.
Stacy avançou um passo.
— Eu pensei que fossemos amigas...
— Éramos irmãs! — eu rebati.
Ela começou a avançar mais, cada passo dado é um sinal de que isso não vai acabar bem.
— Que tipo de irmã deixa a outra ser devorada viva? — ela gritou literalmente na minha cara.
— Eu não queria...
— Você me deixou para morrer, é o pior ser humano do mundo! — cada palavra é uma facada no meu coração.
Soluço feito uma criança mimada. Realmente é verdade, eu sou um monstro.
A mão encharcada de Stacy segurou cuidadosamente a faca de ponta do meu avô. Varri o local com o olhar, procurando algo que pudesse me defender sem machucar Stacy.
Na mesinha do Poçante encontro uma tábua daquelas de madeira, usada para cortar carne. Bem, é um pouco pesada e talvez faça um galo feio caso seja utilizada para golpear a cabeça de alguém.
— Você não merece viver.
Assim que minha amiga tomou impulso para o ataque, agarrei firme seu pulso esquerdo fazendo a faca cair no chão.
— Hailey! — uma voz masculina gritou.
Era Noah.
Espera...
Noah?!
Apertando o pulso do Noah, eu ridiculamente perguntei:
— Você não é a Stacy?
— Quem? — ele fez uma careta juntando as sobrancelhas.
Eu soltei seu pulso ainda perdida. Aquilo não poderia ser só uma alucinação, não podia. Era real demais.
— Me desculpa.
Levei minhas mãos à cabeça, tomada por um bilhão de pensamentos ao mesmo tempo. Não era a primeira vez, mas com certeza foi a pior. Eu tenho consciência de que Stacy está morta e mesmo assim, aquilo me derrubou. Me destruiu.
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Just Survive
ActionHailey é uma adolescente comum de quinze que vivia com seus avós paternos em Austell no estado da Georgia. Ela teve sua vida interrompida, quando um pandemonio dominou o mundo. O Apocalipse Zumbi. Agora, lhe restam apenas histórias, memórias do que...